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Com nanopartículas, frutos poderão ser colhidos já maduros

O estudo sobre películas invisíveis e comestíveis de proteção de alimentos tem produzido um material capaz de substituir os plásticos utilizados para envolver e proteger alimentos. A tecnologia permitirá que os alimentos sejam colhidos maduros. Atualmente, frutas e verduras são retiradas dos pés ainda verdes, ou passam por processos de amadurecimento forçado por produtos químicos, com o objetivo de aumentar seu tempo de consumo.

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25/07/2013 às 20:27 • Atualizada em 30/08/2022 às 11:08 - há XX semanas
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Com o revestimento, frutas e verduras podem levar até 20 dias para começar a se degradar após a colheita
Foto: Apple 2000

Por Heloisa Cristaldo, da Agência Brasil

O escritor francês Júlio Verne, conhecido como o pai da ficção científica, escreveu obras que ganharam o público ao descrever tecnologias e descobertas científicas muito antes delas se tornarem realidade. No livro Viagem ao Redor da Lua, de 1869, que também virou filme, o escritor antecipa as viagens espaciais do homem. Já em Vinte Mil Léguas Submarinas, de 1870, Verne criou o submarino Nautilus, 25 anos antes de o transporte que funciona debaixo da água ser viabilizado, de fato, por cientistas.

Apaixonado pela ciência, Júlio Verne não tinha formação acadêmica, mas pôde prever alguns avanços tecnológicos muito antes de acontecerem. Para o escritor, tudo que era possível para um homem imaginar poderia ser realizado.

Provavelmente, ele não pensou em algo tão específico como o progresso da tecnologia agrícola para permitir que frutas e legumes tenham mais tempo de conservação ou mecanismos que apontem o tempo ideal de irrigação do solo. No entanto, pesquisas desenvolvidas pela Embrapa Instrumentação, em São Carlos (SP), têm tido resultados promissores no estudo de nanotecnologias para o agronegócio.

Substituição dos plásticos

O estudo sobre películas invisíveis e comestíveis de proteção de alimentos tem produzido um material capaz de substituir os plásticos utilizados para envolver e proteger alimentos. A tecnologia permitirá que os alimentos sejam colhidos maduros. Atualmente, frutas e verduras são retiradas dos pés ainda verdes, ou passam por processos de amadurecimento forçado por produtos químicos, com o objetivo de aumentar seu tempo de consumo.

O revestimento poderá diminuir em até 40% o desperdício de alimentos no período que vai da pós-colheita até o transporte e a distribuição

Segundo o coordenador da pesquisa, Rubens Bernardes Filho, o revestimento poderá diminuir em até 40% o desperdício de alimentos no período que vai da pós-colheita até o transporte e a distribuição. “Além disso, a utilização dessa inovação pode agregar valor às frutas e hortaliças brasileiras destinadas à exportação", ressalta.

“A fruta é colhida um pouco verde, porque ela vai passar por um período de processamento, transporte, exposição e é ideal que chegue ao consumidor em uma situação adequada de consumo. Se conseguirmos retardar esse processo de envelhecimento, faz com que a colheita seja realizada mais tardiamente. Isso melhora a qualidade da fruta”, explica Bernardes.

Com o revestimento, frutas e verduras podem levar até 20 dias para começar a se degradar após a colheita. Sem proteção, os alimentos levam, em média, quatro dias para iniciar o processo de apodrecimento. O período varia de acordo com o tipo de alimento. A maçã, por exemplo, pode ser armazenada, em temperatura ambiente, de cinco a oito dias. Se estiver revestida, esse prazo aumenta para até 17 dias.

Revestimento por imersão

Além da maçã, a pesquisa já foi testada em manga, pera, banana, castanhas e hortaliças. Os filmes comestíveis são produzidos de acordo com cada tipo de alimento e podem ser feitos de amido de milho ou proteínas da soja. “O milho usado para o amido e o óleo da proteína são pouco utilizados, é o rejeito da indústria”, destaca o pesquisador.

Os alimentos são revestidos por imersão, banhados em uma solução líquida, e secam naturalmente. Ao secar, um filme invisível se forma na superfície, protegendo os alimentos. Esse filme diminui as trocas gasosas e cria uma barreira impedindo a perda de água do alimento. O revestimento não dispensa a necessidade de proteção, como caixas, para evitar que os frutos se estraguem no transporte até o consumidor.

“O revestimento é muito simples. É basicamente colher a fruta, higienizar, fazer uma lavagem. Uma vez higienizada, ela tem que ser envolvida por um filme”. Ele acrescentou que o procedimento, em escala laboratorial, é simplesmente molhar a fruta, por imersão, em uma solução.

As pesquisas identificaram um efeito antifúngico do revestimento que previne a proliferação dos fungos, além de inibir o crescimento de bactérias. Por outro lado, os estudos indicam que a película pode estimular o consumo. “Identificamos que, nos testes em laboratório, ratos comiam 20% a mais a ração revestida”. A tecnologia, possível devido ao tamanho nanométrico das partículas que compõem as películas, ainda não tem previsão de chegar ao mercado.

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