Um morador de rua tentou atravessar a Avenida ACM como se fosse fácil. Foi atingido por um ônibus já na primeira faixa. Morreu na contramão atrapalhando o tráfego, às 8h da manhã de ontem. Preferiu concorrer com os carros entre duas passarelas. Foi tido como um louco pelas autoridades. Segundo agente da Transalvador que registrou o acidente, “deve ser um suicida, passar por aqui a esse horário andando...”. Meia hora após o acidente, sobrou apenas a marca de sangue na pista, que sumiria nos pneus dos carros momentos depois. Seja por imprudência do motorista ou do próprio pedestre, somente nesta semana duas pessoas morreram e nove ficaram feridas em atropelos em Salvador. O mais trágico acidente foi na terça-feira: a motorista Soraia Souza Souza, de 45 anos, perdeu o controle do veículo que dirigia e invadiu um ponto de ônibus na Avenida Bonocô. Atropelou cinco, entre eles Zenaide Silva de Oliveira, de 35 anos, que não resistiu aos ferimentos. “Tem muito caso de motoristas imprudentes, mas a maioria absoluta dos atropelos é causada mesmo por pedestres que, às vezes, não querem andar 40 metros para ir em uma passarela ou numa faixa”, apontou o agente de trânsito Ulisses Passos, que trabalha no posto móvel da Transalvador na Avenida ACM, a segundo colocada em número de atropelos na cidade, com 628 casos nos últimos três anos (sendo 12 fatais). Jogo de EmpurraO CORREIO requisitou à Transalvador informações quanto a estatísticas de culpas de motoristas e pedestres em atropelos que informou não dispor destes dados, por ser a apuração criminal uma atribuição da Secretaria da Segurança Pública da Bahia. A SSP, por meio de sua assessoria, devolveu a responsabilidade dessas informações à Transalvador. Conforme salienta Ulisses, em seus mais de 15 anos de experiência, uma das maiores imprudências dos pedestres é a tentativa de atravessar as vias quando o sinal está fechado, driblando os veículos, fora da faixa de trânsito. “O problema é que nesses corredores passam muitas motos, que são elementos surpresa”, ponderou. Na própria ACM, não foi difícil flagrar pessoas no meio dos carros engarrafados. O aposentado Manoel Francisco Souza, de 85 anos, sabe na pele o risco que corre. No início do ano passado, viu o pé debaixo da roda de uma caminhonete. “Pensei que fosse perder o pé, mas depois até que não doeu tanto”, brincou, apontando para a cicatriz. Driblador O auxiliar de auditoria Edson Viana, 63 anos, também optou pela estratégia de atacante driblador no meio dos carros, mas perdeu a defesa quando indagado do porquê se arriscar, se estava a menos de 20 metros da faixa. “Minha foto vai para o jornal é? Minha filha já reclama que eu atravesso errado, quando ver...”, entregou-se, após apresentar argumentos de zagueiro após a marcação do pênalti: “Eu geralmente passo no sinal, só que eu tive que passar no mercado hoje, trabalho aqui e estou atrasado”.
Na Avenida Vasco da Gama, a quinta mais perigosa da cidade nos últimos três anos, com 409 atropelos (dez fatais), os estudantes Felipe, Ronaldo e Renato, os três com 9 anos de idade, quase que não calculam o risco de atravessar a poucos metros de carros em uma curva. Estudantes da Escola Municipal Osvaldo Cruz, voltavam para casa carregando balões infláveis quando, graças a Deus com sucesso, realizaram a manobra perigosa. “A gente já tá acostumado. É só botar o braço e passar”, minimizou Felipe.
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