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[Artigo] Os dois lados do Brasil no combate à poluição

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05/11/2014 às 8:00 • Atualizada em 28/08/2022 às 2:32 - há XX semanas
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Consumo de energia elétrica, por exemplo, segue crescendo, impulsionado pelos dispositivos tecnológicos e o crescimento de datacenters
Foto: Google/Datacenter

Por Vagner Luis*

O Brasil ganhou fama mundial nos últimos anos graças à política eficiente para reduzir o desmatamento na Amazônia. Os resultados foram animadores, com redução dos gases de efeito estufa. Porém o sinal amarelo continua ligado por conta do aumento de poluentes em outras áreas que foram ignoradas nesse período, como a grande quantidade da frota de veículos em várias regiões do país. É preciso pensar na diminuição de poluentes em todos os setores e estimular ações simples e eficazes para isso.

De acordo com o último relatório de estimativas de emissão de gases estufa, divulgado pelo Ministério da Ciência e com dados até 2010, o índice foi um pouco superior a mil teragramas (equivalente a um bilhão de toneladas), número bem menor do que o registrado em 2004, com dois mil e meio. Se antes a exploração das florestas representava 57% da poluição brasileira, hoje tem 22%, atrás de agropecuária (por conta do cultivo de arroz e criação de gado) e, principalmente, do setor energético. São os menores índices nos últimos 20 anos.

Entretanto, o crescimento da participação da queima de combustíveis fósseis mostra que a eficiência no combate ao desmatamento não foi compartilhado em outras áreas e mostra a inexistência de ações em todas as esferas. No mesmo período de duas décadas, o lançamento de poluentes por meio da combustão aumentou em 32,6%. O número ainda exclui a participação do gás carbônico proveniente das usinas siderúrgicas, o que aumentaria ainda mais essa taxa.

Enquanto o Brasil continuar focando apenas em uma ponta específica no combate à poluição, viveremos esse paradoxo incomum, onde ganhamos destaque internacional ao mesmo tempo em que o sinal de alerta segue ligado, atormentando o sonho de quem luta para diminuir esse risco.

Como o principal responsável por esse cenário é a crescente quantidade de carros no território brasileiro (na proporção de um automóvel para cada quatro habitantes, de acordo com Denatran), a tendência é o percentual continuar em alta nos próximos anos.

Ao trabalhar em uma ponta, mas ignorar outras, o Brasil deixa de criar um planejamento sustentável, necessário para um futuro limpo e sem esgotamento dos nossos recursos naturais. A crise da água na região Sudeste é um reflexo disso.

A presença de mais poluentes na atmosfera causa instabilidade climática em todas as regiões do país, resultando em estiagem em alguns pontos e inundações em outros. O planeta começa a cobrar o preço por anos de exploração predatória.

Para tentar salvar o futuro das próximas gerações, existem práticas simples que podem ser seguidas por todos. Uma delas é o plantio de árvores, que possui papel fundamental para reduzir o gás carbônico. Uma muda, por exemplo, consegue absorver 180 quilos de dióxido de carbono por ano e chega a viver por séculos. Além disso, criar políticas que estimulem transportes coletivos e alternativas mais limpas de combustíveis também trazem um ótimo retorno a médio prazo.

Por fim, é importante olhar para outras fontes que contribuem para a poluição no país. O consumo de energia elétrica, por exemplo, segue crescendo, impulsionado pelos dispositivos tecnológicos e o crescimento de datacenters, responsáveis por manter páginas da internet no ar. O Brasil corresponde a 40% de toda a infraestrutura de TI da América Latina e é responsável por 43% da energia consumida no setor. Assim, um site brasileiro, por menor que seja, joga cerca de sete quilos de dióxido de carbono por ano na atmosfera. É preciso pensar na neutralização de todos os emissores de CO2.

Enquanto o Brasil continuar focando apenas em uma ponta específica no combate à poluição, viveremos esse paradoxo incomum, onde ganhamos destaque internacional ao mesmo tempo em que o sinal de alerta segue ligado, atormentando o sonho de quem luta para diminuir esse risco.

*Vagner Luis é Diretor Executivo da GreenClick, , empresa que contribui com a neutralização da emissão de CO2 no país.

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