Indústria da saúde tem debaixo dos braços uma variedade de desafios vigentes e que ainda precisam ser digeridos por muitas organizações
Foto: Prefeitura de Limeira (Creative Commons)
Por Roberta Valença*
Gerir impactos sociais, ambientais e econômicos nos processos dos serviços e produtos de saúde é essencial para os agentes do setor. Porém, este mercado age de forma reativa aos cumprimentos legais e interesses financeiros. Se houvesse uma boa gestão sustentável, ela resultaria em ganhos para a empresa em termos de eficiência energética, descarte adequado de resíduos, economia e, sobretudo, traria bem-estar às pessoas, o real motivo de sua existência.
Segundo o Global Report Iniciative (GRI), havia em todo o mundo 16,1 mil relatórios de sustentabilidade em 2014. Deste total, apenas 28 foram elaborados por empresas do setor de serviços de saúde e 31 por fabricantes de produtos para cuidados da saúde. Esses dados revelam o quão o sistema de saúde está atrasado em relação à premissa da competitividade.
Os relatórios têm potencial para tornarem-se instrumentos de comparação, ano pós ano, estimulando os envolvidos em sua cadeia a também adotarem esta prática. Esses documentos ajudam a identificar riscos ambientais, econômicos e sociais que podem prejudicar futuramente os negócios. Também são fundamentais para a geração de soluções para problemas como altas emissões de CO2, descarte incorreto de resíduos e desperdícios de água e energia.
Os hospitais são responsáveis por 10% da utilização comercial de água e energia no Brasil, segundo o Instituto Green Hospitals. Esse percentual já é motivo de sobra para impulsionar seus gestores a serem agentes protagonistas, ainda mais nos dias de hoje, em que algumas cidades do Brasil vivem a maior crise hídrica da história. Além disso, uma empresa que investe em relatório de sustentabilidade tem predileção no interesse de investidores e larga na frente em processos licitatórios.
Mas apenas produzir um relatório não basta. É necessário apresentar conteúdo genuíno. Muitos documentos trazem apenas aspectos positivos, o que demonstra fragilidade, já que não existe organização sem pontos fracos a melhorar. Outro lastro é a ausência de verdade no que é descrito, projetos e atividades que não funcionam na prática, ou que são apenas um discurso retórico.
É claro que temos de considerar que a indústria da saúde tem debaixo dos braços uma variedade de desafios vigentes e que ainda precisam ser digeridos por muitas organizações. Questões como regulação mais rigorosa, intensificação das práticas de cuidados, avanços tecnológicos de alto custo, implementação de padrões de qualidade internacional e intervenção da sociedade fazem dessa indústria uma das operações mais complexas. Mas é exatamente aí que o relatório pode destacar a performance de maneira transparente e auxiliar no desenvolvimento do setor.
Os melhores hospitais do Brasil, como Einstein e Sírio Libanês, já produzem relatórios há alguns anos, e podemos perceber o quanto a gestão sustentável tem trazido de benefícios.
No parecer de 2013, o Sírio Libanês destacou ganhos com seu investimento em edifícios verdes: economia de 40% no consumo de energia convencional para aquecimento de água, por meio da utilização conjunta de sistema solar, bomba de calor, gás natural e energia elétrica. Já o Einstein, no ano de 2012, adquiriu dois redutores de resíduos orgânicos, capazes de processar cerca de 800 quilos de lixo por dia, e mais dois equipamentos de autoclave para tratar 3,3 toneladas de resíduos infectantes produzidos diariamente.
Estes são só alguns dos benefícios constatados e ações sinérgicas com os desafios do setor, que só chegam às outras corporações por meio dos relatórios. Não podemos pensar em ter empresas perenes sem uma abordagem sustentável, uma ferramenta cada vez mais necessária para o avanço do mercado.
*Roberta Valença é CEO da Arator, consultoria especializada em projetos de sustentabilidade com inovação - [email protected]
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