Certamente você já se deparou com animais mortos nas estradas brasileiras. Cerca de 450 milhões são atropelados todos os anos nos quase dois milhões de quilômetros das rodovias nacionais, segundo estimativas de pesquisadores. Porém, em virtude dos diferentes métodos utilizados para monitoramento dos atropelamentos, esse número ainda não é preciso e pode ser ainda maior.
Para criar um banco de dados atualizado, integrado e mais preciso, a Fundação de Desenvolvimento Científico e Cultural (FUNDECC) e o Centro Brasileiro de Estudos em Ecologia de Estradas (CBEE), da Universidade Federal de Lavras (MG), lançarão em abril o URUBU Mobile, um aplicativo inédito que possibilitará a qualquer pessoa auxiliar no monitoramento da fauna atropelada. Os dados coletados pelos usuários serão validados e armazenados em uma plataforma unificada.
Para enviar as informações será necessário baixar o aplicativo, que está disponível no Google Play - inicialmente apenas para Android - e fazer um cadastro no sistema. O pesquisador Alex Bager, que coordena o trabalho das equipes de pesquisa, diz que o processo de envio será simples: ao visualizar um animal atropelado na estrada, bastará tirar uma foto e mandar pelo próprio sistema do aplicativo.
No momento do registro, o sistema já grava a data, hora e local (via GPS) da imagem. Uma vez enviada, a foto será analisada por um gestor que fará a identificação do animal. “O registro será analisado por cinco especialistas. As informações da espécie serão incluídas no banco de dados quando houver consenso entre pelo menos três desses especialistas, assim garantimos a qualidade das informações”, explica Bager.
O aplicativo é uma ferramenta do Projeto Malha, financiado pela Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza, e que tem como objetivo criar uma metodologia única de monitoramento dos atropelamentos de animais selvagens nas estradas brasileiras. A ideia é envolver governo, pesquisadores, gestores de unidades de conservação e população para participarem do projeto.
“Queremos identificar com precisão quantos indivíduos são atropelados por quilômetro e por dia no país. Ao final do projeto, pretendemos criar um ‘selo de certificação’ para as estradas brasileiras, buscando incentivar assim a redução desses atropelamentos”, destaca o pesquisador.
Os dados mais precisos, segundo Bager, permitirão mapear em quais trechos os atropelamentos são mais comuns e que tipo de medidas podem reduzir o número de animais mortos e feridos. “Queremos ajudar na conservação da fauna selvagem e só conseguiremos propor ações efetivas para reduzir os atropelamentos se tivermos informações concretas”, comenta.
Tomada de decisão
As informações geradas no projeto subsidiarão a tomada de decisão em nível local para as unidades de conservação (UCs) e em âmbito regional e nacional para os governos e instituições responsáveis. Para a diretora executiva da Fundação Grupo Boticário, Malu Nunes, “a parceria com os gestores das UCs é de grande relevância, pois várias delas preveem em seu plano de manejo o monitoramento de fauna selvagem”.
Um dos objetivos do Projeto Malha é capacitar as equipes dessas e de outras unidades de conservação, bem como de concessionárias dessas e de outras rodovias para que utilizem o aplicativo, unificando assim as informações referentes aos atropelamentos da fauna selvagem. Além da Fundação Grupo Boticário, o URUBU Mobile tem apoio da Tetra Pak, TSCA/Funbio e do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio).
Estrada-parque
Um fator que pode contribuir para intensificar os casos de atropelamentos de fauna selvagem é a flexibilização do Sistema Nacional de Unidades de Conservação (SNUC), principalmente caso o PL 7123/2010 seja aprovado. Esse projeto de lei pretende criar uma nova categoria de UC denominada ‘Estrada-Parque’.
Na prática, isso poderá representar a fragmentação de diversas áreas protegidas em todo o país, em virtude da possibilidade de implantação de estradas em seus interiores.
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