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SALVADOR

Polícia Civil acusa 23 PMs pelo desaparecimento de Davi Fiúza

DHPP conclui que PMs mataram e ocultaram corpo de adolescente, que foi levado pelo grupo em São Cristóvão

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20/04/2016 às 8:20 • Atualizada em 30/08/2022 às 10:51 - há XX semanas
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Quase um ano e meio depois do desaparecimento de Davi Santos Fiúza, 16 anos, no bairro de São Cristóvão, 23 policiais militares foram indiciados pelo assassinato do jovem, além dos crimes de ocultação de cadáver e formação de quadrilha.
A informação é do advogado da família de Davi, Paulo Kleber Carneiro Carvalho Filho, segundo o qual a investigação, comandada pelo Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), aponta que 19 dos indiciados eram alunos do curso de formação da PM. Eles faziam uma operação final para obtenção do diploma de soldado, na manhã de 24 de outubro de 2014, quando, segundo o inquérito, abordaram o garoto na Rua São Jorge e o raptaram. Segundo o advogado, o inquérito aponta que os alunos eram supervisionados por quatro PMs da 49ª Companhia Independente de Polícia Militar (CIPM/São Cristóvão), com patentes como tenente, sargento e cabo.

Rute Fiúza, mãe de Davi, com cartaz do filho: chegou a ser ameaçada
(Foto: Almiro Lopes/Arquivo CORREIO)

A investigação concluiu que os acusados estavam em guarnições da 49ª CIPM e que os equipamentos de GPS e rádios comunicadores estavam desligados no dia da operação. “Ainda não há informações sobre o paradeiro do corpo”, lembrou o advogado, que conversou com o responsável pelas investigações, o delegado Reinaldo Mangabeira. “Ele disse que finalizou o inquérito na sexta-feira e que ia encaminhar o documento ao MPE”, contou. Até o fechamento da edição, a assessoria do MPE, órgão ao qual caberá fazer ou não a denúncia à Justiça, não havia confirmado se o documento havia sido recebido.
Procurado pelo CORREIO, o delegado Mangabeira, titular da 3ª Delegacia de Homicídios (DH/BTS), confirmou que encerrou a investigação. “Sim, já concluí, mas todas as informações serão passadas pela assessoria de comunicação”, disse. Já a assessoria da Polícia Civil informou apenas que o inquérito está em “fase de conclusão” nas mãos do delegado José Bezerra, diretor do DHPP.
IncursãoConforme o inquérito, as guarnições chegaram à Rua São Jorge por volta das 5h45. “Eram umas oito viaturas com os alunos a soldado e os policiais à paisana que coordenavam a ação. Os alunos foram ao local fazer incursões. Faltava isso para pegarem o diploma”, contou Paulo Kléber.
A última ‘prova’ consistia, além das incursões, na condução de pessoas envolvidas com o crime. “Um dos policiais instrutores falava que os alunos teriam que trazer um adolescente chamado Ícaro, que teria envolvimento”, citou.
AbordagemEntão, os alunos iniciaram as ações de campo. Divididos em grupos, abordavam moradores. “Invadiram casas também, segundo testemunhas”, comentou Paulo Kléber.
Devido à atividade, moradores ficaram assustados. Algumas pessoas correram para suas casas. Já Davi teria saído para ir à casa da namorada, foi para uma rua sem asfalto, onde encontrou com um morador – ele então teria parado perto de uma guarnição com quatro alunos da PM, entre eles, uma mulher.
Segundo Paulo Kléber, Davi conversava com o morador quando foi abordado e jogado na mala de um carro. “Ele perguntou ao morador: ‘O que está acontecendo?’. O morador respondeu: ‘É uma ação policial’. E David questionou: ‘Estão tentando prender quem?’. Foi nesse momento em que foi agarrado pelos quatro alunos, levado na viatura e nunca mais foi visto”, diz o advogado.
Outro ladoOntem, o atual comandante da 49ª CIPM, major Jailson Damasceno, que só assumiu o posto em fevereiro deste ano, declarou não ter recebido nenhum comunicado oficial sobre a finalização do inquérito. “Estou sabendo por você. A partir do inquérito oficial, poderemos, talvez, fazer algum comentário”, disse.
Ele, entretanto, comentou o fato dos GPS e rádios estarem desligados. “Obviamente, não é comum. O rádio e o GPS têm que ficar ligados. Mas uma coisa é estar desligado, outra é não ter sinal. É como celular: em algumas áreas pode não ter sinal”, comentou Damasceno. O CORREIO enviou um e-mail com pedido de informações à assessoria da Polícia Militar, que informou que o encaminharia à Corregedoria da PM. Na Corregedoria, ninguém foi encontrado para falar. Família levou caso à Anistia Internacional e à ONU | por Thiago Freire A mãe de Davi, a dona de casa Rute Fiúza, denunciou as circunstâncias suspeitas do desaparecimento de seu filho desde o início, questionando a Polícia Militar. “Eu fico indignada como é que se leva quase um mês para saber quem estava no plantão no dia que levaram o meu Davi. A PM tem câmera, GPS e ainda se comunicam por rádio. Tem algo muito estranho no meio disso tudo”, declarou, na época. Pouco mais de um mês após o desaparecimento de Davi, Rute pediu o apoio da Anistia Internacional, ONG de defesa dos direitos humanos. No dia 4 de dezembro de 2014, a dona de casa foi até a sede nacional da organização, localizada no Rio de Janeiro, acompanhada de outros familiares de desaparecidos baianos. A AI pediu providências do governo da Bahia em relação ao desaparecimento de Davi e uma “investigação célere, meticulosa e independente” sobre o que aconteceu com o adolescente. Além disso, a AI pediu investigação das ameaças feitas à mãe do adolescente, além de proteção para ela e para as testemunhas do caso. A ONG também ajudou a família a levar o caso ao conhecimento das Organizações das Nações Unidas (ONU), que possui um grupo de trabalho sobre desaparecidos. Rute Fiúza afirma que sofreu retaliações por conta de sua luta para desvendar o desaparecimento de seu filho. Na época, ela disse receber, em seu celular, mensagens que continham imagens de mulheres assassinadas e uma legenda com a frase “é isso que fazemos com mulheres fortes”.
Correio24horas

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