Na semana passada, o administrador João Marcos Tavares*, 26 anos, convidou uma moça para jantar. Era uma paquera nova, e ele queria impressionar, mas acabou levando a garota para o Mcdonald’s. “Os restaurantes estão muito caros, preciso economizar”, justificou o rapaz.
Quem pensa que João Marcos é um caso isolado, é bom saber que ele não está sozinho, e que essa atitude contribui para o que os restaurantes estão chamando de “a pior crise dos últimos 20 anos”.
Reflexo da alta dos preços dos alimentos há alguns meses, quando o cliente olha hoje para o preço no cardápio de um restaurante ou bar, em Salvador, vê um aumento de 30% a 35%. Assusta. E o reflexo disso é que as pessoas estão deixando de frequentar os locais até nos fins de semana.
Sócio do Juarez Restaurante, Eduardo estuda aumentar os preços, mas tem medo de perder a clientela |
“O maior reflexo da queda no movimento podemos mensurar pela venda das cervejarias, que registrou queda nos últimos meses. É um setor que atende todos os bares e restaurantes”, comenta Luiz Henrique Amaral, presidente da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes - Bahia (Abrasel-BA).
O dado a que ele se refere foi registrado no último balanço da cervejaria AmBev, que teve queda de 1,5% no volume total de vendas do segundo trimestre desse ano. Amaral lembra que essa crise atingiu da pior forma a lucratividade dos restaurantes nos últimos anos. Aliado a isso, ele ainda acrescenta que em Salvador pesam dois problemas típicos da cidade: o dinheiro circulante é menor, ou seja, as pessoas ganham menos; e o gosto do soteropolitano pela informalidade, por locais com menos requinte.
“Temos uma tendência a ter uma apresentação de produtos médios, já que a capacidade do mercado é pequena. E isso não é bom para os negócios”, acrescenta. O presidente da Abrasel-BA ainda comenta que mudar os cardápios é um processo que começa a ser estudado, mas que isso significa mudar o propósito do negócio em si.
Uma vez que os donos buscam um alimento mais barato, eles interferem diretamente na qualidade dos produtos que estão oferecendo ao consumidor. “O que fizemos foi de uma forma muito sutil, como tirar o tomate de alguns pratos, na época em que os preços estavam muito altos”, lembra.
Estratégias
Essa tem sido a saída encontrada pelo empresário Luiz Cláudio de Lima Pinto, proprietário do restaurante Carne e Kuz-Kuz, no Comércio. “O tomate agora baixou de preço, e eu já consigo oferecer a salada como boa opção. Mas outros alimentos, como o feijão e a farinha, por exemplo, subiram e permaneceram caros. Substituí a feijoada pela dobradinha, que é com feijão branco, mais barato. Quiabo, eu só ofereço quando o preço está bom”, exemplifica o empresário, que já teve que fazer alguns ajustes no cardápio.
“Mas além do preço dos alimentos, o aluguel e a folha de pagamento dos funcionários também estão inflacionando o custo para manter um restaurante em Salvador”, lembra o presidente da Abrasel. No caso de Luiz Cláudio, ele consegue negociar o aluguel do imóvel com o proprietário, mas vê suas contas apertarem com o aumento dos custos dos funcionários, graças ao aumento real do salário mínimo.
“Se eu tivesse que pagar o aluguel com os valores atualizados, já tinha fechado as portas”, se queixa ele, que atualmente tem três empregados no restaurante.
A mesma sorte não têm os sócios Felisberto Formigli e Eduardo Fonseca, do Juarez Restaurante, também no Comércio. “O IPTU aumentou, e consequentemente o aluguel também. O feijão, a farinha, tudo aumenta o tempo todo”, reclama Felisberto.
“Precisamos subir os preços, mas temos medo de espantar a clientela”, emenda Eduardo, que calcula uma queda de 50% nos lucros, nos últimos meses, agravada pela pressa cada vez maior dos clientes. “Nossa comida é a la carte, demora um pouco mais. O cliente que tem pressa acaba preferindo ir num restaurante a quilo, que é mais rápido”, explica o sócio Eduardo.
Segundo o presidente do Sindicato de Hotéis, Restaurantes, Bares e Similares (SHRBS) da cidade de Salvador, Sílvio Pessoa, o grande vilão da má fase dos bares e restaurantes é a conjuntura econômica do Brasil. “O custo de vida encareceu, e a alimentação fora de casa é uma das primeiras despesas a ser cortada”, diz.
O empresário Luiz Cláudio confirma. “Muitos dos meus clientes que vinham almoçar aqui todos os dias, agora vêm só três vezes por semana, ou chega um determinado dia do mês que param de vir e passam a levar a comida de casa e esquentar no trabalho”, relata. “É uma conjunção de fatores, mas no nosso setor não temos como jogar esse prejuízo lá para frente. Já temos casas operando em baixa por seis meses”, informa Luiz Henrique, da Abrasel. “Lá no Pelourinho, toda hora tem restaurante fechando, mudando de dono. Porque além de tudo, ainda tem o problema da segurança, que acaba afastando os clientes”, completa Sílvio Pessoa.
Na quinta-feira, o CORREIO solicitou à Junta Comercial do Estado da Bahia (Juceb) o histórico de restaurantes que fecharam as portas nos últimos 12 meses, mas foi informado que o dado não estaria disponível a tempo do fechamento da reportagem, na sexta-feira. Matéria original: Correio 24h Restaurantes passam pela pior crise em 20 anos, dizem os donos
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