A última homenagem ao soldado da Polícia Militar Ronald Conceição Neves, 49 anos, foi em forma de aplausos. Ontem à tarde, parentes, amigos e colegas se reuniram no Cemitério Campo Santo para a despedida. No domingo, Ronald aproveitou a folga para ir a um bar na rua Irmã Dulce, em Tancredo Neves. Seu plano era voltar para casa e assistir ao jogo do Bahia, mas ele foi morto com tiros no peito, rosto, ombro esquerdo e perna direita. Até ontem, segundo a assessoria da corporação, 30 policiais haviam sido mortos violentamente em 2011, sendo que seis deles estavam em serviço. A soma é 25% maior que o registrado em 2010, quando 24 PMs foram assassinados, dois deles durante o serviço. A Associação de Cabos e Soldados da PM tem a mesma contagem, mas acrescenta que 19 policiais que sofreram atentados em 2011 não morreram, mas ainda não estão recuperados. “Ainda sofrem com sequelas. A maioria foi vítima da violência durante ações de combate a assaltos a ônibus”, afirma o presidente da associação, Agnaldo Pinto. Tiros No caso mais recente, o soldado Ronald havia deixado o Bar do Di e sentou no passeio para conversar. Ali mesmo ele foi alvejado. De acordo com o tenente Rosário, da 23ª Companhia Independente da Polícia Militar (CIPM), há indícios de que Ronald foi morto por um traficante conhecido como Luan. “O outro rapaz baleado relatou isso. Luan teria ido matar este rapaz por causa de uma briga entre traficantes e acabou matando o policial”, disse o tenente. A vítima a quem ele se refere é Adson Bacelar, suspeito de tráfico que foi baleado no mesmo dia. De acordo com a Secretaria estadual da Saúde (Sesab), Adson recebeu alta ontem do Hospital Geral do Estado, mas uma fonte ligada à Secretaria da Segurança Pública (SSP) garantiu que o rapaz - que tem mandado de prisão em aberto - foi transferido para o Hospital Roberto Santos, onde permanece internado. A assessoria da unidade hospitalar não confirmou a informação. O caso está sendo investigado pela delegada Clelba Regina, do Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP). Segundo a assessoria da Polícia Civil, a delegada não foi localizada para falar sobre o andamento da apuração. Segundo Ana Célia Souza, 51 anos, esposa do dono do bar onde o soldado estava antes do crime, Ronald era um cliente frequente. “Ele sempre vinha aqui beber uma cervejinha. Depois de almoçar, disse que iria embora para ver o jogo. Foi questão de segundos. Fechei a porta e logo depois ouvi os disparos”, contou. Ana Célia contou ainda que policiais chegaram a revistar o bar. “A polícia entrou para ver se tinha droga, mas eu disse que só pai de família bebe aqui”, disse ela, que vive no bairro há 20 anos. Em seguida, a mulher lembrou do comportamento do policial e da forma como falava da família. “Ele era uma pessoa ótima. Adorava falar da filha de 10 anos. Dizia que era uma menina doce e muito educada. Foi uma coisa horrorosa o que fizeram”, lamentou Ana Célia. SilêncioFamiliares da vítima estiveram na manhã de ontem no Instituto Médico- Legal, mas não quiseram dar entrevista. De tarde, durante o sepultamento, parentes também evitaram comentar o caso. O soldado estava na PM há 20 anos e era lotado no Batalhão de Guardas. Outro soldado morreu em assaltoO assassinato do soldado Ronald Conceição foi a segunda ocorrência do tipo registrada na capital baiana em menos de uma semana. Na madruga de quinta-feira, o soldado Marcelo da Silva Teixeira, 34 anos, foi executado na entrada da localidade do Pela Porco, nas Sete Portas. O caso também está sob a responsabilidade do DHPP, que não informou como estão as investigações. Casado e pai de quatro filhos, Teixeira era lotado na Companhia de Polícia de Proteção Ambiental (Coppa) e tinha acabado de participar de uma operação na área do Parque de Pituaçu. Quando retornava para casa após o serviço, foi assaltado e alvejado na cabeça e no pescoço. “Ele foi encontrado morto, mas não tinha identificação e nem estava armado. Até agora não se sabe onde ele foi abordado. Só se sabe que os assaltantes levaram o carro dele”, contou o major Celso Couto, da 2ª CIPM. Segundo Couto, testemunhas viram que três rapazes mandaram a vítima descer do Gol preto que dirigia para roubar o veículo. “Disseram que eles mandaram o PM descer do carro e correr. Depois atiraram”, acrescentou. Registrado como indigente, o corpo do policial só foi identificado dois dias depois por familiares que procuraram o IML, devido ao sumiço de Teixeira. O enterro foi realizado domingo, no Cemitério Campo Santo.
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