Roman Krznaric aponta que a vida laboral é uma das questões que causam mais insatisfação e inquietação no mundo contemporâneo
Foto: Kate Raworth
“Uma das maiores razões de satisfação no trabalho não é dinheiro, mas autonomia”. A opinião é do filósofo australiano Roman Krznaric, um dos fundadores da The School of Life, na Inglaterra, e autor do best-seller Como Encontrar o Trabalho da Sua Vida. A saída para a insatisfação, explica, tem algumas alternativas: aplicar seus valores pessoais no trabalho; procurar um emprego que faça diferença no mundo; e usar seus talentos e habilidades.
Em entrevista publicada na segunda-feira, 16 de setembro, no Estadão, Roman destacou que a vida laboral é uma das questões que causam mais insatisfação e inquietação no mundo contemporâneo. “Hoje, pessoas de todas as classes sociais começam a enxergar o trabalho como algo para além da sobrevivência. É uma ocupação que pode fazer você se sentir preenchido”, conta.
Além de aulas e conferências pelo mundo, o australiano toca, paralelamente, um projeto definido por ele como “a grande ambição de sua vida”: a criação de um Museu da Empatia. “Trata-se de um lugar onde você poderá entrar e conversar com pessoas que não conhece. Assim como emprestamos livros de uma biblioteca, será possível emprestar pessoas para uma conversa”, explica.
O vídeo abaixo (em inglês) explica melhor o conceito de empatia de Roman Krznaric:
Roman, que vem ao Brasil no domingo (22) para uma palestra em São Paulo sobre o trabalho, defende que por meio dessa troca e da disseminação desse conceito de empatia seja possível fazer uma revolução: “As pessoas acham que a paz e as revoluções são construções de acordos políticos. Mas acredito que é possível que isso seja feito nas raízes das relações humanas. Desmontando ignorâncias e preconceitos”, diz.
Home-office
Ao ser questionado sobre o que pensa a respeito das pessoas que trabalham em casa, Roman considera "trágico" que nos últimos meses, especialmente nos Estados Unidos, algumas empresas tenham proibido os funcionários de praticarem o home-office. "Uma das revoluções modernas laborais, no mundo ocidental, é a ideia de trabalhar de casa", ressalta.
"Uma das razões apontadas pela maioria das pessoas que são felizes no trabalho não diz respeito à remuneração, mas à autonomia. É o senso de liberdade, o poder de decisão sobre o próprio trabalho, que cria satisfação. Mesmo que não seja o emprego dos sonhos. Trabalhar de casa é uma dessas possibilidades. Controlar o próprio horário, a disciplina", enfatiza o filósofo australiano.
Perseguir o interesse próprio foi a grande propaganda do último século, observa Roman. "Entretanto, ser humano não é apenas seguir os desejos individuais. A ideia de felicidade ocidental falhou. A introspecção, o interesse próprio, perseguir valores que não envolvam o coletivo… Temos a tendência a sentir compaixão uns pelos outros. Somos criaturas empáticas. Há estudos que mostram que compaixão dá prazer. Somos também coletivos. Formamos comunidades de todos os tipos, o tempo inteiro. As pessoas estão, cada vez mais, querendo fazer parte de algo maior do que elas mesmas."
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