Vuvuzelas fizeram sucesso na Copa da África do Sul. Foto: Divulgação
Destacar os casos de sucesso da Copa do Mundo de futebol de 2010, realizada na África do Sul, com o objetivo de influenciar a sustentabilidade dos dois megaeventos esportivos programados para o Brasil nos próximos anos: Copa de 2014 e as Olimpíadas de 2016. Este é o objetivo de um relatório lançado na terça-feira, 9 de outubro, pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma).
O órgão da ONU assinou um acordo com o governo brasileiro para ajudar a tornar "verdes" os dois grandes eventos esportivos que o Brasil sediará nos próximos quatro anos, a fim de continuar o trabalho que tem feito em Jogos Olímpicos desde 2004 (Atenas).
A avaliação independente mostrou que a pegada de carbono da Copa do Mundo de 2010 foi muito menor do que o previsto, devido ao número de visitantes (que foi menor do que o esperado), aos esquemas de carona e às alternativas eficientes de estadia, o que cortou o uso de energia em 30%. A utilização de tecnologia solar e de outras formas de energia renovável também contribuíram para o resultado. A pegada de carbono foi de 1,65 milhão de toneladas de CO2 equivalente, que pode ser comparada à projeção de 2,64 milhões de toneladas.
O Pnuma trabalhou com o governo sul-africano no projeto Gol Verde 2010 para promover iniciativas como o corte da pegada de carbono, redução do uso de água, menor produção de resíduos e conservação da biodiversidade. Tais iniciativas devem ser levadas para o próximo nível no Brasil, com o objetivo de criar eventos cada vez mais verdes.
Pensar verde mais cedo
Ao mesmo tempo em que esse estudo, financiado pelo Fundo Mundial para o Meio Ambiente (GEF), identifica muitas iniciativas bem sucedidas, ele também mostra certa falta de foco ao se tratar de considerações ambientais na fase de planejamento da Copa do Mundo, sendo um dos motivos para esse potencial não ter sido explorado ao máximo.
“O relatório aponta muitas iniciativas exemplares, mas talvez a descoberta mais importante é que a África do Sul poderia ter obtido conquistas maiores se as medidas de sustentabilidade tivessem sido pensadas mais cedo e não no último momento”, observou o subsecretário-geral da ONU e diretor executivo do Pnuma, Achim Steiner. De acordo com Steiner, o estudo mostra que a realização do "potencial de esverdeamento" desses megaeventos se torna mais possível se a sustentabilidade é levada em conta desde o início, durante o planejamento, elaboração do projeto e construção.
Boa parte dos estádios da África do Sul utilizou fontes renováveis de energia, como a solar fotovoltaica. Foto: Reprodução
Apesar de algumas dificuldades na compilação de dados suficientes para avaliar completamente o desempenho verde do torneio, o relatório destacou muitos exemplos concretos de sucesso, incluindo os seguintes:
- O estádio Moses Mabhida, em Durban, incorporou iluminação inteligente em eficiência energética como parte do seu Sistema de Gestão de Edifícios para reduzir o uso de energia em 30%, enquanto o estádio Green Point, na Cidade do Cabo, utilizou também sistemas de ventilação natural para reduzir o consumo de energia;
- A Cidade do Cabo aperfeiçoou a iluminação das ruas com lâmpadas de baixo consumo e semáforos de LED para cortar o seu perfil de emissões;
- Durban compensou a sua pegada de carbono com sequestro de carbono (com o plantio de 104 mil árvores) e implementou outras medidas previamente planejadas, tais como energia de hidrelétricas e sistemas de biogás;
- Foram construídos 94 quilômetros de rede de Bus Rapid Transit (BRT) em Joanesburgo, além de outras redes semelhantes, ciclovias, sistemas de transporte coletivo e passarelas na baía Nelson Mandela, Nelspruit, Polokwane, Rustemburgo e Bloemfontein. Todas essas medidas contribuíram para reduzir a pegada de carbono do evento.
- Sistemas de despejo de lixo foram usados na maioria das áreas de maior público, que em Durban levaram à reciclagem de quase 200 toneladas de resíduos gerados durante as partidas – batendo a meta verde de Durban em 4%.
O relatório também fez uma série de recomendações para melhorar o aspecto ambiental dos futuros eventos esportivos de grande porte, como a Copa do Mundo de 2014 no Brasil. Algumas das principais conclusões e recomendações são:
- Devido ao fato de a omissão de considerações ambientais ser uma das 17 garantias da Fifa para sediar a Copa do Mundo Fifa™, o esforço investido em gestão ambiental não é suficiente. Essa questão merece séria consideração por parte da Fifa;
- Diretrizes ambientais, inclusive para as cidades-sede, devem ser claras e legalmente vinculantes. Práticas específicas devem ser inegociáveis, mensuráveis e ter o respaldo da lei;
- A Fifa deve considerar compensar sua própria pegada de carbono e incentivar seus parceiros a fazer o mesmo;
- É essencial um compromisso por escrito e publicamente declarado por todas as partes interessadas na ‘ecologização’ do evento;
- Oportunidades de financiamento de iniciativas ambientais devem ser exploradas mais cedo para evitar situações em que os programas planejados não foram implementados devido à falta de fundos; o comitê organizador deve alocar mais recursos para iniciativas ecológicas;
- Geração de dados ambientais é importante para a avaliação. A ausência de dados ambientais da Copa da África do Sul tornou difícil avaliar o impacto de suas iniciativas;
- O relatório também fornece um modelo de uma lista de controle de desempenho ambiental em eventos de grande número de espectadores, que serviria como uma ferramenta simples para a integração de questões de sustentabilidade.
- Baixe o relatório na íntegra (em inglês) -
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