Não são apenas os cerca de 1,1 bilhão de fiéis ao redor do mundo que estarão de olho na chaminé da Capela Sistina nos próximos dias. A fumaça que anunciará o novo papa, além de dias mais ensolarados para a instituição, conterá ainda a esperança de que o próximo pontífice continue o legado ambiental construído nos últimos papados.
Desde o papado de João Paulo II, o polonês Karol Wotija, a Igreja se posiciona contra a degradação ambiental. O papa João Paulo teve um papel ativo no reforço sobre os perigos de a comunidade internacional não agir imediatamente para evitar um desastre ambiental, inclusive se pronunciando publicamente sobre o tema na Rio 92 e na Rio +10.
Mas foi o agora papa emérito Bento XVI que implantou medidas importantes no Vaticano em relação à sustentabilidade ambiental durante seu papado.
Além de se locomover com o primeiro “Papamóvel verde” – um Mercedes M-Class Híbrido, depois seguido por dois veículos elétricos feitos pela Renault especialmente para ele –, o alemão Joseph Ratzinger implantou energia solar em todo o Vaticano, tornando-o neutro em carbono “o Estado mais verde do mundo”, além de ter promovido uma conferência científica para discutir o aquecimento global e as mudanças climáticas.
Mas não foram essas iniciativas isoladas que lhe renderam o apelido de “Papa Verde”. Bento XVI defendeu ferrenhamente que, sendo o meio ambiente um presente de Deus, a sua conservação para futuras gerações é obrigação moral. Suas pregações nesse sentido foram intensas a ponto de um dos seus cardeais declarar o dano ambiental como um dos pecados modernos.
De tanto pregar sobre o tema, Bento XVI chegou a publicar em 2012 uma coletânea de seus textos no livro O meio ambiente. O papa emérito ainda conclamou a comunidade internacional a agir para conter as mudanças do clima por diversas vezes.
“A proteção do ambiente, a salvaguarda dos recursos e do clima obrigam todos os líderes a agirem juntos, no respeito pelo direito e promovendo a solidariedade com as regiões mais necessitadas do mundo”, pregou ele na 15ª Conferência da ONU sobre as Mudanças Climáticas (COP-15) em 2009, na Dinamarca.
Nesse mesmo ano, na encíclica Caritas in Veritate, o ex- pontífice passou a defender uma concepção de ambientalismo mais holística, que não só vai além da degradação do meio ambiente físico em si, bem como “contamina” o meio humano moral e culturalmente. “Entre os rejeitos tóxicos que ameaçam o ambiente humano do Ocidente, aponta o papa persistentemente, estão as práticas do aborto e da eutanásia”, explica George Weigel do Ethics and Public Policy Center.
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