Quanto a situação é inversa e o adolescente é quem comete uma infração, a história é contada ao lado da Dercca, mas desta vez na Delegacia do Adolescente Infrator (DAI). A proximidade entre as delegacias não é coincidência. Ao lado das duas unidades também funciona a sede da Fundação da Criança e do Adolescente (Fundac), onde muitos jovens cumprem medidas sócio educativas.
Nos oito primeiros meses do ano, foram registrados na capital 1.425 casos de infrações cometidas por adolescentes. O maior número é de roubo (241 registros), seguido de tráfico de drogas (218) e lesão corporal (197). Em todo o ano passado, a Delegacia do Adolescente Infrator (DAI) registrou 2.491 ocorrências envolvendo adolescentes infratores.
Roubo é infração mais cometida por adolescentes infratores (Foto: EBC) |
O número é menor do que as denúncias feitas à Dercca. O presidente do Conselho Estadual da Criança e do Adolescente (Ceca), Edmundo Kruger, aponta que quase “sempre tem um adulto por trás” dos crimes.
“O adolescente é normalmente aliciado. Quando ele comete o primeiro ato, as medidas são muito fáceis, porque são em meios abertos, como prestação de serviços à comunidade. Mas o pessoal só reflete na privação de liberdade, que é em casos infracionais muito graves”, diz Kruger.
A delegada da DAI Patrícia Atanázio conta que o maior número de adolescentes apreendidos é do sexo masculino, em geral usuários de drogas, que traficam para ter acesso à droga e roubam para manter o vício. Já no caso das mulheres, há muitos casos de furtos em lojas e envolvimento com homens ligados ao tráfico.
Também há casos de pais ou mães que percebem um comportamento agressivo nos filhos e levam à unidade. “Às vezes, quando o adolescente ainda não cometeu o primeiro ato, a gente consegue evitar que ele entre na criminalidade”, pontua a delegada.
Ela reforça que, em muitas das situações, há um adulto por trás dos crimes e que o ambiente familiar também influencia. “Quase todos eles têm um quadro de família desestruturada: 90% é o mundo quem cria, o pai está preso ou morreu, a mãe também está presa. Muitas vezes, eles chegam na delegacia, dizem o nome da mãe, mas nem sabem quem é o pai”, afirma.
O presidente do CMDCA, Rodrigo Alves da Silva, pondera sobre o histórico familiar dos adolescentes. “Eles estão matando, mas também estão morrendo. Tem muito infrator que é da classe alta e que sai matando pessoas que ele entende que são diferentes. A gente não pode achar que o perfil da pessoa que foi violentada é o perfil do serial killer de amanhã”, explica.
A procuradora Márcia Guedes, do Coaca, diz que é preciso ainda que as prefeituras implantem os Planos Municipais de Atendimento Socioeducativo. O objetivo é possibilitar as medidas de meio aberto, aplicadas a adolescentes que cometem infrações mais leves, uma vez que o internamento na Comunidade de Atendimento Socioeducativo (Case) só deve ser feito nos casos mais graves.
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