“Se existir a pior pessoa do mundo, eu não desejo isso pra ela”. O desabafo é de Vânia*, professora aposentada, uma das vítimas de uma quadrilha especializada em sequestros relâmpagos, presa pela polícia na madrugada de segunda-feira. O bando agia na maioria das vezes nos estacionamentos dos shoppings de Salvador e Região Metropolitana. Tinha como preferência mulheres desacompanhadas. Câmeras de estabelecimentos flagraram integrantes do grupo utilizando cartões de mulheres sequestradas. Após as prisões, Vânia foi uma das vítimas a fazer questão de comparecer à Delegacia de Repressão a Furtos e Roubos, na Baixa do Fiscal. Depois de reconhecer dois dos quatro presos, ela relatou ao CORREIO os momentos de desespero que passou sob ameaça dos bandidos. Era junho deste ano. Vânia tinha acabado de entrar em seu carro, um Ford Focus estacionado no Salvador Shopping, na avenida Tancredo Neves. Passava o cinto para ir embora quando dois homens invadiram o veículo. “Foi rápido demais. Um entrou pelo carona e outro pelo banco de trás. Depois de mandar eu calar a boca, um deles gritou: ‘Não quero carro. Quero joias, dinheiro e eletrônicos. Sua segurança é a nossa’”.
Foi aí que ela pensou que a sua garantia de vida era manter a calma. “A vontade que tinha era de gritar, mas sabia que estava lidando com pessoas descontroladas, inclusive um deles parecia estar drogado”, conta. Vânia foi obrigada a sair com os dois assaltantes em seu carro como se nada estivesse acontecendo. O ladrão sentado no banco de trás dizia que estava armado. Ela foi libertada no município de Lauro de Freitas, depois dos bandidos terem sacado R$ 1 mil de sua conta. A estudante de Engenharia Rachel*, 23 anos, preferiu contar seu drama por email. “O pior é não saber quando tudo irá acabar, ou como irá acabar. Você não sabe o que passa pela cabeça dos sequestradores”, escreveu ao CORREIO. Rachel suspeita que os homens pegos pela polícia são da mesma quadrilha que a sequestrou no estacionamento do Salvador Norte Shopping, também em junho. A jovem conta que saía do shopping às 18h quando foi surpreendida. “Entrei no meu carro, retirei o som do porta-luvas. Estava pronta para engatar a marcha e sair quando a porta do passageiro e a porta traseira ao passageiro foram abertas”, relatou, mostrando que os bandidos usaram o mesmo método do caso de Vânia. “Dois homens entraram no meu carro, na faixa de 22 a 25 anos. Me mandaram colocar as mãos no volante e sair imediatamente do shopping”. Segundo ela, o homem que estava no banco do carona tinha uma faca e o do banco de trás disse que tinha uma arma, mas nunca chegou a mostrá-la. A estudante circulou com os ladrões em Lauro de Freitas e, no final das contas, retornaram para o Salvador Norte Shopping, onde uma mulher aguardava os comparsas. A integrante do grupo fazia compras com os documentos da vítima, enquanto a estudante ainda estava sob o poder dos sequestradores. Gastos Rachel foi liberada horas depois na Avenida Luiz Tarquínio, em Lauro de Freitas. Ela conta que os bandidos gastaram cerca de R$ 1 mil em seu cartão de crédito. “A mulher gastou R$ 120 na loja Trampolin, e realizou uma compra de R$ 880 na loja Wave Beach. Incrivelmente o gerente da loja, que a atendeu, não pediu identidade. A mulher disse que o cartão era da mãe dela e ele acreditou”. Segundo a vítima, os prejuízos não pararam por aí. “Eles roubaram ainda: óculos escuro, relógio, dois anéis, ipod, dois celulares, calça jeans, blusa, batom, rádio do carro”. Apenas um anel valia mais que tudo que me roubaram, mas se não contar com ele, os outros objetos roubados já somam mais de R$ 2 mil”, conta. “Claro que bens materiais não são nada quando comparamos que eu saí viva e intacta desse sequestro. Agradeci muito e chorei muito também. Os flashes desse dia continuam e sempre continuarão a vir nos meus pensamentos. Infelizmente”, completou a estudante de Engenharia. Shoppings têm falhas, diz especialistaA prisão de uma quadrilha especializada em sequestros relâmpagos nos estacionamentos dos shoppings trouxe à tona o problema da insegurança nesses centros de compras. Apesar dos shoppings preferirem não se menifestar sobre seus esquemas de vigilância, especialistas no assunto apontam falhas. Eles afirmam que empresários investem mais na segurança eletrônica e pouco na contratação de profissionais do segmento, além da péssima iluminação nos estacionamentos. Para o presidente do Sindicato dos Vigilantes (Sindivigilantes), José Boaventura, faltam profissionais de seguranças. Ele explica que os centros de compras estão diminuindo a contratação de pessoal e aumentando a instalação de câmeras. “A segurança feita por profissionais é insubstituível”, acredita. “Isso é fruto da redução de custos”, declara o coronel Antônio Jorge Ferreira Melo, pesquisador do Programa de Gestão e Estudo de Segurança Pública da Ufba. “Se colocarmos uma pessoa para monitorar 50 câmeras, é óbvio que é um procedimento inadequado. As pessoas têm limites de atenção”, observa. Para o coronel, a péssima qualidade na iluminação é outro fator que contribui para a ação de bandidos nos estacionamentos. Segundo o promotor Olimpio Campinho, as pessoas roubadas nos shoppings têm direito a serem ressarcidas e de também requerem uma indenização. “Cabe a qualquer estabelecimento garantir a segurança de seus clientes. O cliente pode requerer o ressarcimento dos produtos que estavam de posse, inclusive aqueles não comprados no estabelecimento. Vale também um pedido de indenização pela falha na segurança”, declara o representante do Ministério Público. De acordo com o delegado-chefe da Polícia Civil, Hélio Jorge, não existe na instituição uma operação específica para o combate dos sequestros relâmpagos. ”Para essas ocorrências, a Polícia Civil vem desenvolvendo atividades rotineiras para reprimir a circulação de armas e os roubos de veículos”. Sobre o fato de os crimes estarem ocorrendo com mais frequência em shoppings, Hélio Jorge disse que o motivo está na circulação de pessoas. “Os shoppings são alvos porque reúnem um grande número de pessoas e veículos. São pessoas fazendo compras e movimentando valores”. Colaborou Anderson Sotero Matéria original do CorreioSequestradas por quadrilha em estacionamentos de shoppings relatam terror
Câmeras flagram homem e mulher utilizando cartões roubados das mulheres |
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