O padre Antonio Alves de Almeida, 67 anos, foi encontrado morto, com as mãos e o pescoço amarrados, sinais de apedrejamento e diversas facadas pelo corpo, em sua própria casa, localizada na Rua Heitor Dias, na Boca do Rio. Atualmente, o religioso atuava como capelão no Cemitério Bosque da Paz. Embora o corpo do padre Almeida, como era conhecido, só tenha sido encontrado na noite de quarta-feira (10), a estimativa da polícia é que ele tenha sido assassinado na madrugada da terça para a quarta-feira, ou na manhã da própria quarta.
“Um inquilino do padre estranhou por que ele não respondia aos chamados e acionou a polícia. Uma das nossas equipes foi até o local e, quando entrou na casa, encontrou o corpo dele”, explicou o delegado Marcelo Sansão, da Delegacia de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP). Ainda segundo o delegado, o padre usava camisa e bermuda quando foi localizado. Ele morava no segundo andar da casa, que tinha três pavimentos. Os outros dois, o padre alugava. O dinheiro desses aluguéis, segundo Sansão, ele remetia para os irmãos, que moram em Pernambuco. A casa tinha objetos revirados, louças sujas na pia, uma faca de serra sobre a cama e um tijolo. O padre, que morava sozinho, foi golpeado com o tijolo e com a faca. O delegado Sansão não soube precisar quantas facadas foram desferidas, mas ressaltou que foram “muitas”. O padre teve apenas um celular e as chaves do carro roubados. A polícia, porém, ainda não tem suspeitos. “É muito cedo para determinar o que pode ter acontecido, estamos fazendo as investigações e, pelos resultados e pelos depoimentos colhidos, acreditamos que esclareceremos em breve o caso”, completou. Na quinta-feira (12) à tarde, três pessoas foram ouvidas pelo delegado, que continuará a ouvir vizinhos e amigos da vítima, hoje. Segundo Sansão, o assassino pode ser alguém do ciclo de amizades do religioso. “Pelas evidências do crime, imaginamos que o crime tenha sido praticado por uma pessoa conhecida, pois não há sinais de arrombamento no imóvel nem de que ele teria reagido. Os vizinhos também não ouviram nenhum barulho estranho”, disse o delegado.
Padre Almeida foi visto pela última vez, na terça-feira pela manhã, por um vizinho, que o viu chegar com um homem que prestava serviços de reforma para o religioso. Visitas Pessoas próximas ao religioso contaram que, ocasionalmente, o padre recebia visitas em casa para jogar pingue-pongue. As visitas não eram vistas com bons olhos pelo afilhado, o comerciante Mardosn Souza Almeida, 31, temia que algo acontecesse, já que o padre já havia sofrido uma tentativa de assalto “há alguns anos” e também acabou amarrado e trancado dentro do banheiro. “Pediam para ele entregar dinheiro, mas ele disse que não tinha. Três ou quatro bateram nele”, contou Mardson. "Eu sempre falava para ele não levar essas pessoas que ele não conhecia para dentro de casa. Porque, às vezes, ele só conhecia um deles, que levavam outros amigos. Mas ele não me ouvia”, contou o afilhado. Vaticano Além de atuar com capelão no Cemitério Bosque da Paz, padre Almeida também fazia celebrações em outras igrejas. A última foi no dia 2 de junho, na Comunidade Santo Antônio, da Paróquia Nossa Senhora da Esperança, no Stiep. Lá, ele fez a reza da Trezena de Santo Antônio. “A homilia dele foi linda, falando sobre o crescimento da espiritualidade e a importância de levarmos a fé para fora da Igreja”, contou Jerusa da Silva Lopes, que faz parte da Pastoral do Dízimo. Segundo a Arquidiocese, o sacerdote foi ordenado em 30 de novembro de 1975. Em seu Facebook, mantinha uma foto em que aparece junto com o Papa João Paulo II. Em nota, o arcebispo de Salvador e primaz do Brasil, Dom Murilo Krieger, lamentou a morte. A missa de sepultamento será na Matriz da Paróquia de São Francisco de Assis, na Boca do Rio, amanhã, às 10h30. Após a celebração, seu corpo será levado para a cidade de Lajedo (PE), onde moram seus familiares. Há oito meses, padre Francisco foi assassinado em Stella Maris Há oito meses, outro padre de Salvador foi assassinado de forma violenta. O padre Francisco Carlos de Souza, capelão do Santuário Mãe Rainha Três Vezes Admirável de Schoenstatt, no bairro do Stiep. Ele foi assassinado com golpes de um chuço (arma branca improvisada) no dia 7 de outubro de 2014, na Alameda Praia do Flamengo, em Stella Maris. Com um vergalhão de ferro, o padre foi golpeado 17 vezes. Seu corpo foi encontrado atrás do Hotel Catussaba, próximo ao Centro de Formação de Líderes da Igreja Católica. Dias depois, Robson de Souza Oliveira, conhecido como Tito, 26 anos, e André Ferreira do Amaral, o Andrezinho, 28, foram presos e admitiram ter matado o padre por interrupção de uma mesada que era concedida a um deles. Na época, a polícia não esclareceu qual relação havia entre os acusados e o padre. A morte do padre causou comoção nas paróquias soteropolitanas, e o trauma ainda persiste para a comunidade católica. Jerusa da Silva Lopes, que faz parte da Comunidade Santo Antônio, da Paróquia Nossa Senhora da Esperança, no Stiep, diz que ainda chora ao lembrar do padre. Ontem, ao saber da morte do padre Antonio Alves de Almeida, ficou ainda mais chocada. “É o segundo padre que nós perdemos dessa forma brutal. Primeiro, foi o padre Francisco; agora, foi o padre Almeida. Eu ainda estou me tremendo, estou em estado de choque com tudo isso”, contou Jerusa.
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