A sambista Juliana Ribeiro e os criadores do Criativos Dissonantes, Vitor Barreto, Tarcisio Almeida e Thaís Muniz: entusiastas da economia criativa
Fotos: Marcelo Mendonça/Rômulo Portela
“A abundância da prosperidade está na subjetividade” , já definiu Reinaldo Pamponet, criador da rede social ItsNOON, que conecta pessoas, ideias e dinheiro. Para esse baiano vanguardista, é preciso redimensionar o que tem valor na sociedade. “É que a gente acha que só vale o que a gente pega, e não o que a gente sente”, afirma.
Minom Pinho é produtora cultural e compartilha da opinião de Pamponet. Em passagem por Salvador para ministrar a oficina de Economia Criativa e Empreendedorismo Sociocultural Sustentável, realizada em novembro, a sócia-diretora da Casa Redonda Cultural defendeu que vivemos um momento histórico, no qual as pessoas estão se mobilizando de forma coletiva para valorizar o que é intangível, singular e simbólico.
Mais do que apreciar a criatividade de artistas, essa valorização está em buscar a união do simbólico com o econômico. De acordo com Minom, isso só foi possível, em especial, por causa do fenômeno da inclusão digital, que permitiu o surgimento de movimentos como a colaboração em rede, a cultura e produção livre, o Creative Commons, o mapeamento dos pontos de cultura, os investimentos colaborativos, as moedas alternativas e a economia solidária - só para citar alguns.
Nesse contexto, projetos como o Programa Cultiva, realizado na capital baiana, são criados como um espaço de troca de experiências voltadas à economia criativa e ao empreendedorismo social.
Para Gilberto Monte, fundador da IN-VENTO, empresa idealizadora da oficina ministrada por Minom, o cenário é de grande potencial, mas faltam investimento e qualificação de profissionais suficientes para esse setor.
“Nos interessa muito a perspectiva desses dois eixos voltados para a inovação social, não apenas como oportunidade de negócio, mas como fator de desenvolvimento social e econômico. Acredito na possibilidade de desenvolvermos um cenário local com base nos paradigmas de uma nova economia”, projeta Gilberto.
Para a sambista e historiadora da arte Juliana Ribeiro, estamos em um momento de transformação: “Nada é mais como na época dos meus pais, quando a pessoa se formava, tinha um emprego garantido, filhos e uma família para o resto da vida. As identidades hoje são móveis, a família não é mais o lastro estrutural; o que você tinha como significado não é mais o mesmo, então a gente tem que mudar também”.
Minom Pinho discute o tema durante a oficina Economia Criativa e Empreendedorismo Sociocultural Sustentável, realizada em Salvador
Foto: Tiago Lima
Em meio a essa revolução, a cultura deixou de ser “despesa” para os patrocinadores, e passou a ser investimento - muitas vezes feito por centenas de pequenos investidores que doam R$10,00 para um projeto de um documentário em um site de financiamento compartilhado ou compram um CD de uma banda independente na porta do show.
Artista interdependente e suas ferramentas
No mercado da economia criativa há mais de 20 anos, 15 deles sem sequer conhecer o termo, o produtor musical Rogério “Big Bross” Brito já promoveu centenas de shows e festivais, e lançou cerca de 30 artistas independentes com o selo colaborativo Bigbross Records. "Macaco velho" no ramo, Big, como é conhecido, acredita que o mercado cultural independente tem crescido muito, mas ainda de forma “individual e dispersa”.
Para Juliana Ribeiro, isso acontece devido às particularidades de um novo cenário, onde os artistas deixam de ser somente artistas para participarem de todas as etapas de produção. “Ele vai pensar nos arranjos, na capa do disco, na distribuição do material, ou seja, depois que o modelo padrão ruiu, veio não mais um, mas a fusão de vários modelos e possibilidades”, enumera. Com isso, nasce um novo artista, que ela batizou de “interdependente”.
Tal movimento faz aparecer também novas ferramentas que viabilizam esses trabalhos. Em comum, grande parte desses produtores culturais se utilizam das novas tecnologias e da internet para criar, promover, distribuir e vender seus projetos.
Mas Facebook apenas não basta. De acordo com Minon, para aproveitar plenamente esse potencial, é preciso pensar em uma metodologia colaborativa, em que haja propósito no que está sendo feito, métodos para colocar a ideia em prática e aprendizagem para evitar futuros erros.
Em organizações como o Sebrae e o projeto Qualicultura é possível encontrar serviços de oficinas, consultorias e assessoria técnica nas áreas de elaboração de projetos, prestação de contas, empreendedorismo cultural, acesso a mercados, orientação em marketing, formalização e legalização de negócios, associativismo e cooperativismo, e orientação para o crédito.
Para Thais Muniz, cocriadora do Criativos Dissonantes, projeto que agrega profissionais de diversas áreas para dividir e discutir experiências e compartilham métodos próprios para viabilizar seus trabalhos , é fundamental ter iniciativas que promovam a economia criativa como um mercado tão rentável quanto qualquer outro.
“É um momento histórico muito bom. As pessoas estão financiando umas às outras, e estão entendendo cada vez mais a importância das redes. É producente e é agregador”, conclui. Big Bross reforça: “O futuro está no coletivo, no fazer junto, no dividir as experiências”. E ele parece estar mesmo certo.
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