Fotos: arquivo pessoal/divulgação
Pouco mais de 340 páginas foi tudo que Alessandra França, 27, precisou para modificar a vida de, até agora, mais de mil famílias. Quando tinha 16 anos, o livro “O Banqueiro dos Pobres”, que narra a bem-sucedida experiência de microcrédito implantada pelo nobel bengali Muhammed Yunus, foi parar em suas mãos. Esse foi o combustível que a jovem “sonhadora, mas pé no chão”, como se define, precisava para materializar novos sonhos.
Antes, no entanto, a paranaense modificou sua própria vida. Filha de um caminhoneiro e uma costureira, Alessandra cresceu na periferia de Sorocaba, interior paulista, e começou a tomar um caminho diferente da maioria dos jovens do seu bairro aos 14 anos, quando ingressou no curso de informática e cidadania de uma ONG da cidade, o Projeto Pérola.
Tal como a concha que nomeia a instituição, Alessandra aos poucos foi revelando o seu brilho: foi a melhor aluna do curso e ganhou uma bolsa para estudar em uma escola particular. Apesar de se formar em marketing, estudar dois anos no exterior e fazer um MBA em gestão de pessoas, Alessandra nunca abandonou o projeto.
Foi monitora, instrutora dos cursos, elaboradora dos conteúdos programáticos, passou ainda um ano na gestão financeira e, por fim, chegou a coordenação-geral, cargo no qual só saiu depois de quatro anos, quando conseguiu tirar o seu sonho do papel.
Assim, depois de mais de sete anos com as palavras de Yunus ressoando dentro de si, Alessandra França se tornou a banqueira mais jovem do Brasil, ao fundar o Banco Pérola – que, na verdade, é uma Organização da Sociedade Civil de Interesse Público (Oscip). A iniciativa, que contou com a crença do próprio projeto Pérola e da organização Artemísia, já é um modelo de sucesso, e está pronto para ser replicado em outros estados – e um forte flerte já vem do Tocantins.
Dos 110 mil reais iniciais investidos para criar o banco, em 2009, o Pérola pulou para uma carteira de mais de meio milhão de ativos em mãos de microempresários entre 18 e 35 anos. O banco já beneficiou mais de 1.000 famílias e possui uma taxa de inadimplência invejável: apenas 2%, bem inferior à média de 7% dos bancos tradicionais. Confira nosso bate-papo com Alessandra:
EcoD: Você é de uma família humilde, sem muitos recursos. O que fez a diferença na sua vida foi o projeto? Qual foi o momento que você percebeu que poderia transformar a realidade a sua volta?
Alessandra França: Sem dúvidas, o projeto me ajudou muito. Mas a minha família também foi importante, meus pais sempre foram empreendedores.
Você já sentiu que a sua juventude atrapalha nos negócios?
O tempo todo. Sofremos preconceito por sermos jovens diariamente. As pessoas não acreditam que o jovem é capaz.
E ao contrário? Você já sentiu que ser diretora-presidente de um banco aos 27 anos é muita responsabilidade?
Às vezes sinto. Aí tento dar uma parada, equilibrar um pouco as atividades. E acaba dando certo.
Algum momento você desanimou?
Dizer que eu nunca pensei em desistir, nem desanimei, é mentira. Tem momentos assim e não são poucos, mas fazem parte do ser humano. Tem que tirar forças e continuar.
Como?
Todos os empreendedores que aparecem pedindo apoio te motivam a continuar.
Geralmente, os jovens de classes com menos poder aquisitivo têm poucas oportunidades e, portanto, raramente pensam em perspectivas maiores, como virar empreendedor. Você percebe isso no seu público-alvo?
Existe muito isso. A falta de acreditar no potencial. A gente tenta mostrar exemplos de iniciativas semelhantes para que isso diminua. Queremos que as pessoas se espelhem umas nas outras.
A grande maioria dos empreendedores clientes do Pérola são mulheres. Em uma entrevista anterior, você afirmou que isso não foi previsto nem houve nenhum tipo de prioridade, acabou acontecendo. Qual é a diferença entre o empreendedor masculino e o feminino?
A gente percebe que a mulher que é mais persistente, não desiste fácil e tem mais compromisso.
E qual é perfil dessas mulheres?
Tem mulheres solteiras, mas a maioria tem filhos, mesmo sendo jovens.
O que você diria às pessoas que tem um sonho e não sabe como realizá-lo?
Acho que tem que primeiro acreditar, que é o sonho. E depois fazer pequenos testes, que é o senso de realidade: ver se realmente existe público, se é um produto que o mercado vai aceitar... O primeiro passo é sonhar, para só depois fazer com aquilo aconteça.
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