A designer gaúcha vive hoje no Rio de Janeiro, onde trabalha no projeto chamado Mineo: colaboração em rede para solucionar problemas
As três palavras do título circulam os pensamentos diários de uma gaúcha, de Porto Alegre, que, aos 25 anos, acumula a experiência de desenvolver, junto com outros jovens, alguns dos maiores projetos de financiamento coletivo, engajamento social e empreendedorismo do país.
Bárbara Wolff Dick há dois anos vive no Rio de Janeiro. Mudou-se para capital fluminense para tocar em frente um projeto chamado Mineo, uma plataforma on-line que estimula a criação de uma comunidade de pessoas pensando e desenvolvendo produtos sustentáveis que solucionem problemas reais de forma colaborativa.
Mas essa história começou há mais tempo... A designer gaúcha foi convidada por alguns amigos a abrir uma empresa que trabalhasse somente com tecnologia focada em engajamento e novas economias. “Essa ideia já existia na minha cabeça, mas nunca tinha tomado forma. Antes, essa área era mais difícil de ser mapeada e compreendida, mas desenvolver tecnologia com um foco de engajamento e inovação social parecia muito interessante para mim”, conta.
Na visão de Bárbara, os processos têm liderança, nem que sejam temporárias ou mais móveis
A partir desse desejo e dedicando dias e noites em planejamento junto com os sócios, é que surge então a Engage, uma organização que desenvolve estratégias e ferramentas para se alcançar a solução ideal de engajamento para cada comunidade. “A Engage veio ao mundo para diminuir a lacuna entre a intenção e a ação”, explica Barbara. Eles trabalham com cidadania, produção colaborativa, novas economias e outras formas de inovação social.
O conceito é bem objetivo: cada projeto surge a partir de um problema comum enfrentado por uma comunidade, depois é criada uma estratégia e, em seguida, é desenvolvido um software para promover a interação entre as pessoas. O que eles querem é devolver o poder às pessoas, a capacidade de decidirem o que quer fazer, como quer fazer e o que consumir.
O resultado já pode ser visto em um portfólio de projetos que inclui Sonho Brasileiro, Nós.vc, MateriaBrasil, Portal Impulso, Estaleiro Liberdade, entre outros. Um dos mais destacados desta lista é o Catarse, o principal site de financiamento coletivo do Brasil.
Os números falam por si. No Catarse já foram realizados 456 projetos bem sucedidos e 6.167.208 milhões de reais, até o momento, arrecadados para realização de projetos propostos pela própria sociedade. “Talvez as plataformas de crownsourcing ainda não tenham atingido o mainstream, mas é quase desnecessário questionar o sucesso dessa forma de financiamento. Afinal, mais de 400 projetos conseguiram nascer com recursos da multidão. Incrível, não?”, defende Bárbara.
Objetivo do Mineo é criar produtos responsáveis, a partir de um produção sustentável e colaborativa, onde são usadas matérias-primas que tenham impacto positivo para o meio ambiente e para a sociedade
Em dezembro de 2012, a Engage lançou o Mineo, um dos principais focos de trabalho de Bárbara atualmente. Nessa plataforma, as pessoas podem publicar uma ideia de um produto, mas antes de desenvolvê-la, terá de ser validada, votada, comentada e aperfeiçoada pela própria comunidade.
O objetivo é criar produtos responsáveis, a partir de um produção sustentável e colaborativa, onde são usadas matérias-primas que tenham impacto positivo para o meio ambiente e para a sociedade. É o que eles chamam de processo de inovação aberto, onde todos colaboram e todos ganham. O resultado é a confecção de produtos de alto interesse público, vendável, e onde todos que colaboraram com aquela ideia recebem um percentual das vendas.
Qual o poder da internet nesse processo de criação coletiva?
Na sua época, todas as mídias (impressa, TV e rádio) provocaram transformações sociais profundas. A internet tem a mesma característica, porém ela é a única que comunica em múltiplas direções. A internet se posiciona como multicast, enquanto as outras são limitas ao broadcast. Com isso, a participação é catalisada, ou incentivada.
Qual o valor do fazermos juntos?
Bem, duas cabeças pensam melhor do que uma, certo?
O que acha do atual momento dos jovens em relação ao modelo tradicional de negócios?
Olha, temos uma nova geração com novas ferramentas. Teremos resultados diferentes nos próximos anos, e muita coisa nova pode surgir. Mas acredito que isso seja também parte decepção com o mercado tradicional, ou uma crise moral com esse sistema econômico. Comigo, por exemplo, trabalhei alguns anos com o mercado mais tradicional de publicidade e software, e foi uma experiência incrivelmente estressante. Assim como passou comigo, pode ter passado com mais pessoas.
Você trabalha estimulando o empreendedorismo. Para você, o que faz uma startup dar certo? Quais são as metodologias que vocês usam?
Qualquer projeto tem uma chance muito maior de dar certo se as pessoas liderando os processos estiverem interessadas nesse sucesso de forma consciente. As metodologias existem para orientar processos e não como receitas. No caso, temos a tendências de usar estratégias que tratem de processos ágeis e adaptativos, como o processo Toyota, ou sobre o que fala Steve Blank nos seus livros para startups, e até processo oriundos de metodologias de design.
Ter o dinheiro é sempre a dor de cabeça para qualquer empreendedor?
O dinheiro se torna uma questão no momento em que se vê na posse dele a solução para qualquer problema que surgir. Já vi projetos incríveis surgirem sem nenhum investimento financeiro, e projetos nem tão bons receberem alguns mil dólares e nem saírem do chão. Acho que é muito uma questão de alinhamento e clareza de modelo de negócio somado a vontade de tocar o empreendimento.
"Eu tenho muita liberdade para trabalhar o meu tempo", afirma Bárbara Wolff
Em um processo colaborativo é preciso ter um líder?
Liderança se tornou uma questão delicada hoje, não? Chame do que quiser, os processos tem liderança, nem que sejam temporárias ou mais móveis. Eu nunca presenciei qualquer processo que não tivesse algum tipo de liderança e tivesse rolado de forma clara. Da mesma forma, poucos foram os processos onde uma liderança era vista como opressora. Acho que aqui entra um pouco da confusão entre o chefe e líder. O que não pode acontecer em nenhum processo é a aniquilação da autonomia.
Hoje você divide seu tempo entre a Engage, Mineo e a Pipa. Como consegue tempo para se envolver em tantos projetos?
Eu tenho muita liberdade para trabalhar o meu tempo. É preciso entender o que eu estou afim de fazer no momento, ver como isso se encaixa na demanda, e ir em busca. É importante também estar ciente de que os projetos acabam, e que a minha participação nesses projetos também. Com objetivos à vista, fica mais fácil entender até onde eu devo ir, ou até onde o projeto vai precisar de mim. Basta estar ciente de que existem diversas pessoas envolvidas nesses processos, e muitas expectativas, para não passar por cima de ninguém, e se organizar para tal.
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