Empresas precisam participar, criar e compartilhar valores, defendeu Porter
Fotos: Clovis Fabiano
Por Dal Marcondes e Marina Teles (Envolverde)
Mesmo com mazelas sociais expostas, como os problemas de segurança pública e de saneamento básico, além de indicadores medíocres em questões de gênero e outras demandas ainda não atendidas, o Brasil vem subindo na escala do Índice de Progresso Social (IPS), um novo indicador apresentado pelo professor Michael Porter, da Harvard Business School, que esteve na quarta-feira, 4 de setembro, na 15ª Conferência Ethos. O País aparece em 18º lugar no ranking geral de 50 nações avaliadas pelo Instituto Social Progress Imperative.
“O progresso social é a capacidade dos países construírem políticas públicas que vão ao encontro das necessidades humanas básicas de todos os cidadãos”, explica Porter, que durante toda sua carreira trabalhou com indicadores econômicos, mas com o passar dos anos reconheceu que não é apenas de economia que vive a humanidade. O bem estar social, “é uma via de duas mãos. O progresso social também induz o desenvolvimento econômico”, completa. Neste sentido, o Índice de Progresso Social buscou separar indicadores econômicos dos sociais. “Não há uma relação direta entre investimentos financeiros de um país e seus indicadores sociais”, diz Michael Porter.
Segundo os dados levantados pela equipe de Michael Porter, o Brasil ainda precisa evoluir muito na qualidade de seus gastos públicos para atingir níveis de desenvolvimento social que outros países conseguem com menos investimentos. “Com um PIB per capita semelhante ao Brasil, há países como a Costa Rica bem acima em desenvolvimento social, mas há também outros bem abaixo, como a África do Sul”, compara Porter.
Vera Masagão, Paulo Itacarambi e Michael Porter
Indicadores Ethos
O debate com Michael Porter teve a mediação do vice-presidente do Instituto Ethos e diretor executivo do Uniethos, Paulo Itacarambi, e também a presença do presidente do conselho de administração do Grupo Fibria, José Luciano Penido, e Vera Masagão Ribeiro, diretora executiva da Abong (Associação Brasileira de ONGs). Nesta conferência também foi apresentada a segunda geração dos indicadores Ethos, que, segundo Paulo Itacarambi, além de ser uma evolução natural da primeira geração, há também um alinhamento com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) que estão sendo construídos a partir de um mandato da Conferência da ONU sobre Desenvolvimento Sustentável, a Rio+20.
“É preciso que os diversos indicadores sejam capazes de dialogar entre si”, informou Itacarambi, que completou informando que o Instituto Ethos vai trabalhar junto à equipe do professor Porter para alinhar os dois indicadores e seus objetivos.
A nova geração dos Indicadores Ethos é formada por 47 indicadores e abrange as dimensões de visão e estratégia, social, governança aliada a gestão e ambiental. As empresas podem optar por níveis de relato, entre Abrangente (47 indicadores), Ampla (36 indicadores), Essencial (24 indicadores) e Básica (12 indicadores). Itacarambi ressaltou a flexibilidade de aplicação e o formato mais amigável, além de uma interação bastante estruturada com os indicadores GRI. “Dessa forma as empresas não têm de coletar os mesmos dados com caminhos e metodologias diferentes”, observou.
Maior abrangência
O Índice de Progresso Social, por enquanto, apresenta dados de 50 países, mas a equipe realizadora espera atingir o dobro em sua próxima versão. É uma iniciativa ambiciosa que ainda tem alguns pontos que precisam de uma melhor compreensão por parte dos países e da sociedade. Segundo Vera Masagão, no caso brasileiro há diferenças regionais que não estão representadas nos indicadores do IPS. “Dados como o bem estar e garantias de direitos, além dos trabalhos realizados por centenas de ONGs por todo o país, não estão ainda refletidos na coleta de informações”, pontua.
Ela alerta que a diversidade regional não permite a comparação direta de indicadores médios de países, uma vez que em um mesmo território pode haver grande discrepância de dados. “De fato, crescimento econômico não é sinônimo de progresso social, mas outros elementos podem ser”. Vera concorda, no entanto, que é preciso mudar a visão de que o aumento do consumo é sinônimo de inclusão.
José Luciano Penido comentou que existem muitas informações por trás de indicadores que precisam de um olhar mais humano. E exemplificou a questão da mobilidade. No trânsito, acidentes são relatados como vetores de congestionamentos e não como fatos que levam à morte de pessoas. “Morrem dois motoqueiros por dia em São Paulo e isso não sensibiliza as pessoas”, questionou. Penido falou de projetos que estão sendo desenvolvidos por empresas no Brasil e que tem grande potencial de melhoria de indicadores sociais e ambientais, como o trabalho que vem sendo realizado na Costa das Baleias, no Sul da Bahia. “É uma região de baixo capital social e que precisa de apoio para melhorar seu desempenho econômico, geração de renda e empregos”, conta.
Nessa linha, Porter falou sobre a responsabilidade das empresas em atuar como indutoras de progresso social. Para ele, as empresas são detentoras de conhecimento, tecnologia e visão e não podem se omitir em participar das comunidades e países onde estão inseridas. “É preciso ir além da filantropia, da simples doação de dinheiro para projetos sociais. As empresas precisam participar, criar e compartilhar valores”. A mensagem que fica é que não basta às empresas atuarem para reduzir seus riscos. É preciso que participem com inovações.
A 15ª Conferência Ethos termina na quinta-feira (5).
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