Zuenir já era jornalista experiente quando foi enviado para cobrir o assassinato de Chico Mendes
Foto: Paulo Fehlauer
Quando foi enviado ao Acre para cobrir o assassinato de Chico Menos pelo Jornal do Brasil, o jornalista Zuenir Ventura tinha 33 anos de carreira, um currículo invejável e, conta-se a lenda, nenhum centímetro de simpatia pelo movimento ambientalista.
Na volta, um mês depois, não estava somente completamente convertido à causa, como também escreveu uma série de reportagens suficientes para levar o maior prêmio de jornalismo do ano, o Esso, conteúdo que resultou ainda em um livro considerado uma das maiores obras do jornalismo literário brasileiro: Chico Mendes: crime e castigo.
Zuenir Ventura participou no dia 14 de novembro de um Café Literário na XI Bienal Internacional do Livro da Bahia. Ao lembrar um pouco do seu primeiro best-seller 1968: o ano que não terminou – escrito um pouco antes da morte de Chico Mendes -, Zuenir comentou sobre as manifestações de junho e a importância do otimismo nos jovens.
“Os jovens de junho queriam quebrar paradigmas. Será uma pena se aquelas manifestações não forem retomadas, pois a pior coisa que pode acontecer na juventude é o desencanto”, declarou ele, que também criticou a violência empregada pelos Black Blocks. “Em 68, não tinha ninguém de cara escondida e o contexto era bem pior – não só se poderia ir preso, como torturado”.
Legado
Com pouco menos de um mês para o aniversário do assassinato de Chico Mendes (22 de dezembro de 1988), Zuenir conversou com o EcoD sobre o legado do líder ambientalista. “O Chico (Mendes) foi realmente o protomártir dessa luta pelo meio ambiente, sobretudo pela preservação da Amazônia. Ela escreveu a questão amazônica na pauta da agenda mundial”, afirma.
Para o autor, embora haja uma maior consciência ambiental atualmente, pouco se avançou nessas duas décadas e meia na principal luta travada pelo líder seringueiro: a conservação da Floresta Amazônica. “Apesar de tudo [de Chico ter deixado uma grande lição e uma grande discípulo, Marina Silva] ainda há muito a se fazer pela preservação da Amazônia”, acredita ele.
“Ontem eu vi uma manchete afirmando que cresceu o desmatamento na Amazônia. Ou seja, tudo que ele não queria, tudo pelo qual ele morreu. Se por um lado hoje há uma consciência na sociedade – quando ele morreu ninguém sabia nem quem era ele direito – por outro lado há essa complacência com a destruição de nossas florestas”, completa Zuenir.
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