A receita do concreto é simples: cimento, gravilhão, areia e água. O pedreiro Edson Amorim, 54 anos, explica que o trabalho também não é complicado: “Primeiro nivela com a ripa. Aí é só aplicar o concreto”. Se tudo é tão fácil, por que o serviço não foi feito antes? Edson foi contratado semana passada pelo Sindicato dos Comerciários de Salvador para pavimentar o ponto de ônibus da frente do Shopping Paralela, sentido Rodoviária. Cansado de esperar pela prefeitura, o sindicato decidiu resolver o problema. “Já caí duas vezes aqui, quando chove fica uma lameira”, conta a vendedora Áurea Andrade, 33, vítima do ponto que até semana passada não tinha calçamento. Sindicalizada, Áurea ficou de olho na obra. “Tem que fiscalizar, saber para onde vai o dinheiro da gente”, afirma. No entanto, quando o assunto são os impostos, tudo muda: “É difícil saber como é gasto o dinheiro”, diz Áurea. Segundo o presidente do sindicato, Jailson Dourado, a pavimentação custou cerca de R$ 2 mil, retirados das anuidades. “Não é caro. Já enviamos à Setin duas solicitações de pavimentação e não tivemos resposta”, reclama. Procurada, a Secretaria Municipal de Transporte e Infraestrutura (Setin) não conseguiu confirmar o recebimento dos pedidos, mas informou que eles são repassados à Transalvador. O CORREIO tentou contato com o órgão durante toda a quinta-feira, mas não obteve resposta. Já a assessoria da Superintendência de Conservação e Obras Públicas (Sucop), responsável pela pavimentação das ruas e passeios públicos, informou que uma equipe vai averiguar se o passeio está uma área da prefeitura. O dia da visita não foi informado. PaisagismoEntretanto, nem só de concreto vive quem não espera as coisas acontecerem. Um exemplo é o Projeto Canteiros Coletivos. “A ideia surgiu em um fórum na internet sobre os problemas da cidade. Levantei essa bola com uma amiga, um daqueles pensamentos solitários que a gente tem”, conta a jornalista Débora Didonê. De amigo em amigo, virtuais ou não, em fevereiro deste ano um grupo de 25 pessoas passou a cuidar do “canteiro piloto”, na avenida Reitor Miguel Calmon - Vale do Canela. Ali, o espaço é limpo, recebe plantio e jardinagem. A iniciativa já chegou a mais três canteiros, entre eles o do Solar Boa Vista, em Brotas, e o do Gantois, na Federação. “Procuramos parcerias com instituições que reúnam moradores para fazer a manutenção”, explica Débora. No dia 15, será inaugurado um canteiro em Valéria, feito junto com a ONG Estrela da Paz. IdeiasNo dia 22, Débora fará uma palestra sobre o Canteiros Criativos na segunda edição do TEDx Pelourinho, evento organizado nos moldes da Conferência TED, que ocorre há 24 anos na Califórnia e reúne ativistas do mundo todo para divulgar “ideias que merecem ser espalhadas”. Uma ideia que merece ser espalhada é a da professora de História Adriana Dumas, que cuida da Praça Pau Brasil, na rua Frederico Edelweiss, Rio Vermelho. “Gosto da energia da praça, já vivi bons momentos sozinha ou com amigos”.
Quando ficou desempregada, encontrou tempo para cuidar do seu “cantinho”. Nisso, se deparava com um problema constante. “Os donos de cães me davam trabalho. Já ouvi como argumento pra não limparem que cocô de cachorro serve de adubo”. Adriana sabe que o trabalho tem que ser contínuo. “Quando você vê, já sujaram de novo”. Durante todo o ano passado, quando atuou mais frequentemente na praça, ouviu perguntas sobre o motivo de sua dedicação. Mesmo sabendo dos deveres do poder público, ela respondia: “Eu sou o poder público também”.
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