Moradores de Mariana caminham pela área atingida pela lama da Samarco
Foto: Antonio Cruz/ Agência Brasil
Por Dal Marcondes*
No dia 6 de novembro uma represa de dejetos de mineração se rompeu no bairro de Bento Rodrigues, na cidade de Mariana. Seis mortos, 21 desaparecidos, centenas de casas destruídas e quase uma semana depois nenhuma autoridade de primeiro escalão do Governo Federal se pronunciou a respeito.
A assessoria do Ministério do Meio Ambiente disse que a ministra Izabella Teixeira, está esperando relatórios do presidente da Agência Nacional de Água, Vicente Andreu Guillo e da presidente do Ibama, Marilene Ramos que viajam nesta quarta-feira para a região. Do Palácio do Planalto nenhum ruído, nem para anunciar um possível apoio do Programa Minha Casa Minha Vida aos desabrigados, ou coisa semelhante.
A empresa responsável pelo desastre é a Samarco, uma joint venture entre a Vale e a anglo-australiana BHP Billiton, que veio a público com os protocolares discursos sobre as medidas que prevenção que são tomadas, mas que há sempre elementos de imprevisibilidade, que está apoiando os desabrigados etc, etc... Tudo o que uma boa assessoria de comunicação em gestão de crises manda fazer.
O jornalista Alceu Luís Castilho, em seu blog no site Outras Palavras, fez uma lista de quem são os controladores das empresas envolvidas, uma parte importante do PIB brasileiro e mundial. Talvez por isso, em tempos de crise econômica, se está esquecendo a amplitude política desse desastre que atravessou parte de Minas, todo o Espírito Santo e vai desembocar no Oceano Atlântico.
O secretário de Estado de Desenvolvimento Econômico de Minas Gerais, Altamir Rôso, disse que a empresa “também é uma vítima” e acrescentou em entrevista ao site mineiro Hoje em Dia que “fiscalizar esse tipo de empreendimento não deveria ser função do Estado, que isso poderia ser passado para a iniciativa privada”. Declaração tão surpreendente quanto o fato de o governador Fernando Pimentel ter utilizado uma instalação da Samarco para montar uma coletiva de imprensa.
Outro elemento dessa ópera bufa que está tornando amargo o rio Doce, já expurgado da razão social da Vale, é a preocupação do prefeito de Mariana, Duarte Júnior, que no último dia 9 já demonstrava preocupação em relação ao futuro da empresa em sua cidade, já que a mineração responderia por 80% da arrecadação do município.
Do ponto de vista técnico, não há dúvidas sobre o imenso trabalho que está sendo realizado pelo Corpo de Bombeiros de Minas Gerais e pelas equipes de Defesa Civil, além de voluntários de toda ordem, que oferecem trabalho e donativos. Mas o que está em questão é a atitude (ou falta dela) política. Nessa hora os principais atores do Governo Federal, diga-se a presidente Dilma, já deveriam estar na região e mobilizando esforços para apoiar a sociedade. A empresa, ora a empresa, essa que se vire com os técnicos e com o Ministério Público.
O governo acionou seus canais burocráticos enquanto a população de Bento Rodrigues sangra.
No final tudo se esvai no esquecimento, inclusive que está em tramitação no Congresso Federal o novo Código de Mineração, PL 5807/2013, que dá à união 12% dos royalties do setor, 23% aos governos estaduais e 65% do dinheiro aos municípios. Como já dizia um famoso delator: “siga o dinheiro”.
*Dal Marcondes é diretor de Redação do portal Elvolverde. Artigo publicado originalmente em 11 de novembro de 2015, no site de Carta Capital.
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