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SUSTENTABILIDADE

Pequenos negócios mostram práticas inspiradoras durante a Conferência Ethos 360

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25/09/2015 às 15:43 • Atualizada em 29/08/2022 às 14:04 - há XX semanas
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Evento reuniu cerca de mil pessoas, entre lideranças, gestores e empreendedores, para discutir o desenvolvimento de negócios inovadores e sustentáveis

Cada vez mais iniciativas de pequenos negócios sustentáveis se multiplicam em todo o Brasil, gerando grandes impactos positivos nas comunidades onde atuam. Com práticas inspiradoras, quatro empresários mostraram que fazem a diferença e contaram suas histórias de superação e sucesso durante a Conferência Ethos 360° 2015, realizada nos dias 22 e 23 de setembro, no WTC, em São Paulo (SP). O evento reuniu cerca de mil pessoas, entre lideranças, gestores e empreendedores, para discutir o desenvolvimento de negócios inovadores e sustentáveis.

A convite do Centro Sebrae de Sustentabilidade, o apresentador Cazé Peçanha mediou os diálogos em dois painéis, divididos nos temas Turismo Sustentável e Cadeia Produtiva Têxtil. Entre os assuntos abordados, o destaque foi o papel do pequeno negócio no desenvolvimento local e sustentável.

Turismo que transforma realidades
O primeiro painel, realizado no dia 22, reuniu duas iniciativas que fazem da lucratividade e preservação aliados no setor de turismo. Com o tema “Viagens, conhecimento e preservação: como os pequenos negócios e o turismo sustentável estão transformando realidades”, os empresários Vitória Da Riva, do Cristalino Jungle Lodge, localizado no Estado de Mato Grosso, e Rafael Goelzer, da Fazenda Quinta da Estância, no Rio Grande do Sul, mostraram que, apesar de geograficamente distantes, são muito próximos quando o assunto é educação ambiental e respeito a biodiversidade.

Localizado em Alta Floresta (MT), a 791 km da capital de Mato Grosso, Cuiabá, o hotel de floresta Cristalino Jungle Lodge está instalado em uma área de 12 mil hectares de floresta amazônica, transformada em Reserva de Patrimônio Particular (RPPN) ainda nos anos 90, quando a busca por ouro devastou grande parte das florestas da região. “No início, a cidade não contava com muita estrutura e nós tínhamos apenas um acampamento. Era difícil convencer as pessoas”, conta Vitória.

Com o passar dos anos, o hotel foi ganhando novas estruturas, e hoje conta com confortáveis instalações que recebem cerca de 900 hóspedes por ano, público formado principalmente por estrangeiros que procuram imersão na floresta para maior contato com a biodiversidade. Os grupos são de, no máximo, oito pessoas, para minimizar os impactos no local. Entre as atividades, a mais procurada é observação de aves. “Existem hoje, no Brasil, cerca de 1800 espécies de aves, sendo que um terço delas é encontrada na Reserva Cristalino”, afirma Vitória.

O impacto positivo do empreendimento também chega à comunidade local

Guias capacitados acompanham todo o trajeto pelas trilhas em meio à floresta. Entre eles, destaca-se a história de Francisco, que trabalha há 18 anos no local. Ex-garimpeiro e atual entusiasta da preservação e educação ambiental, seu relato foi mostrado em vídeo aos participantes da Conferência. “Eu já gostava de aves desde pequeno. Sempre estava no mato procurando ninhos, passarinhos. Mas o meu sonho mesmo foi realizado aqui, no Cristalino”, conta entusiasmado. “Quando recebi a primeira oportunidade de acompanhar os grandes ornitólogos brasileiros e estrangeiros, sempre estava lá. Via um beija-flor e perguntava ‘que beija-flor é esse?’. Já olhava o livro e ia conhecendo mais sobre cada espécie”.

O impacto positivo do empreendimento também chega à comunidade local. “A maioria da mão de obra contratada é da comunidade local. Capacitamos e pagamos salários acima da média. O turismo ajuda na conservação, que por sua vez ajuda no negócio”, ressalta Vitória.

Com o mesmo entusiasmo, o empresário Rafael Goelzer conta a história da Fazenda Quinta da Estância, localizada em Viamão (RS), a 10 km da capital do Rio Grande do Sul, Porto Alegre. Com foco em turismo rural e pedagógico, a propriedade tem cerca de 100 hectares e recebe, anualmente, aproximadamente 90 mil pessoas interessadas no contato com a natureza, além de vivência de conteúdos aprendidos em colégios e empresas.

“Meus pais tiveram a oportunidade de, quando crianças, viver no campo. Quando tiveram filhos resolveram comprar um sítio para dar essa chance também a nós, já que na época viviam em Porto Alegre. Minha mãe era professora e quis dar essa oportunidade também aos seus alunos. A coisa foi crescendo e hoje somos a maior fazenda deste modelo no país”, conta Rafael com orgulho.

Entre as atividades encontradas no empreendimento estão trilhas ecológicas, turismo de aventura, contato com animais domésticos, banhos de piscina e açude, visitas a viveiros de imersão e inversão, conceito único no país, onde o visitante vive a experiência de animais presos em cativeiro. Outra atividade realizada pelo empreendimento é o recolhimento e reabilitação de animais vítimas do tráfico apreendidos pelo IBAMA.

Rafael conta que a empresa neutraliza toda a emissão de carbono de suas atividades. “Contabilizamos as viagens de cada grupo, levando em consideração tipo de deslocamento, distância, e neutralizamos com o plantio de árvores. A minha viagem até aqui, por exemplo, também será neutralizada”. A Fazenda Quinta da Estância foi o primeiro empreendimento turístico no Brasil a assinar o Pacto Global das Nações Unidas e a receber o Certificado de Neutralização de Carbono (Carbon Free).

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O segundo painel, realizado no dia 23, reuniu as iniciativas de Natacha Barros e do austríaco Gerfried Gaulhofer, da Pano Social, de São Paulo (SP), e Hari Hartmann, da Camisas Polo Salvador, de Salvador (BA)

Impactos na cadeia produtiva têxtil
O segundo painel, realizado no dia 23, reuniu as iniciativas de Natacha Barros e do austríaco Gerfried Gaulhofer, da Pano Social, de São Paulo (SP), e Hari Hartmann, da Camisas Polo Salvador, de Salvador (BA). Com o tema “Moda responsável: o papel dos pequenos negócios na sustentabilidade da cadeia têxtil”, eles mostraram que é possível produzir reduzindo os impactos no meio ambiente e aumentando o valor social de cada peça.

A Camisas Polo Salvador é uma indústria de confecção que atua há 20 anos no mercado. Hari conta que a sustentabilidade nem sempre esteve presente no dia a dia da empresa. “Por volta de 2008, com a invasão dos tecidos chineses no país, as coisas ficaram muito difíceis. Foi aí que percebi que haviam poucos fornecedores verdes e vi a oportunidade de negócios ao me tornar um”, lembra o empresário.

Hoje, a empresa possui capacidade instalada de duas mil peças, uma linha de camisas com 50% poliéster de garrafas pet, e mais de 30 ações de sustentabilidade, entre geração de energia com placas fotovoltaicas, captação de água da chuva, instalação de maquinários mais eficientes, e disponibilização de bicicletários. As iniciativas renderam economia de aproximadamente 90% de água e 30% de energia.

A preocupação com os altos impactos negativos da indústria da moda no meio ambiente é uma constante

Para Hari, a satisfação do funcionário é a maior meta. “Somos muito preocupados com o bem estar de nossos funcionários. Pagamos bons salários, fornecemos plano odontológico, cadeiras ergonômicas e colchonetes para descanso entre os turnos. Além disso, eles recebem por produtividade e por manter o ambiente limpo e organizado. Todos os meses fazemos uma festinha para manter um bom clima”, conta orgulhoso. “A gente sabe que a motivação é a alma dos resultados. Se os colaboradores estiverem motivados, os resultados aparecem”.

Gerfried e Natacha também compartilham dos ideais de preservação do meio ambiente e valorização social. Com um ano de atividade, a Pano Social nasceu com base no cradle-to-cradle, conceito que busca a inovação com objetivo de criar um sistema produtivo circular “do berço ao berço”, onde não existe “ lixo”. “Nosso foco é slow fashion, com design atemporal, estimulando o consumo consciente”, explica Gerfried.

Os empresários verificam cada etapa do processo produtivo, desde a matéria prima até a confecção. “Nós terceirizamos a nossa produção, conforme a demanda, mas cada oficina é visitada para garantir as boas condições de trabalho”, conta Natacha.

A preocupação com os altos impactos negativos da indústria da moda no meio ambiente é uma constante. “Usamos apenas algodão orgânico, ou malha 100% pet, e corantes naturais, ou, quando não é possível, que a empresa têxtil use corante a base d’agua e filtre a água para devolver aos corpos hídricos. Também exigimos, em contrato, que a oficina empregue um ex detento na produção”, relata Natacha.

A opção de trabalhar com ex detentos vem do desejo de mudança da realidade social. “Hoje, cerca de 70% dos crimes cometidos em São Paulo são feitos por ex detentos. Mas que opções existem se não damos oportunidades de trabalho? Trabalhamos para capacitar e integrar essas pessoas novamente no mercado de trabalho. O retorno é muito positivo, eles agarram a oportunidade com toda força e empenho”, garante.

O apresentador Cazé Peçanha finalizou a conversa levantando a questão sobre o papel de cada consumidor na trilha da sustentabilidade. “As histórias que vemos aqui são sensacionais. Eles realmente estão fazendo as suas partes. Mas nós, como consumidores, também precisamos ser mais ativos. Se fizermos cinco por cento do que eles fazem, imaginam o impacto?”, refletiu.

(Por Jéssica Ferrari, do Centro Sebrae de Sustentabilidade)

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