Foto: Reprodução/Facebook
Reconhecido por sua biodiversidade, o estado do Amazonas possui as maiores riquezas naturais do país. A partir desta realidade e de olho na ampla demanda por balas e doces produzidos com as frutas da região, o empresário Jorge Alberto Coelho da Silva inaugurou seu próprio negócio, em 1998. Ele ofereceu inicialmente dois tipos de balas, fabricadas a partir de cupuaçu e castanha, com produção de 200 a 300 unidades por mês.
Logo a sua empresa alavancou. Jorge Alberto conseguiu apoio de instituições de fomento, diversificou seu portfólio de produtos, incluiu novos doces e frutas, e se destacou por sua capacidade de inovação a partir de uma característica forte da região: o artesanato.
As embalagens, antes tradicionais, ganharam a simpatia dos clientes quando a empresa incluiu produtos provenientes de artesãos locais. Jorge Alberto Júnior, gerente de marketing, conta que muitos clientes buscavam a loja da marca e sentiam falta de embalagens para presente. “A proposta para diferenciar foi buscar, além dos sabores, incluir as regionalidades nos produtos. Surgiu então a ideia de utilizar artesanatos locais, como canoas, barcos indígenas, cascas de frutas, fibras e sementes”.
E o resultado foi extremamente positivo. A partir de então, diversos projetos surgiram e a consciência de comunidade ganhou ainda mais espaço nas atividades da empresa.
Desenvolvimento e valorização
Em parceria com a Fundação de Amparo à Pesquisa no Estado do Amazonas (Fapeam), a empresa iniciou um projeto para busca e catalogação de artesãos em 9 municípios do interior do estado, aptos a tornarem-se fornecedores. A primeira etapa do projeto resultou no cadastro de mais de 200 pessoas, entre ribeirinhos e indígenas.
Em cada comunidade a empresa reuniu os artesãos e promoveu cursos para profissionalização, com o auxílio do Instituto de Desenvolvimento Agropecuário e Florestal do Estado do Amazonas (Idam). Eles receberam instruções de boas práticas, higiene, acabamento dos produtos, e a criação das peças ficava a critério dos próprios artesãos. “Levamos algumas embalagens que já produzíamos e eles levavam o que já possuíam. Adaptávamos, então, a criação local para a nossa realidade”, explica Júnior.
Desde o início do projeto foram criados mais de 200 tipos de embalagens, incluindo novas matérias primas que a empresa desconhecia antes do início do projeto. Foi o caso da comunidade de Santa Isabel do Rio Negro. “É muito comum na região o uso de cambucarana. Da troca de experiências desenvolvemos novos produtos, como a geleia e o bombom”, aponta.
A empresa conseguiu ainda reverter muitos casos de exploração dos trabalhadores. “Algumas pessoas iam até as comunidades, compravam as peças e revendiam a preços abusivos. A partir do projeto os artesãos puderam aumentar seus lucros, e nós, além de diversificarmos o produto, conseguimos diminuir custos com matéria prima”.
O projeto promoveu alto impacto principalmente nas mulheres, que muitas vezes não possuíam renda própria, e a partir da produção de artesanato para a empresa puderam gerar rendimentos. A segunda etapa já está em andamento, com objetivo de visitar mais nove cidades.
Crescimento conjunto
Júnior conta que a uma grande mudança aconteceu na cidade de Barcelos. Os artesãos locais tinham como principal matéria prima a piaçava, uma espécie de palmeira utilizada para a confecção de cestos, porta joias, fruteiras e outras peças. Com o projeto, eles receberam instruções e a empresa ganhou novos formatos para as suas embalagens.
“O mais importante foi ver o impacto positivo na vida destas pessoas. Em seis meses fabricando e fornecendo para a Bombons Finos obtiveram lucro semelhante a seis anos do que já haviam feito anteriormente”, comemora.
Agroindústria sustentável
Toda a produção dos bombons e doces da empresa é feita em uma agroindústria própria, localizada na cidade de Presidente Figueiredo (AM). A propriedade conta com nove mil pés de cupuaçu, utilizados desde a obtenção da polpa, até a casca e a semente, que é revendida muitas vezes para produtores de chocolate. Do que é produzido, 70% fica na empresa e o restante é comercializado para pequenas empresas.
A indústria tem produção própria de cupuaçu e compra as outras frutas localmente. Júnior ressalta que 100% destas compras são provenientes de moradores próximos e de agricultura familiar. “Fizemos um estudo e detectamos que 70% dos frutos estragavam nas residências das pessoas, e eram descartados. Hoje nós compramos essa produção, gerando renda também para essas famílias”.
O principal resíduo gerado no processo produtivo é a casca do cupuaçu. As que não são destinadas à fabricação de embalagens, passam por um triturador e viram adubo orgânico, utilizado na própria plantação. O próximo passo na sustentabilidade empresarial é a implantação de placas para captação de energia solar.
Sustentabilidade como negócio
A profissionalização e o auxílio do Sebrae foram estratégicas nesta caminhada de 16 anos da empresa. “O Sebrae foi um grande parceiro nosso desde o começo, desde a parte de obtenção de matéria prima, de produtos regionais, até treinamento, cursos e assessorias e incentivos para participação em feiras”, relembra Júnior. “Nestas feiras pudemos conhecer os produtos que existiam no mercado e expor o que estávamos produzindo. Fomos aprimorando e adaptando o produto às regiões”.
Para ele, trabalhar com a sustentabilidade é um caminho com muitos desafios, mas repleto de recompensas. “Existem diversas formas mais fáceis para trabalhar, como utilizar uma caixa de papelão tradicional para embalagem, mais do que tomar a iniciativa de ir até uma comunidade distante e convencer as pessoas a produzirem para você. No entanto, a maior recompensa é quando você vê as comunidades se desenvolvendo a partir do seu trabalho, artesãos construindo casas, comprando eletrodomésticos, ganhando qualidade de vida. É uma experiência extremamente recompensadora, que não é só lucro, mas uma resposta para a comunidade”, ressalta.
Assista ao vídeo com o case da pequena empresa:
(Via Centro Sebrae de Sustentabilidade)
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