O Banco Comunitário União Sampaio fica localizado no bairro Jardim Maria Sampaio, na periferia da zona Sul de São Paulo. Criado em 2009, é uma iniciativa dentro da ONG União Popular de Mulheres, fundada em 1987 para lutar pela emancipação da mulher e pela igualdade nas relações sociais. Surgiu no contexto do projeto Economia Solidária para as Regiões Periféricas de São Paulo, junto a quatro outros bancos comunitários.
O principal diferencial do banco comunitário é o foco no desenvolvimento local – não na geração de lucro. O empréstimo é feito em moeda social – o Sampaio – que tem lastro no Real, o que garante que, para cada S$ 1,00 em circulação, existe de fato R$ 1,00 nos “cofres” do banco. O objetivo é fomentar a economia solidária e popular, prestando serviços bancários e financeiros a pessoas que estão à margem do sistema financeiro tradicional.
Entre os diversos serviços financeiros que o banco comunitário oferece, os produtos de financiamento são os mais procurados. Como o propósito é social, o crédito é barato. No caso do crédito para consumo, por exemplo, não há cobrança de taxa de juros. Já no crédito produtivo [usado para investir em algo que gere renda], o juro cobrado é simples. A intenção é socorrer quem precisa de dinheiro em um momento de necessidade e garantir que essa pessoa devolva ao banco a quantia que pegou emprestada, sem, no entanto, ser obrigada a pagar juros exorbitantes.
Para acessar os créditos, é preciso ir pessoalmente ao banco e fazer uma solicitação. Depois disso, a pessoa recebe em sua casa a visita de um analista de crédito para preencher um questionário socioeconômico. A aprovação das solicitações ocorre com o aval das pessoas da comunidade, que conhecem quem está solicitando o empréstimo, e com a participação dos trabalhadores do banco no Conselho de Análise de Crédito. É o chamado “aval solidário”. O próprio solicitante indica quem são as pessoas que podem validar sua proposta e elas são entrevistadas pelo analista de crédito.
Quando aprovado, o crédito é concedido em Sampaios. De posse desse dinheiro, a pessoa que pegou o empréstimo pode começar a consumir nos estabelecimentos comerciais que aceitam a moeda social. Essa é uma forma de fazer com que o dinheiro circule localmente, ampliando as vendas e gerando, por consequência, mais trabalho e renda na comunidade. Os comerciantes que aceitam a moeda social podem trocá-la posteriormente no próprio banco comunitário, recebendo em Reais o valor equivalente.
A equipe envolvida na administração do Banco Sampaio é formada prioritariamente por jovens engajados nas lutas sociais da periferia. Todos têm muita consciência do impacto que geram com o trabalho e levam o dia a dia como uma missão a ser cumprida no grande desafio da inclusão social. São jovens articuladores, que fazem pontes com outros projetos e coletivos, buscando conectar propósitos e melhorar a qualidade de vida da “quebrada”.
Justamente por serem jovens articulados com as dinâmicas culturais da região, criaram no Banco Sampaio uma linha de crédito voltada a produções culturais locais. Isso possibilitou criar uma rede de troca de contatos e serviços ligados às produções culturais, que acabou extrapolando a região de atuação do banco e ganhando espaço por outros bairros e distritos da zona sul. O fomento financeiro foi ficando limitado diante da demanda. Olhando para esse cenário, os jovens que trabalham no banco convocaram a comunidade para falar de economia solidária. Desse encontro, surgiu a ideia de fundar a agência, batizada em homenagem ao poeta Solano Trindade, o “poeta do povo”.
A Agência Solano Trindade atua no desenvolvimento econômico cultural da região e presta serviços a preços populares e que são gerenciados com a participação do seu público. A agência repassa ao Banco Sampaio um percentual fixo de tudo o que arrecada em seu trabalho, de forma que o banco aumente sua capacidade de empréstimo. O objetivo da agência é fomentar a cultura popular através da viabilização financeira da produção artística da periferia, o que passa pelo fortalecimento de uma rede de comercialização e atividades que disseminem os princípios da Economia Solidaria.
Também optaram por usar uma moeda complementar - os Solanos -, para facilitar a troca de produtos e serviços. Ao contrário do Sampaio, o Solano não tem lastro em Real. Quem se cadastra no site da agência recebe, de largada, 200 Solanos. Esse valor serve para pautar as trocas entre as pessoas cadastradas. Uma banda que precisa de um fotógrafo para documentar um show pode buscar na plataforma da agência alguém que ofereça serviço de fotografia. O fotógrafo “contratado” recebe Solanos e pode usar a moeda para contratar um serviço de seu interesse, de tratamento de imagem, por exemplo. E por aí vai.
Para a agência, a função da moeda cultural é simbólica. “As pessoas estão acostumadas a fazer trocas no dia a dia usando papel moeda, então se sentem mais à vontade quando existe um papel na transação, mesmo que ele não tenha valor financeiro em si. Na verdade, não passa de escambo.”, explica Thiago Vinicius.
Nada como voltar às origens, não é mesmo?
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