A relação da polícia com a população do complexo do Nordeste de Amaralina esteve fundada historicamente no enfrentamento. Mas ontem pela manhã foi dado mais um passo para que essa história tenha um enredo diferente, a partir de novos personagens. Uma cerimônia pela manhã, no auditório da Fundação Luis Eduardo Magalhães, no CAB, formou como operadores de policiamento comunitário 360 PMs que vão atuar nas Bases Comunitárias de Segurança do complexo do Nordeste (Nordeste de Amaralina, Santa Cruz, Vale das Pedrinhas e Chapada do Rio Vermelho). A previsão é que o complexo do Nordeste - a segunda região a receber as bases, depois do Calabar, que teve a sua instalada em abril - tenha, na verdade, três bases. uma será implantada no Cento Social Urbano, situado no Beco da Cultura, no Nordeste de Amaralina; a segunda será na Escola Estadual Dionísio Cerqueira, na Rua do Futuro, em Santa Cruz; e a terceira na Chapada do Rio Vermelho, numa casa já alugada na rua Coreia do Sul (veja mapa de localização ao lado). A previsão de inauguração é até o final de agosto, desde que as reformas nos espaços onde elas serão instaladas sejam concluídas. O governo investirá quase R$ 790 mil para as obras de adequação. Em cada núcleo haverá 120 policiais militares. Além disso, as unidades irão dispor de 13 viaturas e 25 câmeras de monitoramento para cobrir as três localidades. A secretaria ainda não definiu quem comandará as bases. O secretário da Segurança Pública, Maurício Barbosa, explicou que a intenção do curso foi treinar os PMs para trabalhar em conjunto com a comunidade. “É o diferencial deste tipo de treinamento e do exercício deste policiamento. Temos uma série de demandas sociais que serão atendidas na região, principalmente na parte de educação e saúde”, disse Barbosa, durante a cerimônia, que contou também com a presença do governador Jaques Wagner.
A previsão do secretário é que mais uma base seja inaugurada até o fim do ano, no Subúrbio Ferroviário, provavelmente em Coutos. CapacitaçãoDe acordo com a polícia, os PMs foram escolhidos a dedo. Policiais recém-formados e sem antecedentes problemáticos na corporação são candidatos em potencial para trabalhar nas bases. Cerca de 80% dos selecionados até agora têm ensino superior completo. Os 360 formados passaram por um curso de um mês, com carga de 40 horas, ministradas por oficiais da PM que fizeram o curso de multiplicadores de Polícia Comunitária - Sistema Koban, utilizado pelos japoneses e que tem, entre outras características, a parceria da polícia com a população. Entre as disciplinas estão Policiamento Comunitário Aplicado, Mobilização Social, Mediação de Conflitos e Direitos Humanos. Formado no 1º Batalhão de Feira de Santana, em 2009, e atualmente lotado na 10ª Companhia Independente, em Candeias, o soldado Antônio da Silva disse que o curso lhe fez repensar a forma de agir com a população. “A gente aprende a ser mais cordial com as pessoas, como dar um ‘bom dia’, visitar as residências, coisas que não temos o hábito de fazer, talvez por conta da rotina”, disse. Para o soldado Jenilson da Cruz Vieira, um dos 360 recém-formados, esta é a chance de desconstruir a atual imagem da polícia no local. “A ditadura militar deixou muitas sequelas, entre elas a visão de que a polícia é extremamente repressiva”, disse. “Todo mundo está esperançoso de que além da segurança, venham outros projetos em saúde, educação, infraestrutura. Nossa maior preocupação é que seja um policiamento diferenciado”, afirmou Gil de Leon, líder comunitário do Nordeste de Amaralina.