O professor Fred Van Amstel voltou da Holanda decidido a abdicar do automóvel particular
Foto: Ivonaldo Alexandre/Gazeta do Povo
A crise econômica aliada a novos hábitos de vida e consumo tem provocado uma queda significativa no volume de carteiras de habilitação emitidas no Brasil. Entre 2013 e 2015, a quantidade de novos habilitados no país caiu pela metade (53%), informa Raphael Marchiori, do jornal Gazeta do Povo.
Houve redução em todas as faixas etárias, especialmente na de 22 a 30 anos, que chegou a 62%, e na de 31 a 40 anos, também na casa dos 60%. O setor de autoescolas culpa a recessão econômica, mas os números também revelam que o carro como objeto de desejo está perdendo espaço em tempos de crescente preocupação com o meio ambiente e de relações cada vez mais restritas aos smartphones.
Dez anos atrás, o professor Fred Van Amstel, 33 anos, até tirou sua Carteira Nacional de Habilitação (CNH). Mas há mais de cinco anos não dirige. Nesse período, fez uma especialização em Enschede, na Holanda, e voltou de lá decidido a abdicar do automóvel particular. “Procurei um bairro bem servido de transporte coletivo para o meu local de trabalho. Só sinto falta do carro aos fins de semana”.
Para ir do Portão ao Prado Velho, Amstel usa a linha Interbairros V ou a Fazendinha/PUC. “Os alunos estranharam no começo porque a maioria dos professores anda de carro. Mas esse tempo é ótimo porque vou exercendo o diálogo com eles”, conta. Mas o professor faz uma ponderação. “Tive a oportunidade de fazer esse planejamento. Muitas pessoas não têm. É um absurdo ver 200 pessoas amassadas dentro de um ônibus que não tem prioridade nas vias”.
Parte da mudança
Morador do Bigorrilho, o professor Ricardo Morris, 29 anos, engrossa a estatística dos desabilitados. Também com uma viagem longa ao exterior no currículo, ele voltou a Curitiba disposto a eliminar o carro da sua rotina. “Minha CNH venceu em julho de 2015 e não quero renovar. Pedalo, em média, 20 a 40 quilômetros por dia e me sinto parte de uma mudança”, comemora.
Para Adriana Marotti de Mello, professora da USP e estudiosa de operações sustentáveis e novas tecnologias na indústria automotiva, há uma tendência de os jovens deixarem o carro de lado. “Em cidades como Tóquio e Paris, o carro é mais um problema do que uma solução por causa dos custos. E ele nem confere mais status. O objeto de desejo hoje é um smartphone, um videogame de última geração. Uma aluna minha que mora na Avenida Paulista não tem carro porque a vaga de estacionamento é mais cara do que o aluguel”, conta.
Qualidade no transporte
A especialista avalia, porém, que isso ainda é mais comum em países desenvolvidos. “Falta disponibilidade e qualidade no transporte coletivo brasileiro”, admite.
A grave recessão que o país enfrenta afetou drasticamente a venda de bens duráveis como televisores, geladeiras e, principalmente, automóveis. De acordo com dados da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), a produção nacional de veículos leves caiu 28% entre 2012 e 2015. Já as vendas despencaram 32% no mesmo período. O último boletim Focus, do Banco Central, indicou uma previsão de retração de 3,88% no Produto Interno Bruto (PIB) em 2016, queda similar a verificada no ano passado. Para 2017, as projeções são de crescimento nulo.
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