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Gol de placa: responsabilidade social nas obras da Copa do Mundo

A dois anos da Copa do Mundo, os estádios-sede do evento mundial já começam a bater um bolão antes mesmo de entrar em campo. As mãos que preparam as arenas futebolísticas estão mais valorizadas e socialmente incluídas: é a Responsabilidade Social Empresarial (RSE) fazendo um golaço nos preparativos.

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02/05/2012 às 10:05 • Atualizada em 13/09/2022 às 9:35 - há XX semanas
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A Arena Fonte Nova conta com 28 ex-detentos na execução da sobras/Foto: Gov/Ba

Faltam dois anos para a Copa do Mundo e os estádios-sede do evento mundial já começam a bater um bolão antes mesmo de entrar em campo. As mãos que preparam as arenas futebolísticas estão mais valorizadas e socialmente incluídas: é a Responsabilidade Social Empresarial (RSE) fazendo um golaço nos preparativos.

A RSE nada mais é que um conjunto de condutas que a corporação assume em relação à sociedade, levando-se em conta que as instituições causam impactos no meio que atuam, ao exercerem influência em termos econômicos, ambientais e sociais.

A adesão de práticas de Responsabilidade Social garante bons resultados para todos os lados: inclusão social, valorização da cidadania, respeito ao meio ambiente, promoção da qualidade de vida, inclusão da comunidade do entorno, geração de trabalho e renda e qualificação da mão de obra. A única orientação da FIFA para a execução das obras, na área social, é a inclusão da comunidade local durante todo o processo.

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Além dos detentos, a Arena Pantanal conta com ex-trabalhadores escravos/ Foto: divulgação

Todas as sedes da Copa contam com programas de inclusão social, a exemplo da Arena Amazônia cujo quadro de funcionários é composto em 96% pela comunidade local. Ao menos sete estádios-sede (Brasília, Cuiabá, Belo Horizonte, Fortaleza, São Paulo, Salvador e Natal) foram além da exigência da FIFA e contam com a colaboração de um grupo geralmente excluído: detentos em regime semi-aberto ou ex-detentos nos canteiros de obras.

A inserção faz parte de um Termo de Cooperação Técnica com o Conselho Nacional de Justiça, que prevê 5% dos postos de trabalho para detentos, ex-detentos, cumpridores de penas alternativas e adolescentes em conflito com a lei. A parceria funciona assim: a cada três dias trabalhados, os detentos diminuem um na pena e ainda recebem uma bolsa de um salário mínimo.

Alforria

Aos 44 anos e quatro filhos, Nilvaldo Inácio da Silva teve uma chance de recomeçar a vida. Após trabalhar como cortador de cana e viver de alguns bicos, ele recebeu uma proposta para trabalhar em uma colheita de algodão. Chegando lá, descobriu que ganharia R$ 8 por cada 3.600m colhidos, além de morar em um alojamento sem camas, água potável e muito menos comida.

Após uma semana de trabalho, Nivaldo conta que foi exigir melhorias do trabalho com o dono da fazenda. “Foi aí que ele nos deixou na cidade com R$200 no bolso para voltarmos para casa. A única coisa que passava em minha cabeça naquele momento era que estava voltando para casa da mesma forma que saí. Precisava muito de um emprego porque minha esposa e meus filhos precisavam de mim”, conta.

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Nivaldo aprendeu a ler e escrever o seu nome, seu sonho. Foto: Tiago Falqueiro/ Portal da Copa

Mas a oportunidade de começar de bateu na porta de Nivaldo antes do que ele esperava. Sabendo de uma seleção para o consórcio do estádio ele se inscreveu e foi selecionado. Agora, não poupa elogios. “Temos comida boa para comer, alojamento limpo para dormir e emprego decente com todos os nossos direitos garantidos. Como se isso não bastasse, ainda tive a oportunidade de realizar meu grande sonho: ler e escrever”, conta ele, que hoje faz parte do Programa de Educação Básica e do Programa de Formação Técnica dos Egressos do Trabalho Escravo ou/em Situação de Vulnerabilidade, da Arena Pantanal, Mato Grosso.

Segundo a Organização Internacional do Trabalho, o trabalho análogo à escravidão é aquele exigido de uma pessoa sob ameaça de sanções e para o qual ela não se oferece espontaneamente. Além de estar relacionado a baixos salários e más condições de alojamento, inclui cerceamento da liberdade. Entre 1995 e 2010, 40 mil pessoas foram resgatadas dessa condição. A maior incidência está na pecuária e no setor sucroalcooleiro.

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Os trabalhadores frequentam a sala de aula na Arena Pantanal tendo, inclusive, aulas de educação ambiental/Foto: divulgação

O programa de inclusão de trabalhadores oriundos do trabalho escravo faz parte de uma parceria que o Consórcio Santa Bárbara-Mendes Júnior, responsável pela Arena Pantanal, firmou com a Superintendência Regional de Trabalho e Emprego do Mato Grosso e Ministério Público do Trabalho. O Consórcio foi o primeiro grupo privado a se comprometer em acolher os egressos em seu quadro de funcionários. Ao todo, 24 funcionários já foram acolhidos, alfabetizados e capacitados no canteiro.

Após a adaptação ao canteiro de obras, os colaboradores participaram do Programa de Educação Básica e do Programa de Formação Técnica, com duração de oito meses. Os cursos e o alojamento são no próprio canteiro, onde os trabalhadores têm três refeições diárias

“Os desafios foram enormes, porque foi necessário conscientizar da importância da Educação para pessoas que sobreviveram em condições degradantes. Entretanto, a iniciativa é de grande valia para o Consórcio Santa Bárbara – Mendes Júnior, porque além de ser pioneira, trouxe resultados diretos e imediatos para todos os envolvidos no processo. Investir na qualificação da mão de obra é fazer com que todos cresçam e o projeto tenha ainda mais sucesso”, conta Simone Ponce, coordenadora de Comunicação, Responsabilidade Social e RH do Consórcio Santa Bárbara – Mendes Júnior.

Certificação

A adesão das práticas de RSE já tem rendido frutos aos consórcios. No início de março, a obra do Estádio Nacional Mané Garrincha, em Brasília, conquistou a certificação de responsabilidade social internacional SA 8000. A certificação SA 8000 (Social AccountAbility 8000) avalia as condições de trabalho nos empreendimentos.

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O Estádio Nacional de Brasília foi pioneiro a receber o selo SA 8000 nos estádios e agora procura o LEED Plantinum/Foto: Brasília 2014

O certificado só é concedido àquelas organizações que cumprem totalmente os requisitos, que envolvem os seguintes aspectos: proibição do trabalho infantil e do trabalho forçado, segurança e saúde no trabalho, liberdade de associação e direitos coletivos, proibição de discriminação (sexual, raça, política, nacionalidade etc) e remuneração e carga horária de trabalho adequadas, entre outros.

Além da certificação, os resultados também podem ser conferidos na prática: atualmente, a obra do Estádio Nacional de Brasília Mané Garrincha é uma das mais adiantadas do Brasil, com 56% de sua execução concluída.

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