Cybele Amado, colhe os frutos de uma ação que começou a ser desenvolvida em 1992 na Chapada Diamantina
Fotos: Agência na Lata
Por Carolina Coelho
Com 46 anos e uma bagagem de experiências sociais nas costas, a presidente e fundadora do Instituto Chapada de Educação e Pesquisa (Icep), Cybele Amado, colhe os frutos de uma ação que começou a ser desenvolvida em 1992 na Chapada Diamantina. Em 2012, Cybele conquistou o Prêmio Empreendedor Social, da Folha de S. Paulo, em parceria com a Fundação Schwab, pelo projeto inovador de maior benefício social da América Latina.
Com 21 anos de fundação desde sua primeira formação, o instituto já ganhou cinco premiações, entre elas o Prêmio Experiências em Inovação Social, em 2006, pela Fundação W.K Kellogg e pela Comissão Econômica para a América Latina e Caribe da ONU, e o Prêmio Ashoka-McKinsey, em 2009, com o Programa Planejamento para Ganho de Escala. “O que me move é ver as crianças aprendendo e os professores tendo oportunidades de ser profissionais da educação”, acredita Cybele.
Os avanços conquistados pelo projeto reduziram os índices de reprovação e abandono escolar, aumentaram o número de crianças alfabetizadas, consolidaram espaços de acompanhamento e reflexão da prática didática, envolveram pais e comunidade na vida escolar infantil e articularam uma mobilização política a fim de tornar a gestão pública mais comprometida com os resultados da educação.
As notas do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) comprovam o trabalho e dedicação do projeto. Em 2009, as três maiores pontuações da Bahia foram de municípios da Chapada Diamantina atrelados ao programa, e, em 2011, 90% dos municípios superaram a meta projetada pelo governo federal.
A história
Foi durante um carnaval que a jovem Cybele viajou até a vila de Caeté-Açu, no Vale do Capão, distrito do município de Palmeiras, na Chapada Diamantina, Bahia. Foi aí que a estudante de pedagogia conheceu as escolas públicas da região e se chocou com a precariedade das condições do lugar.
Com 21 anos, uma mala de roupas e três caixas de livros, a recém-formada se mudou para Caeté-Açu para ser professora de língua portuguesa. “Minha escolha de ir para o interior da Bahia foi uma decisão política pela luta por direitos. Eu estava motivada a criar oportunidades para a educação da zona rural”, conta.
Lá, a pedagoga vivenciou as dificuldades da infraestrutura das escolas – que alagavam quando chovia –, o alto índice de evasão escolar e analfabetismo, a baixa formação e remuneração dos professores – que precisavam tirar do próprio bolso para comprar giz de quadro –, e o não acompanhamento dos pais na vida escolar dos filhos.
Junto com os educadores, Cybele desenvolveu e escreveu um projeto de educação para o município e o inscreveu em editais. Em 1997, o Programa Crer para Ver, financiado pela Natura Cosméticos, foi o primeiro apoio recebido, que forneceu os recursos para dar início às atividades do Programa de Apoio e Auxílio ao Professor, com objetivo de capacitar os docentes para oferecer o melhor método de ensino aos alunos.
Em três anos, os resultados foram aparecendo e mais 12 cidades vizinhas e 40 educadores se reuniram para conhecer as ações que levaram Palmeiras a ter êxito na sua meta. A vontade de fazer o mesmo em suas redes levou o movimento a criar o Projeto Chapada, em 1999, formando uma rede estruturada de técnicos das secretarias de educação locais, coordenadores e diretores pedagógicos, professores e sociedade civil, que em 2006 daria sustentação para a criação do Instituto Chapada de Educação e Pesquisa.
Formação em rede colaborativa
Cybele explica que para promover grandes mudanças educacionais foi preciso desenvolver uma cultura de cooperação com ações coletivas que integrassem a função docente. Era necessário formar uma rede de apoio, com o intercâmbio entre educadores e escolas, para promover a troca de saberes, ideias e reflexões. “A força do coletivo é essencial. Aqui todo o mundo é parte das soluções, das ações e dos problemas”.
Atualmente, os 20 municípios em parceria com o Icep envolvem 590 escolas, 4.264 professores, 324 coordenadores pedagógicos, 407 diretores escolares, 20 diretores pedagógicos e 34 supervisores técnicos para atender 89.486 estudantes do ensino fundamental I.
Organizado em ações distintas, o projeto divide-se nos núcleos Projeto Chapada (PC) e Projeto Semiárido (PSA), que promovem frentes de formação continuada aos professores, coordenadores pedagógicos, diretores escolares e equipes técnicas; e o Projeto de Educação Infantil (PEI), que contribui para as práticas pedagógicas das classes de 4 e 5 anos das redes de ensino.
A informação do conhecimento é em rede. Três gerentes pedagógicos capacitam e acompanham os coordenadores dos núcleos, que por sua vez capacitam as equipes técnicas formadoras que orientam os professores e avaliam o trabalho deles através de relatórios internos. Para ser um formador do Icep é preciso ter curso superior em pedagogia e fazer uma prova classificatória para concorrer a uma das vagas muito disputadas.
Mobilização política
Apesar da rede de colaboração municipal, intermunicipal e intraescolar, o Instituto acredita que as mudanças só são possíveis combinadas com estratégias que promovam a implantação de políticas públicas. Pensando nisso, foi criado o projeto Mobiliza pela Educação, que reúne mais de 550 membros da sociedade civil local responsáveis por criar comissões de avaliação das propostas dos fóruns de educação.
Em anos de eleição municipal, o projeto realiza o Dia E, convidando a população a debater e elaborar soluções e caminhos para a melhoria da educação na sua cidade. Todos os candidatos a prefeito assinam um termo se comprometendo a continuar a parceria com o Icep no seu mandato.
Da Chapada para o Brasil
Ainda em fase piloto, o Programa Via Escola implementado pelo Icep em um conjunto de escolas de três municípios de Pernambuco, Cabo de Santo Agostinho, Ipojuca e Jaboatão dos Guararapes, é a primeira experiência a funcionar fora do território baiano. O projeto que vem funcionando nos mesmos moldes do bem-sucedido modelo da Chapada, é uma iniciativa da Odebrecht Transport, com desenvolvimento da concessionária Rota dos Coqueiros, empresas que auxiliam com recursos para sua viabilização.
Outros pactos de implantação do projeto também estão sendo analisados em alguns municípios do Pará e do baixo sul baiano, mas por enquanto ainda são apenas fomentos à possibilidade. Mas a vontade de Cybele é conseguir expandir o modelo para toda a rede de escolas públicas brasileiras. “O sonho continua firme e não é muito difícil. Nosso país já acordou para a força do trabalho coletivo. Agora é só pensar isso visando a educação”, finaliza.
Com informações da Revista [B+].
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