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"As pessoas não acreditam que o jovem é capaz", diz a banqueira dos pobres brasileira

Pouco mais de 340 páginas foi tudo que Alessandra França, 27, precisou para modificar a vida de, até agora, mais de mil famílias. Quando tinha 16 anos, o livro "O Banqueiro dos Pobres", que narra a bem-sucedida experiência de microcrédito implantada pelo nobel bengali Muhammed Yunus, foi parar em suas mãos. Esse foi o combustível que a jovem "sonhadora, mas pé no chão", como se define, precisava para materializar novos sonhos.

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08/03/2013 às 13:00 • Atualizada em 02/09/2022 às 6:28 - há XX semanas
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Fotos: arquivo pessoal/divulgação

Pouco mais de 340 páginas foi tudo que Alessandra França, 27, precisou para modificar a vida de, até agora, mais de mil famílias. Quando tinha 16 anos, o livro “O Banqueiro dos Pobres”, que narra a bem-sucedida experiência de microcrédito implantada pelo nobel bengali Muhammed Yunus, foi parar em suas mãos. Esse foi o combustível que a jovem “sonhadora, mas pé no chão”, como se define, precisava para materializar novos sonhos.

Antes, no entanto, a paranaense modificou sua própria vida. Filha de um caminhoneiro e uma costureira, Alessandra cresceu na periferia de Sorocaba, interior paulista, e começou a tomar um caminho diferente da maioria dos jovens do seu bairro aos 14 anos, quando ingressou no curso de informática e cidadania de uma ONG da cidade, o Projeto Pérola.

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Tal como a concha que nomeia a instituição, Alessandra aos poucos foi revelando o seu brilho: foi a melhor aluna do curso e ganhou uma bolsa para estudar em uma escola particular. Apesar de se formar em marketing, estudar dois anos no exterior e fazer um MBA em gestão de pessoas, Alessandra nunca abandonou o projeto.

Foi monitora, instrutora dos cursos, elaboradora dos conteúdos programáticos, passou ainda um ano na gestão financeira e, por fim, chegou a coordenação-geral, cargo no qual só saiu depois de quatro anos, quando conseguiu tirar o seu sonho do papel.

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O tempo médio para quitação da dívida é de sete a dez meses, a uma taxa média de juros de 4,5% ao mês, para os não-formalizados, e 4% para os formais

Assim, depois de mais de sete anos com as palavras de Yunus ressoando dentro de si, Alessandra França se tornou a banqueira mais jovem do Brasil, ao fundar o Banco Pérola – que, na verdade, é uma Organização da Sociedade Civil de Interesse Público (Oscip). A iniciativa, que contou com a crença do próprio projeto Pérola e da organização Artemísia, já é um modelo de sucesso, e está pronto para ser replicado em outros estados – e um forte flerte já vem do Tocantins.

Dos 110 mil reais iniciais investidos para criar o banco, em 2009, o Pérola pulou para uma carteira de mais de meio milhão de ativos em mãos de microempresários entre 18 e 35 anos. O banco já beneficiou mais de 1.000 famílias e possui uma taxa de inadimplência invejável: apenas 2%, bem inferior à média de 7% dos bancos tradicionais. Confira nosso bate-papo com Alessandra:

EcoD: Você é de uma família humilde, sem muitos recursos. O que fez a diferença na sua vida foi o projeto? Qual foi o momento que você percebeu que poderia transformar a realidade a sua volta?

Alessandra França: Sem dúvidas, o projeto me ajudou muito. Mas a minha família também foi importante, meus pais sempre foram empreendedores.

Você já sentiu que a sua juventude atrapalha nos negócios?

O tempo todo. Sofremos preconceito por sermos jovens diariamente. As pessoas não acreditam que o jovem é capaz.

E ao contrário? Você já sentiu que ser diretora-presidente de um banco aos 27 anos é muita responsabilidade?

Às vezes sinto. Aí tento dar uma parada, equilibrar um pouco as atividades. E acaba dando certo.

Algum momento você desanimou?

Dizer que eu nunca pensei em desistir, nem desanimei, é mentira. Tem momentos assim e não são poucos, mas fazem parte do ser humano. Tem que tirar forças e continuar.

Como?

Todos os empreendedores que aparecem pedindo apoio te motivam a continuar.

Geralmente, os jovens de classes com menos poder aquisitivo têm poucas oportunidades e, portanto, raramente pensam em perspectivas maiores, como virar empreendedor. Você percebe isso no seu público-alvo?

Existe muito isso. A falta de acreditar no potencial. A gente tenta mostrar exemplos de iniciativas semelhantes para que isso diminua. Queremos que as pessoas se espelhem umas nas outras.

A história de Isabel, um das primeiras clientes do Pérola, é dos cases de sucesso do banco. Foi apenas um empréstimo de R$ 400 que mudou completamente a vida da jovem de 26 anos. Na época, ela sustentava os dois filhos (de 5 e 8 anos) com uma renda de R$ 80 mensais, do programa Bolsa Família do governo federal. Ela não trabalhava fora, porque assim gastaria quase tudo com transporte e pagamento de babá, sem ter certeza de que eles estariam tendo uma boa educação. Com o dinheiro que adquiriu do banco, ela reformou um carrinho de cachorro quente que ganhou de um tio e comprou o necessário para começar a vender lanche na porta do forró do bairro. Logo de início, começou a ganhar dez vezes mais: R$ 800. Mas então o forró fechou e surgiu concorrência, despencando as vendas de Isabel. Assim, ela percebeu que a comunidade precisava de frutas e verduras e, com o antigo débito quitado em dia, solicitou um novo crédito de mil reais para montar um hortifruti. Atualmente, o sacolão de Isabel fatura em média R$ 2 mil mensais – o suficiente para bancar a reforma da casa, fazer convênio médico para os filhos, e receber de volta o marido, que tinha ido embora.

A grande maioria dos empreendedores clientes do Pérola são mulheres. Em uma entrevista anterior, você afirmou que isso não foi previsto nem houve nenhum tipo de prioridade, acabou acontecendo. Qual é a diferença entre o empreendedor masculino e o feminino?

A gente percebe que a mulher que é mais persistente, não desiste fácil e tem mais compromisso.

E qual é perfil dessas mulheres?

Tem mulheres solteiras, mas a maioria tem filhos, mesmo sendo jovens.

O que você diria às pessoas que tem um sonho e não sabe como realizá-lo?

Acho que tem que primeiro acreditar, que é o sonho. E depois fazer pequenos testes, que é o senso de realidade: ver se realmente existe público, se é um produto que o mercado vai aceitar... O primeiro passo é sonhar, para só depois fazer com aquilo aconteça.

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