Vazamentos contribuem para o desperdício de água
Foto: Playing Opossum Press
Das 100 maiores cidades brasileiras, 90 não conseguiram reduzir as perdas de água decorrentes de vazamentos, erros de medição, ligações clandestinas e outras irregularidades, entre os anos de 2011 e 2012. A constatação integra o ranking de saneamento básico divulgado nesta quarta-feira, 27 de agosto, pelo Instituto Trata Brasil.
O levantamento, cujos dados são do Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento (SNIS), do Ministério das Cidades, revela que nestas cidades, a redução das perdas foi nula ou de até 10%.
O ranking considera perda aquela água que foi tratada e fornecida para consumo, mas que não foi cobrada porque se perdeu em vazamentos, foi roubada em ligações clandestinas ou teve erros na medição. Sem o retorno do dinheiro gasto com energia e produtos químicos para tratar a água, as empresas investem menos na melhoria do sistema.
Segundo o levantamento, em 62 das 100 cidades analisadas, se perdeu entre 30% e 60% da água tratada para consumo no ano de 2012. Em cidades como Porto Velho e Macapá, a cada 10 litros de água produzidos, 7 eram perdidos. Somente quatro municípios conseguiram manter as perdas abaixo de 15%.
“Isso é preocupante vindo de cidades que têm poder econômico para resolver essas perdas e que deveriam impulsionar a melhora deste indicador, que tem uma influência grande na expansão do sistema de saneamento básico”, afirmou ao G1 o presidente-executivo da Trata Brasil, Édison Carlos.
Sobre as cidades com perdas acima de 70%, o presidente executivo do Trata Brasil ressaltou que o quadro é de “descontrole total”. “Não há controle de vazão, de pressão das linhas. As perdas são altíssimas”.
O outro lado
A Companhia de Água Esgoto do Amapá (Caesa) contesta o dado do ranking e afirma que metade da água tratada e consumida pela população da capital é perdida – o estudo afirma que as perdas são de 73,91%, o maior índice entre as 100 cidades avaliadas.
A Caesa calcula que deixa de faturar R$ 2,5 milhões mensais com as pessoas que não pagam tarifas e desperdiçam. Elas são, em sua maioria, moradores de áreas de periferia que não têm acesso à água encanada, segundo o diretor-presidente da autarquia, Ruy Smith.
Em Porto Velho, a presidente da Companhia de Água e Esgoto de Rondônia (Caerd), Iacira Azamor, confirma que há perda de 70% da água tratada na capital. Segundo ela, um contrato para revitalização da rede de água visando reduzir as perdas será feito em setembro. A previsão é de que a obra seja concluída em um ano, reduzindo as perdas para 20%. “Hoje nosso grande problema são os furtos de água, o que também deve ser resolvido com esta obra”, afirma Iacira.
Desde 2009, o Instituto Trata Brasil elabora o ranking que avalia as condições de saneamento básico em 100 cidades brasileiras com mais de 250 mil habitantes. São analisados critérios como rede de fornecimento de água potável, coleta e tratamento de esgoto, além das perdas de água.
Escassez
O presidente executivo do instituto explica que as perdas refletem diretamente no quadro de escassez, porque quanto mais água se perde, mais do recurso precisa ser retirado da natureza. “Esse problema tem de ser o foco das empresas de saneamento”, defendeu Édison Carlos.
Cidade que atualmente enfrenta um longo período de seca, sendo abastecida pelo volume morto de reservatórios, São Paulo teve perda de 36% da água – com nenhuma redução das perdas, se comparado com 2011.
Se foram classificados os 100 municípios por ordem dos que mais perdem água, a capital paulista fica em 57º lugar.
A Sabesp rebateu os dados afirmando que, se considerado apenas os vazamentos, a empresa tem índices melhores que o de países desenvolvidos. “Esse indicador era de 20,3% no início de 2014 e já caiu para 19,8% em junho/2014. Nos melhores sistemas do mundo, como Japão e Alemanha, as perdas físicas estão em torno de 8%. No Reino Unido são de 16%, na Filadélfia (EUA) são 25,6%, na França, 26%, e na Itália, 29%”, informou a companhia em nota.
Ranking
Lideram o ranking do saneamento básico das 100 maiores cidades do país Franca (SP), Maringá (PR), Limeira (SP), Santos (SP) e Jundiaí (SP). A maioria das cidades que estão nos 20 primeiros lugares no ranking já universalizaram o abastecimento de água, a coleta e o tratamento de esgoto.
No outro extremo estão Porto Velho (RO), Ananindeua (PA), Jaboatão dos Guararapes (PE), Belém (PA) e Macapá (AP), com os piores resultados.
Das 20 cidades com melhor colocação no ranking, 16 estão no Sudeste. Apenas duas são capitais: Curitiba e Belo Horizonte. Entre as 20 piores há seis capitais: Porto Velho, Belém, Macapá, Teresina, Manaus e Natal. Veja o ranking completo aqui.
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