Ilustração: Fernando Abras/MMA
Carnaval e lixo não combinam. Ou, pelo menos, não deveriam combinar. No ano passado, em quatro dias de festa, a Companhia Municipal de Limpeza Urbana do Rio de Janeiro (Comlurb) recolheu 1.129,84 toneladas de lixo das ruas da cidade. De acordo com a empresa, os blocos foram responsáveis pela maior parte dos resíduos descartados: 639,54 toneladas contra as 465,79 toneladas produzidas pela festa na Marquês de Sapucaí. Já os números de Brasília acompanham a proporção da folia brasiliense.
Em 2015, o Serviço de Limpeza Urbana no Distrito Federal (SLU/DF) recolheu 110 toneladas de resíduos após a folia na cidade. Quarenta e quatro mil sacos de lixo foram usados na coleta.
Mas no quesito “lixo pós Carnaval”, Salvador é a campeã. Em 2015, a Limpurb (Empresa de Limpeza Urbana de Salvador) recolheu quase duas mil toneladas de lixo durante a festa. Só para o serviço de higienização das ruas de Salvador no primeiro dia de Carnaval foram utilizados 250 mil litros de água e consumidos cerca de 520 mil litros de sabão. No ano passado, o projeto “Fundo da Folia”, criado em 1994 por um grupo de mergulhadores, recolheu 706 kg de lixo da praia da Barra, em Salvador, lixo que sobrou do carnaval e foi parar no fundo do mar.
Em 2010, a ONG internacional Global Garbage postou fotos chocantes do fundo do mar de Salvador, 10 dias depois do carnaval: mais de 1,5 mil latinhas e garrafas, além de pedaços de abadás e outros objetos plásticos, foram encontrados por mergulhadores.
Mais resíduos
A verdade é que o carnaval cresceu e, junto com ele, aumentaram os resíduos deixados no caminho. Dados das empresas de limpeza que atuam nas cidades brasileiras mostram que vem acontecendo um aumento de cerca de 40% a cada ano, na quantidade de lixo recolhido após a folia. O mês de carnaval chega a ter 10% de lixo a mais produzido que a média dos outros 11 meses do ano no Rio de Janeiro, por exemplo (dados da Comlurb).
A sujeira que o carnaval deixa nas cidades é um dos maiores problemas do pós-feriado: latas de alumínio, garrafas de vidro, copos plásticos e panfletos de divulgação são facilmente encontrados nas ruas, entupindo bueiros e aumentando o risco de enchentes. Até mesmo a questão da saúde não pode ser esquecida, já que a proliferação do mosquito da dengue, da zika e da chikungunya depende de ações contra o acúmulo de resíduos.
Segundo o Instituto Akatu, o aumento do lixo gera impactos na coleta (que fica sobrecarregada), e no armazenamento nos aterros. Mas a folia pode ter menos lixo nas ruas, uso de embalagens retornáveis e menos desperdício de comida e de bebida. Cada cidadão tem sua parcela de responsabilidade com os resíduos que deixa para trás durante o carnaval.
Dicas para o folião
As principais orientações para quem vai curtir a folia nas ruas são: jogar embalagens e outros resíduos nas lixeiras mais próximas; e produzir menos lixo, evitando o uso de material descartável. Vale levar seu próprio copo ou sua própria sacolinha de lixo.
Para um carnaval mais sustentável, vale também reaproveitar aquilo que iria para o lixo, utilizando material reciclável para a criação de fantasias, adereços e máscaras; reutilizar fantasias de carnavais passados; e gastar menos combustível, utilizando o transporte público,ou carona de amigos,para chegar aos pontos da festa.
Para a diretora de Ambiente Urbano do Ministério do Meio Ambiente (SRHU/MMA), Zilda Veloso, as pessoas não podem se esquecer, mesmo num momento de alegria, da conscientização ambiental. “O próprio cidadão pode fazer a sua parte. Não custa nada ficar com uma latinha ou um copo na mão até encontrar uma lixeira. É preciso exercitar a educação”, alerta Zilda.
Brasília limpa
Além das ações de cada folião, algumas cidades têm inovado para estimular menos lixo após a folia. No carnaval deste ano, em Brasília, os blocos de rua que mais se empenharem em manter os locais de festa livres de resíduos depois do evento receberão certificados do SLU. A campanha “Bloco Brasília Limpa”, lançada pelo governo do Distrito Federal em 2014, busca valorizar o esforço dos foliões no recolhimento do lixo produzido. Os foliões devem postar fotos no Instagram, com a hashtag #BSBLIMPA, seguida do nome do bloco.
Para participar da campanha, os organizadores dos blocos precisam optar pela autogestão dos resíduos (quando se responsabilizam pela limpeza e dispensam o trabalho da autarquia) ou respeitar o prazo mínimo de cinco dias úteis de antecedência para solicitar os serviços. Outros requisitos são divulgar mensagens educativas sobre o descarte apropriado e colocar lixeiras à disposição dos participantes.
Programa Lixo Zero
No Rio de Janeiro, os foliões que vão brincar o carnaval de rua deverão ter mais cuidado com os pequenos resíduos irregularmente descartados. O Programa Lixo Zero, implantado no Rio, vai fiscalizar os maiores e mais importantes blocos da cidade. Caso o folião seja pego em flagrante jogando lixo nas ruas será passível de multa no valor de R$185,00. Se for pego urinando em via pública pelas equipes de fiscalização, o valor da multa é de R$ 510,00 (foto: Tania Rêgo/ Agência Brasil).
Folia sustentável
Com o intuito de aproximar o carnaval do Salvador à sustentabilidade, a Prefeitura da cidade lançou, desde 2014, a campanha “Eu promovo o carnaval sustentável”. A cada ação sustentável a ser praticada pelos blocos, trios, camarotes, haverá uma pontuação pré-determinada. Essas ações serão contabilizadas e, a partir da pontuação alcançada, a organização será ouro, prata ou bronze. Entre as ações utilizadas dentro dos camarotes que se destacaram em 2015 estão a separação de resíduos que são destinados às cooperativas, a coleta do óleo de cozinha, e a oferta de alimentos orgânicos nos buffets.
Com o objetivo de apoiar os catadores de material reciclável durante a folia em Salvador, a Incubadora de Empreendimentos Solidários (Incuba) da Universidade do Estado da Bahia (Uneb), em parceria com o Complexo Cooperativo de Reciclagem da Bahia (CCRB), realizará este ano o projeto “Ecofolia solidária: o trabalho decente preserva o meio ambiente”.
A iniciativa prevê a redução dos impactos ambientais causados pelo descarte inadequado dos resíduos sólidos gerados durante a festa, além da melhoria das condições de trabalho dos catadores avulsos e cooperados, e o combate ao trabalho infantil. O projeto vai beneficiar diretamente 2,8 mil catadores avulsos e cooperados. Indiretamente, a iniciativa deve gerar renda para 12 mil trabalhadores. A meta do projeto para este ano é retirar do meio ambiente 50 toneladas de material descartável.
- Veja como fica o mar depois da folia -
(Por Marta Moraes, do MMA)
EcoDesenvolvimento.org - Tudo Sobre Sustentabilidade em um só Lugar.Veja também:
Leia também:
Participe do canal
no Whatsapp e receba notícias em primeira mão!