O Brasil atingiu a impressionante marca de 200 milhões de habitantes, superior às populações de França, Espanha e Alemanha somadas. Reunimos neste momento aquilo que se convencionou chamar de bônus demográfico. O que quer dizer isto? Em termos gerais, temos hoje uma população ativa, de trabalhadores em idade plena para o trabalho, proporcionalmente bastante elevada em relação aos inativos, ou seja, aqueles que devem ser sustentados, sejam eles estudantes ou aposentados. Este tipo de distribuição demográfica ocorre apenas uma vez na vida das nações. Este seria o momento do Brasil, aquele em que teoricamente teríamos o menor custo social em termos de previdência e necessidades para a educação. Um olhar mais detalhado sobre a evolução de nossa pirâmide instigará algumas indagações. Uma delas é sobre o montante de recursos destinados à educação, no futuro, visto que pode ser observado claramente que a proporção de jovens em idade escolar começará a ser reduzida, e muito rapidamente, nos próximos anos. Se isto diminuirá as necessidades de recursos para a educação, seremos também obrigados a lançar um olhar sobre os idosos. Na extremidade da pirâmide o número deles crescerá vertiginosamente, desencadeando imensa pressão sobre o nosso sistema de saúde. Idosos, cuidai-vos bem !
Mas o que isto poderia representar em relação ao mercado de trabalho ? Não é somente o perfil de nossa pirâmide demográfica que irá determinar as profissões do futuro. A tecnologia da informação, hoje cada vez mais presente, tenderá a automatizar cada vez mais as tarefas em nossa sociedade. A tecnologia da informação vem alterando dramaticamente a forma como a educação vem sendo ministrada. Se você pensa que avatares são apenas bonequinhos que aparecem nos filmes de James Cameron, seria interessante saber que também assumem a forma do professor online. Já são hoje mais do que comuns os campus online, com professores à distância. O E-learning e a educação à distância deverão dominar o panorama da educação em poucos anos, mas aí cabe perguntar: Qual é o papel do professor nisto tudo ? Sobretudo no Brasil onde a cultura do aprendizado à distância ainda engatinha, o professor físico, digamos assim, ainda será muito necessário. Nem todos conseguem se adaptar ao sistema de aprendizado à distância e requerem mentores presenciais. O mesmo vale para muitos dos jovens. Por outro lado, para aqueles que conseguem navegar com desenvoltura pelo universo da educação online, não haverá mais fronteiras. A balança dos empregos muito provavelmente irá se deslocar do professor de sala de aula para o mentor ou tutor online. Voltando para a nossa pirâmide etária, é evidente que iremos precisar de mais cuidadores de idosos especializados do que de babás. E, muito além disto, pois os idosos, em sua grande maioria não aceitarão o tratamento de bebês, mas serão eles que sorverão cultura, entretenimento e lazer. Em outras palavras, aqueles que pensarem em como oferecer atrações acessíveis aos idosos e em conformidade com as necessidades deles poderão tirar grande proveito na oferta de serviços e bens culturais. É preciso estar atento às novas tribos e grupos sociais. A sociedade da automação quase total irá incluir aqueles que possuem talento com sistemas de informação, design e marketing, mas poderá excluir muitos daqueles que se contentam em realizar tarefas rotineiras e repetitivas. A tendência tecnológica é eliminar todos os postos de trabalho que representem tarefas meramente repetitivas. No campo da saúde, com o grande avanço da tecnologia de diagnósticos, iremos nos deparar com um drama existencial. Qual seria a função do médico afinal de contas? Modernos equipamentos e tecnologias de análise laboratorial aliados a sistemas de software e inteligência artificial poderiam substituir o diagnóstico de um médico. O que para muitos pode parecer uma heresia encontra eco na discussão recentemente travada acerca do “Ato Médico”. Um computador pode substituir o diagnóstico de um médico? Em alguns anos é muito provável que o computador substitua o médico, ou até mesmo que o médico não possa prescindir de um médico.
Que tipo de médico precisaremos no futuro? Não seria necessário criar outras categorias de médicos, alguns especialistas, outros cirurgiões, mais outros de atendimento de campo e ainda outros de diagnóstico? A batalha corporativista que hoje se desenrola envolve este tipo de disputa e antecipa a revolução da tecnologia de diagnóstico. Ainda no campo da saúde, ao invés de criarmos mais e mais UTI´s, que acabam virando morredouros de pessoas em idade avançada, a telemedicina e o home-care farão, talvez, mais sentido do que levar um paciente terminal para uma UTI, apenas para amenizar a sua morte. Tudo isto baseado em tecnologia. Muitos dilemas morais serão enfrentados pela nossa sociedade, sobretudo com o envelhecimento de nossa população, que se tornará mais acentuado a partir da década de 20, a década de 2020, bem entendido.
"Não é somente o perfil de nossa pirâmide demográfica que irá determinar as profissões do futuro" |
Sergio Sampaio |
---|
Veja também:
Leia também:
AUTOR
AUTOR
Participe do canal
no Whatsapp e receba notícias em primeira mão!
Acesse a comunidade