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SALVADOR

Queixas antigas dos moradores marcam dia a dia em Sussuarana

Falta de água, trânsito caótico, sujeira e falta de acesso à saúde de qualidade maltratam a comunidade

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10/05/2012 às 15:00 • Atualizada em 26/08/2022 às 22:02 - há XX semanas
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Serviços prestados à população não acompanham o inchaço do bairro, com a construção de novos condomínios
Difícil acreditar que Sussuarana, bairro com aproximadamente 150 mil moradores, dividido em loteamentos - Sussuarana Velha, Sussuarana Nova e Novo Horizonte -, já foi uma fazenda. Que no lugar dos estabelecimentos comerciais que se multiplicam a cada dia, existia vegetação para todos os lados e nas pistas onde circula um trânsito caótico e desordenado de ônibus, motos, carros e bicicletas, quase não se via movimento. Hoje, o bairro, além de um grande centro comercial, também exibe um forte potencial cultural, com a presença intensa de grupos de jovens que se interessam por diferentes expressões artísticas, pelo esporte e utilizam a comunicação como ferramenta de inclusão social e cidadania. Veja também: O conflito entre a tranquilidade e a agitação do comércio do Caminho das ÁrvoresPorém, apesar de toda a efervescência, seja no trabalho ou na produção cultural, os moradores convivem de perto com a ausência de condições mínimas de infraestrutura. Ao mesmo tempo em que o bairro cresce, aumentando o número de moradores produtivos e dispostos a crescer, os serviços públicos oferecidos para a comunidade estagnaram. Não acompanharam este crescimento, deixando muito a desejar.
SaúdeUm exemplo deste atraso é o posto de saúde construído há mais de 20 anos em Sussuarana Velha, que só foi ampliado uma única vez, e enfrenta dificuldades diárias de funcionamento. “Aqui, só o planejamento familiar e o dentista funcionam direito. Eu tenho que vacinar meu filho e ser atendida por um médico em outro lugar, porque falta tudo”, denuncia a moradora Sheila Santos, de 23 anos.
Com infraestrutura precária, o posto de saúde não consegue atender bem a população
Para serem atendidos, os moradores vão aos hospitais em bairros mais próximos, e muitas vezes, permanecem sem atendimento. “A nossa população vive mendigando atendimento em São Marcos e outros lugares, e mesmo assim não é bem atendida por ser de Sussuarana”, relata o estudante Enderson Araújo, que é diretor e cofundador do Grupo de Comunicadores Jovens Mídia Periférica, atuante no bairro através da internet, com o blog Mídia Periférica, jornal e rádio comunitária.
"A Arena Fonte Nova, que começou depois, vai ficar pronta antes do posto", diz o morador Enderson Araújo.
Uma alternativa para melhorar o acesso à saúde no bairro seria a unidade do Programa de Saúde da Família (PSF), que começou a ser construída há dois anos, a poucos metros do posto já existente, e ainda não foi concluída. Como protesto, no Dia do Trabalho, 1º de maio, um grupo de moradores levou para frente do local um bolo para ‘comemorar’ os dois anos da obra inacabada. “A Arena Fonte Nova que começou depois, vai ficar pronta antes do posto”, compara Enderson.
Lixo A deficiência no atendimento à população não é o único problema relacionado ao posto de saúde. A construção é antiga, desgastada com o tempo e cercada de lixo, tanto provenientes das casas ao redor, quanto do próprio posto, alojados juntos com restos orgânicos, sem coleta seletiva.
O lixo acumulado em frente ao colégio deixa o ambiente sujo e fétido
Basta observar superficialmente, para perceber que o lixo já faz parte da paisagem do bairro. Espalhado nas esquinas, servindo de alimento para os cachorros e acumulado em frente a instituições de ensino como o Colégio Estadual de Primeiro Grau Ruth Pacheco, o lixo exala um cheiro desagradável, não combinando com o clima de aprendizagem e crescimento que deveria predominar naquele espaço.
Segundo o líder comunitário Gilson Pereira, 48, morador do bairro há 40 anos, o recolhimento do lixo pela Prefeitura é feito todos os dias, porém não tem horário regular, o que contribui para que os lixos das casas fiquem expostos nas ruas por mais tempo e a qualquer hora do dia. “Nós sabemos que a comunidade poderia ajudar, mas o que acontece é que todos os dias, ao saírem pela manhã, os moradores colocam o lixo na porta de casa e o recolhimento só é feito muito tempo depois, em horários que oscilam”, explica Gilson.
Falta de águaComo se não bastasse ter que conviver com a sujeira e a dificuldade de se conseguir um atendimento de saúde de qualidade, os moradores de Sussuarana ainda sofrem com a constante falta de água nas casas, nos estabelecimentos comerciais e nos centros de ensino e saúde.
A presença de carros-pipa da Embasa para aliviar a falta de água é constante no bairro
Carros-pipa são alugados pelos moradores ou enviados pela Empresa Baiana de Águas e Saneamento (Embasa) ao bairro como uma solução paliativa. O Centro Municipal de Educação Infantil Cecy Andrade convive com a falta de água desde a sua fundação, há 15 anos. A creche, que atende crianças de até cinco anos, já é velha conhecida da Embasa e se tornou prioridade no bairro quando o serviço é solicitado.
"A gente seleciona o uso da água para que as crianças não fiquem sem aula", diz Cristina Bispo.
De acordo com a coordenadora pedagógica, Cristina Bispo, muitas vezes as mães levam seus filhos sem terem tomado banho ou se alimentado, pela falta de água em casa. Nesses casos, a ordem é racionar. “A gente seleciona o uso da água para que as crianças não fiquem sem aula, e muitos ficam sem o banho, porque priorizamos a alimentação”, conta a coordenadora.
TrânsitoO inchaço do bairro é notório. As fronteiras se alongam cada vez mais, muitos condomínios estão sendo construídos ao mesmo tempo e, por consequência, o número de carros na região aumenta. Atrelado a isso, as obras de reparo ocupando parte das ruas, os buracos e o estreitamento da avenida principal, com a construção de uma rotatória no fim de linha de Sussuarana Velha, pioram o quadro caótico do trânsito no bairro. Veja também: A diversidade e o dinamismo do comércio no Pelourinho
Segundo os moradores, o encurtamento da rotatória já foi solicitado à Prefeitura, para que desafogue o trânsito, deixando mais espaço para os ônibus transitarem, e a resposta é de que não tem verba disponível para o serviço. Enquanto isso, os engarrafamentos se perpetuam, a qualquer hora do dia.Título de posse
Segundo os moradores, Sussuarana Velha é terreno do Estado e o título de posse das casas não os pertence. Este detalhe atrapalha a população que enfrenta dificuldade ao tentar vender os imóveis. E não só as residências estão nesta situação, como também terrenos e centro de ensino, como é caso do Colégio Estadual São Daniel Comboni, que funciona há sete anos em um prédio alugado, e agora corre o risco de fechar as portas. O proprietário exige o imóvel e os 1.400 alunos não têm, até o momento, local para seguirem com os estudos.A ausência de títulos de posse dos terrenos também contribui para que a compra e venda aconteça sem fiscalização. A conselheira tutelar e moradora do bairro há mais de 20 anos, Antônia Santos, 49, protagoniza uma luta de mais de 10 anos por um terreno que foi, segundo ela, doado à comunidade pelo prefeito à época Manoel Castro, porém é disputado pela Igreja Universal que alega ter comprado o espaço de um morador.
O terreno que, se depender dos moradores, pode se tornar um espaço cultural da comunidade é utilizado pelos moradores, de forma improvisada, para festas, ensaios de grupos de dança locais, esporte, batizados. “O bairro é cheio de grupos culturais, mas estão espalhados, por não existir um espaço físico para reunirmos todo mundo”, afirma a moradora.FórumLíderes comunitários de Sussuarana planejam um fórum programado para junho, quando serão convidados o prefeito, deputados e toda a comunidade para debaterem juntos os problemas do bairro e encontrarem soluções eficazes para que a vida no bairro, tão rico em iniciativa e cultura, seja melhor.

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