O pequeno Nelson ainda nem nasceu e já come azeite de dendê. Esta semana, recebeu caruru, vatapá, farofa e tudo o mais através da placenta da mãe, Railzete Trindade, 38 anos, que nasceu no dia de Cosme e Damião - no sábado (26), segundo o calendário católico, mas comemorado hoje na maioria dos lugares. Prestes a vir ao mundo, Nelsinho está aguentando firme as homenagens à sua chegada e ao natalício de sua genitora, todas com comida baiana.
“Nessa brincadeira serão três carurus. Um terça-feira, de um grupo de amigos que resolveu celebrar meu primeiro filho, outro hoje (ontem) por causa do meu aniversário e mais um amanhã, no chá de bebê”, explicou Railzete. O chá com caruru, organizado por sete amigas, foi chamado de Charuru.
Olindina Lopes Santos e a irmã de criação Consuelo Cirqueira de Andrade nos preparativos para o caruru dos santos Cosme e Damião, que há 35 anos motiva a reunião da família (Foto: Marina Silva) |
“Apesar de ser um chá, tradição é tradição: sete quiabinhos inteiros foram separados. Quem achar na hora de pegar o prato que se resolva com os gêmeos”, avisou a amiga Carla Bahia, 33 anos, uma das organizadoras.
Quando não é apenas uma influência, a tradição é levada a sério. O caruru de Olindina Lopes dos Santos, 66 anos, que há 35 anos reúne a família para as comemorações, é feito com sete itens (além dos citados acima tem feijão fradinho, arroz, frango e pipoca).
Sete crianças da comunidade de Itapuã se deliciam com as iguarias e sete saquinhos de balas. É proibido bebida alcoólica. Este ano, o caruru é dedicado a sua irmã de criação, Consuelo de Andrade, 52 anos, que cumpre promessa.
“Minha sobrinha passou no vestibular para Medicina e eu havia prometido um caruru para Cosme e Damião”, justificou Consuelo, que também fez questão de incluir os sete quiabinhos inteiros no panelão de 300 quiabos. “O segredo do bom caruru, além dos ingredientes, é abrir quatro lascas no quiabo e cortar bem fininho”, ensinou dona Olindina.
Nos locais de venda de ingredientes ainda havia muito movimento ontem. Na Feira de São Joaquim, José Raimundo Alcântara comprava 200 quiabos para reunir 30 pessoas. “Mas depois dessa matéria de vocês acho que vai aparecer um monte de gente”, brincou.
Railzete Trindade, que nasceu no dia de Cosme e Damião e está esperando o filho Nelson, é fiel à tradição (Foto: Betto Jr) |
Alguma promessa? Algum sentido religioso? “Ah, sempre tem uma promessinha, né?”. Em plena crise econômica, os comerciantes comemoravam as vendas. Cobrando R$ 8 no cento de quiabos, Daniel Bispo não viu diferença este ano em comparação com os anteriores.
Vendeu 45 sacos de 1,4 mil quiabos por semana em setembro. Na quinta e na sexta, foram 37 sacos. “Quase a meta da semana inteira. Para Cosminho, não tem crise”, disse Daniel.
No box de Alexandro Barros, 38 anos, o camarão, a castanha, o amendoim, o milho e o dendê também saíram que foi uma beleza. “Fora o quiabo, o resto tudo é aqui. A crise passou bem longe. O caruru de Cosme e Damião não pode faltar”.
Não pode mesmo. Quem não teve disposição tempo ou talento (ou as três coisas) para cozinhar, encomendou. A psicóloga Rafaella Dominguez e 14 amigos pagaram R$ 300 em um caruru para 15 pessoas.
“Chamei uma galera que não tinha sido convidada para caruru nenhum. Como queria praticidade, resolvi encomendar. Nossa intenção é reunir a galera e celebrar São Cosme. O que importa é a intenção”.
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