Diêgo Lôbo, ativista de Salvador, é um dos representantes do Brasil na cúpula mundial
Foto: Arquivo pessoal
Mais de 500 ativistas de todo o mundo dedicados ao tema mudanças climáticas estão reunidos em Istambul (Turquia) desde a segunda-feira, 24 de junho, para participar do Global Power Shift, uma cúpula internacional de líderes climáticos, em sua maioria jovens, organizada pela organização não governamental 350.org.
O encontro na Turquia, que segue até o dia 30 de junho, tem o objetivo inicial de criar um sentimento de comunidade e preparar os jovens para um ano de novas ações e estratégias para o movimento. "Depois, durante todo o resto de 2013, o mundo assistirá a uma onda de eventos e mobilizações nunca antes vista", afirma a organização do evento.
O Brasil será representado por 12 jovens de quatro Estados (Bahia, Pernambuco, Rio de Janeiro e São Paulo), formando a terceira maior delegação do Global Power Shift, atrás somente de China e Índia.
"Isso faz sentido, já que somos o país com maior biodiversidade e aquele com mais recursos hídricos no mundo, ao mesmo tempo em que, infelizmente, somos um dos maiores poluidores do planeta – mas, ao contrário de muitos outros, temos uma grande chance de diminuir as emissões e liderar as discussões ambientais em nível mundial", ressalta a organização do Global Power Shift.
Jovens brasileiros que participam do evento devem trabalhar por rede nacional de organizações e pessoas lutando contra as consequências das mudanças do clima
Foto: Divulgação
O EcoD conversou na terça-feira (25) com o jovem brasileiro Diêgo Lôbo, de 24 anos, que participa da cúpula na Turquia. Ele destaca a importância do evento para as discussões sobre as mudanças climáticas no Brasil, levando-se em conta que a comunidade internacional pretende elaborar um novo acordo climático para reduzir as emissões globais de gases do efeito estufa até 2015, a fim de evitar consequências mais drásticas do aquecimento global.
EcoD: Como você recebeu o convite para ser um dos representantes do Brasil no evento?
A 350.org, que é a organização que organiza o Global Power Shift, lançou um chamado para inscrição em todo o mundo. A partir das inscrições, foram feitas seleções regionais e nacionais com o objetivo de contemplar uma maior diversidade de pessoas. Então, passei por um entrevista com os organizadores, que incluía falar inglês e ter um pouco de experiência com o movimento climático.
Você participa de quais organizações atualmente?
Eu trabalho com comunicação e mobilização de recursos na Cese [Coordenadoria Ecumênica de Serviço], em Salvador, uma organização que trabalha no apoio a iniciativas populares na defesa dos direitos humanos em todo o país. Sou do grupo de voluntários da 350.org em Salvador. Nessa organização, fazemos ações e campanhas com o objetivo de chamar atenção à questão das causas, consequências e soluções das mudanças do clima. E tenho algumas outras experiências em projetos de comunicação e meio ambiente, tanto em nível local como internacional, como participação na Rio+20 (Adopt a Negotiator Project), blogueiro ambiental e autor de um livro sobre meio ambiente (E esse tal Meio Ambiente?), e participo de um grupo de jornalistas e blogueiros de diversos países reportando causas globais atuais (Think Brigade Online Magazine).
Onde você estuda?
Eu cursei Relações Públicas na Universidade do Estado da Bahia (Uneb), e me formei em 2011.
Qual é a sua impressão sobre a ameaça das mudanças climáticas ao Brasil?
Eu acho que o Brasil tem, ao contrário da maioria dos países, um grande potencial para liderar a questão ambiental global. Isso porque a maior parte de suas emissões vem do uso que faz da terra, como desmatamento e queimadas, práticas utilizadas principalmente para monoculturas e criação de gado. Também porque o país é um dos mais ricos em termos de recursos naturais, com maiores recursos hídricos e diversidade de espécies de animais e vegetais. Porém, ao invés de ter ações e bases legais que preservem esses recursos, o Brasil dá passos para trás com a aprovação do Código Florestal e construção de Belo Monte, por exemplo. E o pior é que consequências já começam a ser sentidas, como a seca que vem sofrendo o Nordeste do país ou a alteração dos períodos de chuva que têm trazido alagamentos e muita destruição.
Qual é a sua impressão sobre a primeira sessão da cúpula aí na Turquia? O que foi discutido?
Há menos de 24 horas aqui já deu para perceber que é um grupo diverso, inspirador e cheio de ideias e experiências para compartilhar. Acabamos de ter uma sessão apenas com países das Américas, com o objetivo de entender o contexto dessa região e desenvolver um plano mais estratégico para cada um dos países para o que chamamos de Fase 2, que é o mapeamento e fortalecimento de uma rede nacional de organizações e pessoas lutando contra as consequências das mudanças do clima. Pelo pouco que vi, tenho certeza que os próximos dias serão bem produtivos.
De que forma a sua participação no evento pode render bons frutos retornando ao Brasil?
Estamos em contato diariamente com outras 600 pessoas de mais de 100 países, que têm grande experiências e lições para compartilhar. Durante os dias do evento, além dos encontros nacionais e regionais, plenárias e atividades práticas, estamos sendo treinados em cinco áreas no sentido de desenvolver capacidades individuais e coletivas que são essenciais para o crescimento desse movimento que queremos integrar no Brasil, que são habilidades em comunicação e relacionamento com mídia, uso da internet para mobilizar pessoas, influência em políticas públicas, uso de arte e criatividade e organização de ações não-violentas.
Qual é a sua expectativa para o evento? Os jovens brasileiros possuem alguma proposta integrada?
Sentamos hoje pela primeira vez para começar a discutir qual será nossa estratégia para quando voltarmos ao Brasil. Estamos mapeando quais são as áreas e assuntos prioritários para nosso planejamento estratégico. Na verdade, a ideia não é voltar com algo já concreto e pronto, queremos envolver outros atores sociais, como organizações e pessoas que já trabalham nesse movimento.
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