Raízes secas: processo de desertificação ameaça a agricultura chinesa. Foto: CIMMYT
País mais populoso do mundo, com cerca de 1,4 bilhão de habitantes (dados de 2011), a China tem sido castigada pelas mudanças climáticas. Houve no gigante asiático aumento das secas e tempestades de areia, conforme o Deserto de Gobi invade a Planície Norte, local no qual muitos rios estão secos e interrompidos, perdendo sua capacidade de repor a água subterrânea e carregar areia e sal, segundo informou reportagem do Estadão publicada na quarta-feira, 25 de julho.
Como a densidade populacional aumentou, a sobrevivência de cidades e fazendas agora depende do bombeamento de águas subterrâneas que estão recuando. O esgotamento dos aquíferos é uma ameaça. O número de poços subiu de 150 mil em 1965 para 4,7 milhões em 2003, e para dezenas de milhões hoje, por causa dos preços de água abaixo do custo e à disseminação de tecnologia barata de bombeamento.
De acordo com a matéria assinada por Norman Gall, a extração excessiva de água subterrânea em 2002 baixou os lençóis freáticos em até 50 metros e em até 90 metros em aquíferos profundos – perfurados a profundidades superiores a 1 mil metros hoje. O esgotamento dos aquíferos apressa a secagem de lagos e pântanos e aumenta a salinidade, conforme a água marinha invade as cavidades subterrâneas esvaziadas. A compactação de aquíferos esgotados destrói sua capacidade de armazenamento e, portanto, sua utilidade como reserva estratégica em anos secos, o que agrava o impacto de secas e desertificação em algumas áreas.
Irrigação e desigualdade
A Planície Norte, que abriga cerca de 500 milhões de pessoas, abrange 65% das terras cultiváveis da China, mas apenas 24% de seus recursos hídricos, que produzem 80% de seu milho e trigo. O planalto é seco. Os agricultores dependem da irrigação, mas tal processo desperdiça muito o recurso. Apenas metade da água que vem dos canais principais efetivamente chega aos campos.
Entre 1965 e 1975, apesar das convulsões da Revolução Cultural, a área de irrigação quase dobrou, com investimentos em infraestrutura de água aumentando 10% por ano. Mas falta aos canais revestimento para proteger contra infiltração e esforços de conservação, o que causa deterioração estrutural de sistemas de irrigação locais por toda a China, com canais entupidos e dilapidados por lama e detritos.
A irrigação ampara 80% da produção chinesa, principalmente de trigo, milho, arroz, algodão e hortaliças, cultivadas por mais de 245 milhões de famílias em pequenos lotes. A pressão sobre os recursos hídricos se intensifica com duplas colheitas, com trigo crescendo no inverno e milho no verão.
O esgotamento das águas subterrâneas é tendência mundial, conforme a atividade econômica se intensifica e os níveis de consumo aumentam, com impactos variados em países como EUA, Índia, Paquistão, México, Arábia Saudita e Iêmen, para citar alguns. A China é especialmente vulnerável por causa do tamanho e da densidade da sua população e pela súbita onda de crescimento urbano, econômico e de padrões de vida nas últimas décadas. As pressões são mais urgentes nas cidades.
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