Dona Iraci Andrade, de 70 anos, mora no Jardim Rochdale, em Osasco (SP), e aprendeu a fazer a famosa sopa de cebola do Ceasa
Foto: Devanir Amâncio / Milton Jung / (cc)
Dona Iraci Andrade, de 70 anos, mora no Jardim Rochdale, em Osasco (SP), e aprendeu a fazer a famosa sopa de cebola do Ceasa. A cada 15 dias vai à Ceagesp, na zona oeste, buscar cebola e outros alimentos que encontra no chão ou dentro das caçambas.
"Sustento os meus quatro netos com tudo que levo daqui. É muita coisa boa no lixo. Levo só para o meu gasto e também dou um pouquinho para os vizinhos, mas conheço gente que leva pra vender, abriu uma quitandinha", relatou a dona de casa à Devanir Amâncio, presidente da ONG Educa São Paulo. Dona Iraci classifica como "pecado" o desperdício de alimentos.
Em todo o mundo o desperdício de alimentos atinge 1,3 milhão de toneladas ao ano, o que corresponde a cerca de 30% da produção mundial. Além das perdas causadas por este desperdício, o descarte de alimentos traz um grande impacto sobre a geração de resíduos. Em inúmeros países, inclusive no Brasil, o material orgânico chega a representar mais de 50% da geração total de resíduos, sendo que os alimentos são parte expressiva deste montante.
Estes dados foram apresentados no dia 12 de novembro, durante o ‘Workshop Regional sobre Resíduos Orgânicos’, promovido pela Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais (Abrelpe), em parceria com o Grupo de Trabalho em Tratamento de Resíduos Orgânicos da ISWA durante a Feira Fimai Ecomondo Brasil 2015.
“Atualmente, em países latino-americanos, os resíduos orgânicos podem representar até 70% dos resíduos gerados pelos municípios”, afirma Carlos Silva Filho, diretor-presidente da Abrelpe, ao destacar que isto requer mais atenção por parte dos gestores municipais, pois, além de apresentar potencial de aproveitamento, a fração orgânica é responsável pela maior parte das emissões de gases de efeito estufa no setor de resíduos.
Mariana Alvarenga, representante do Ministério do Meio Ambiente, afirmou que no Brasil são produzidas 94 mil toneladas/dia e 34 milhões de toneladas/ ano de resíduos orgânicos, sendo que apenas 4,5% deste total são destinados a unidades de compostagem, que fabricarão produtos como adubos orgânicos.
Maior parte
Os alimentos respondem pela maior parte dos resíduos orgânicos, que ainda contém material de poda, lodo de esgoto, papel e papelão e plástico biodegradável.
Segundo o especialista argentino Marcelo Rosso, o desperdício de alimentos na América Latina é de 15% do total produzido. Na Argentina, onde o desperdício chega a 51%, são perdidas 1 milhão de toneladas de alimentos ao ano. Por isso, uma das alternativas adotadas, em Buenos Aires, por exemplo, foi um sistema de coleta seletiva junto a áreas gastronômicas como Puerto Madero. Já o Chile, onde essa problemática também foi detectada, optou por desenvolver um modelo de coleta nas feiras livres.
Sistemas eficientes
Marco Ricci, coordenador do Grupo de Trabalho da ISWA sobre Tratamento de Resíduos Orgânicos, contou que na Europa, embora o material orgânico também represente cerca de 50% dos resíduos gerados, há sistemas eficientes de coleta seletiva e tratamento deste material, com vistas ao seu aproveitamento e destinação adequada. “Há inúmeras opções de tratamento do material orgânico, que vão de tecnologias básicas de compostagem à digestão anaeróbica e pós-compostagem”, afirmou.
Os sistemas de compostagem estão bastante presentes na Europa e incluem desde pequenas unidades de âmbito doméstico, comercial e comunitário, até plantas industriais, centralizadas e de maior porte, com capacidade para atendimento de sistemas municipais e regionais de gestão de resíduos.
Consequências do desperdício
Por não contar com um sistema efetivo de coleta seletiva e destinação adequada dos resíduos, o Brasil sofre com as consequências da gestão e destinação inadequada do material orgânico, desperdiçando um importante recurso, seja na forma de fertilizante, seja na forma de energia, além de contribuir para o aumento das emissões de gases de efeito estufa, já que o metano liberado durante a decomposição da matéria orgânica é um dos principais causadores do aquecimento global.
“O Brasil ainda precisa avançar muito na gestão dos resíduos sólidos, tanto no que se refere ao fechamento dos lixões, quanto a políticas de coletiva seletiva e de conscientização da população, não apenas sobre a fração seca, que tem sido foco de grande parte das atenções - e corresponde a cerca de 32% do total de resíduos -, mas também da fração orgânica, que representa mais de 50% e merece uma atenção especial, devido ao seu grande potencial de aproveitamento”, completa Silva Filho.
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