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[Artigo] Afrontando o dogma da economia

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30/01/2015 às 9:00 • Atualizada em 31/08/2022 às 16:47 - há XX semanas
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BM&F/Bovespa, em São Paulo
Foto: Paulo Fehlauer

Por Marcus Eduardo de Oliveira*

Amarrados a uma visão econômica míope, muitos ainda não conseguem enxergar que a crise ecológica e energética é muito mais grave que a econômica. No centro da discussão que acontece entre a economia e a ecologia, está a disponibilidade e o uso da energia, a escassez de recursos naturais e o esgotamento dos ecossistemas frente a estapafúrdia ideia corrente de fazer a economia crescer para, com isso, levar bem-estar aos povos, numa visão estreita e rasteira que procura dar conta que a aquisição material responde, sobremaneira, pela qualidade de vida.

Desde que o “mercado” foi elevado à condição de divindade capaz de ditar todos os valores, a política de crescimento econômico se projetou, na economia global, como a condição indispensável para realizar o progresso de todos, tanto do Estado, quanto dos indivíduos e as instituições.

Crescer economicamente passou a ser espécie de lei suprema para os governos, pouco se importando se, para isso, as leis da natureza podem responder afirmativamente. O que realmente parece ser importante para o deus-mercado é fazer os povos mergulharem dentro da “sociedade de consumo”, para criar, a partir disso, o reino da abundância, satisfazendo assim a voracidade da aquisição material – suprassumo da felicidade. Triste e lamentável felicidade.

Eis então aqui delineado o principal dogma da economia, com cara de lei e regra de comportamento: crescer continuamente para oferecer a todos vida boa. A pergunta que floresce diante disso, em face da crise ecológica ora em curso, é a seguinte: até quando esse “mito do crescimento contínuo” predominará?

Temos como “resposta” que enquanto não houver clareza suficiente por parte dos gestores da economia global de que a atividade humana se desenrola dentro da ecosfera terrestre, sendo totalmente dependente dos recursos extraídos da natureza, essa pergunta continuará sem a devida resposta.

Continuar fazendo a economia crescer num mundo entulhado de mercadorias, como fazem os gestores da economia, é apenas contribuir para o agravamento da crise ecológica.

Não obstante os esforços de divulgação e esclarecimento das mais elevadas vozes da economia ecológica em escala mundial, não há ainda o entendimento completo por parte da sociedade que a ecologia e a economia mantém entre si fina sintonia e possuem elevado grau de dependência.

Nesse pormenor, como bem salienta Francisco Fonseca, “ecologia não é só o meio ambiente. É algo mais amplo, que inclui o homem e o ambiente em uma só unidade indivisível. Na hierarquia natural da ciência, a economia é subordinada à ecologia, da mesma forma que a ecologia é subordinada à biologia e à termodinâmica, que por sua vez são subordinadas à química e a física”.

Uma primeira e imprescindível condição para destacar a importância de se ter um clima equilibrado, com respeito às leis que regem a biodiversidade, é, de forma sistemática, afrontar o dogma central da economia.

Continuar fazendo a economia crescer num mundo entulhado de mercadorias, como fazem os gestores da economia, é apenas contribuir para o agravamento da crise ecológica. De igual modo, e com o mesmo grau de gravidade, continuar fazendo a economia crescer queimando petróleo, carvão mineral e florestas é introduzir, por ano, mais de 30 bilhões de toneladas de gás carbônico na atmosfera, tornando o planeta uma verdadeira bolha incendiária.

Toda vez que se queima combustíveis fósseis também se produz monóxido de carbono, óxidos de enxofre, óxidos de nitrogênio e outros gases, além de poeiras, vapores e partículas de combustível mal queimado.

Esses gases e resíduos, como bem aponta Francisco Fonseca em “O Mundo em Crise”, são os responsáveis pela famosa poluição das grandes cidades e das áreas industriais. A poluição, entretanto, não fica permanentemente no ar. É levada pela chuva e acaba contaminando mais a água e o solo do que o ar.

Sendo a economia um sistema aberto vinculado à energia, acoplado ao sistema ecológico e regido pelas leis da termodinâmica, é inadmissível, portanto, continuar aceitando a conduta da economia neoclássica que faz vistas grossas à questão ambiental e, no lugar de discutir com seriedade a troca do “crescimento” pelo “desenvolvimento econômico”, prefere o silêncio.

Não é com elevadas taxas de crescimento econômico que se porá fim ao desemprego ou a miséria. Subordinar a produção econômica aos imperativos da acumulação levou, na atualidade, quase dois terços dos serviços oferecidos pela natureza à humanidade a entrar em rápido declínio em todo o mundo. O outro nome disso é “viver além dos nossos meios”, como destacam os mais respeitados e sérios estudos sobre as condições climáticas.

Assim, afrontar o dogma da economia é apontar, de maneira clara e objetiva, a impossibilidade de um crescimento ilimitado num sistema que depende da existência de recursos naturais finitos.

* Marcus Eduardo de Oliveira é economista e professor de economia da FAC-Fito e do Unifieo, em São Paulo.
[email protected]

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