A arte de colorir as unhas já era conhecida há mais de três mil anos, pelos mais diferentes povos, entre eles os chineses, italianos e japoneses. Tratava-se, na maioria das vezes, de uma ritual nobre, que marcava as mulheres socialmente distintas, simbolizando poder e riqueza, e talvez essa seja uma das razões que ainda fascina muitas mulheres e faz com que este hábito esteja perpetuado praticamente no mundo todo, gerando milhares de empregos e movimentando freneticamente uma indústria que não para de pensar em jeitos de inovar essa técnica tão antiga.
No entanto, se lá atrás os chineses utilizavam ceras de abelha, gelatina e buscavam pigmentos naturais para dar cor às unhas; a partir da primeira guerra mundial, a produção se tornou cada vez mais sintética, e muitas das matérias-primas utilizadas já se mostraram comprovadamente danosas à saúde humana, tais como o formaldeído ou formol, causando até mesmo o câncer, e outros males.
Na Europa e nos Estados Unidos, muitos desses componentes já tiveram a comercialização proibida, mas aqui no Brasil ainda não. Por isso, é importantíssimo o conhecimento dos componentes perigosos e o hábito de ler atentamente os rótulos para saber sua composição; e, se houver ingredientes prejudiciais, não adquirir o produto. Não podemos ficar simplesmente esperando uma atitude das autoridades: é importante zelar pela própria saúde e pelo meio ambiente.
O que são?
Tecnicamente falando, o esmalte é um produto cosmético composto por uma mistura de solventes, diluentes, agentes formadores de filmes, corantes e pigmentos (sintéticos ou naturais) que, quando aplicados sobre a superfície das unhas formam uma película plástica brilhante pela evaporação dos solventes, criando uma camada protetora contra agressões externas e cujo objetivo principal é colorir as unhas.
O solvente serve para acelerar a sua secagem e o diluente como o próprio nome diz para diluir a mistura que é plástica.
Além desses componentes básicos a indústria vem buscando acrescentar uma maior funcionalidade aos esmaltes, colocando aditivos como vitaminas no intuito de fortalecer as unhas ou até mesmo utilizando-os como medicamentos contra doenças presentes nela.
Composição dos esmaltes
A composição dos esmaltes é basicamente 85% de solventes e os 15% restantes de resinas, plastificantes e outros componentes. A seguir apresentamos os mais significantes entre eles, suas funções e males causados, de acordo com cada classe: solventes, resinas, plastificantes e corantes (as fontes das informações estão nos títulos).
1. Solventes: são substâncias capazes de dispersar outras (os solutos) em seu meio formando assim uma solução.
Acetato etílico ou butílico: possui efeito tóxico no ambiente aquático.
Tolueno: é um diluente comprovadamente cancerígeno que pode causar irritações à pele, como vermelhidão, dor e ressecamento, além de danos ao sistema nervoso central, rins e fígado por exposição repetida ou prolongada. Também é tóxico ao ambiente aquático;
Álcool isopropílico: pode causar alergia no contato direto com a pele e prejudicar fauna, flora e ambientes aquáticos, e, quando derramado no solo, poderá percolar (atravessar o solo) em parte e atingir o lençol freático, contaminando-o.
Dibutilftalato: potencial elevado de afetar alguns organismos aquáticos e causa irritação à pele.
Formaldeído ou formol: também utilizado como esterilizante, o produto pode ser absorvido via inalação ou por contato com a pele, com alto potencial de irritabilidade local e podendo causar câncer.
2. Resinas: são polímeros (plásticos) responsáveis pelas características do filme após a secagem, tais como brilho e propriedades físicas.
Nitrocelulose: é uma resina formada por uma mistura de solventes orgânicos e aditivos e é responsável pela aderência do esmalte sobre as unhas. Nociva por inalação e contato dérmico, pode provocar dermatite de contato, é proveniente de fontes renováveis, como madeira e algodão.
3. Plastificantes: auxiliam na manutenção da maleabilidade da película formada, impedindo a formação de rachaduras.
Cânfora: trata-se de um produto natural obtido das folhas da planta medicinal canforeira, é amplamente utilizado como plastificante da nitrocelulose.
Copolímero de etileno: garante a estabilidade do filme formado, cuidando para que não esfarele.
Polimetilacrilato: tem a função de unir os demais ingredientes.
Esteralcônio de hectorita: quando submetido à temperatura corporal (em torno de 36°C) provoca a evaporação dos solventes utilizados, tais como a acetona.
Poliuretano: tem a função de integrar os pigmentos evitando que eles se acumulem e depositem no fundo da embalagem
4. Corantes e pigmentos: são os componentes responsáveis por dar cor ao esmalte e podem ser de diversas fontes orgânicas ou inorgânicas, tais como rochas, minérios, flores, folhas ou podem mesmo ser produzidos sinteticamente.
Alergias
Os principais sintomas para quem é alérgico a esses produtos são: coceira e vermelhidão nas unhas, pescoço, olhos e boca, que são regiões que frequentemente estão em contato com as mãos. Descamação e ressecamento também são comuns nesses usuários.
De longe, os esmaltes são os cosméticos que mais causam alergias aos consumidores, justamente pela sua composição, sendo que 95% dos alérgicos apresentam os sintomas devido ao tolueno e os outros 5% devido à presença de formol, ambos utilizados em larga escala principalmente graças ao baixo custo, além do dibutilftalato (DPS). Esse três componentes são os retirados das fórmulas chamadas hipoalergênicas 3 free - o que não significa que elas sejam inofensivas à saúde.
Infelizmente, mais do que aparentes simples reações alérgicas locais na pele, esses componentes são perigosíssimos à saúde humana, e muitos deles podem provocar câncer e outros males. Por isso é preciso estar atento se a formula contém formol, dibutilftalato e tolueno e não usar jamais esses produtos.
Neste caso, não há outra solução a não ser suspender o uso da substância causadora da alergia. E não funciona espaçar o uso e voltar a utilizar depois, pois o organismo tem uma memória imunológica, reagindo prontamente assim que detecta o componente causador da reação. É imprescindível a procura e orientação de um médico dermatologista nesses casos e sempre que houver dúvidas em relação ao produto e seus efeitos colaterais.
Descarte das embalagens
O esmalte não é reciclável e se for lançado no meio ambiente diretamente pode contaminar os corpos d’água e solo, e se incinerado produz vapores tóxicos, prejudicando todo o ecossistema.
As embalagens de vidro são recicláveis, mas para isso é necessário que todo o conteúdo seja retirado do frasco. Para isso, escorra em um papel de jornal o máximo possível e ao que ainda restar no fundo do vidro adicione removedor de esmaltes. Agite o frasco e, quando o esmalte se dissolver completamente, despeje novamente no jornal. Resíduos mais grossos que se acumularem no bocal rosqueado do vidro podem ser removidos ao esfregar um algodão embebido. Quando a embalagem de vidro estiver completamente limpa, depois dessas etapas, ela já pode ser destinada corretamente à reciclagem.
Jamais lance o esmalte diretamente nos ralos, já que ele vai para a rede coletora de esgotos e assim pode contaminar um grande volume de água, dificultando e encarecendo o sistema de tratamento desse esgoto.
O mais correto seria que houvesse uma logística reversa consciente por parte dos fabricantes, mas infelizmente não é o que acontece no Brasil. A marca de esmaltes estrangeira Zoya tem a iniciativa de trocar esmaltes usados por cores novas de sua marca, a título de reciclar os vidros, todos os anos no Dia da Terra. Nesse sentido, pode ser eficaz uma pressão maior dos consumidores brasileiros para uma iniciativa parecida. O ideal seria a criação de legislação que regulamente tal obrigatoriedade por parte da indústria, para recolher e dar a destinação adequada a cada componente.
Alternativas naturais
Diante de tudo isso, agora sabemos que o esmalte não é um produto muito amigável ao nosso corpo e ao meio ambiente, e para nos mantermos livres desses perigos a melhor forma é nos privarmos do seu uso. Mas se para você isso é uma questão muito difícil, tente começando aos poucos, aumentando o intervalo de uso entre uma cor e outra, e quem sabe ao longo do tempo isso poderá deixar de fazer tanto sentido pra você, que poderá se habituar a ver a cor natural de suas unhas novamente.
Vale lembrar que é uma recomendação dos dermatologistas deixar as unhas naturais, sem base nem esmaltes, para que elas possam respirar e evitando assim o surgimento de doenças localizadas.
Mas não é porque elas não estarão coloridas que não poderão ficar com uma aparência saudável e bem cuidada. Para isso, capriche na hidratação das unhas e cutículas, e uma ótima sugestão natural são as manteigas de Karité e Cupuaçu, que promovem essa hidratação de forma intensa; e os óleos vegetais, principalmente o óleo de semente de uva. Você pode encontrar manteigas vegetais puras aqui e os óleos vegetais aqui. Depois de bem hidratadas, você pode utilizar uma espátula adequada para empurrar as cutículas, deixando a superfície da unha limpa. e lixá-las nas pontas e superfície garantindo uma forma regular.
Assim você pode cuidar das suas unhas mantendo-as bonitas e hidratadas sem a utilização desse cosmético tão prejudicial ao nosso corpo e ao meio ambiente, garantindo sua pegada leve.
(Via eCycle)
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