Evento foi realizado em outubro, em São Paulo
Foto: Divulgação / Fundação Itaú Social
A educação integral pressupõe um conjunto de estratégias para o desenvolvimento pleno do ser humano, a partir da ampliação de tempos, espaços e conteúdos de aprendizagem. Nesse sentido, reconhecer os conhecimentos adquiridos tanto na escola, quanto na cidade, na comunidade e no contexto familiar é condição fundamental para a construção de iniciativas de educação integral de qualidade.
As formas como os governos têm desenvolvido políticas públicas e programas com esse propósito são diversas e, em grande medida, recentes. Como verificar a efetividade dessas iniciativas, dados os resultados esperados das intervenções sociais e a diversidade de modelos adotados? Essas foram questões centrais do 12º Seminário Itaú Internacional de Avaliação Econômica de Projetos Sociais, realizado em 5 de outubro, em São Paulo.
As avaliações educacionais brasileiras de larga escala, como Prova Brasil e Provinha Brasil, são desenhadas para subsidiar análises de sistemas educacionais. No entanto, seriam as informações que estão sendo levantadas suficientes para verificar o impacto de programas de educação integral?
Natacha Costa, diretora do Centro de Referências em Educação Integral e participante de uma das mesas do Seminário, problematiza: “O que se consegue avaliar em larga escala são as competências específicas de disciplinas e, por isso, tendemos a transformá-las em nossos objetivos. Porém, essas métricas são muito limitadoras, não podem ser as guias de um projeto educativo contemporâneo. Precisamos pensar em métricas que considerem o contexto, os processos das escolas e as multidimensionalidades”, diz.
Redução das desigualdades
Um outro desafio a ser considerado pelas avaliações foi levantado, no evento, por Macaé Evaristo, secretária estadual de Educação de Minas Gerais. Os programas de educação integral buscam ampliar repertórios socioculturais e a capacidade de circulação inclusiva dos estudantes.
Esses objetivos têm como pano de fundo a redução das desigualdades sociais historicamente construídas no Brasil. Avaliar se estão sendo alcançados é verificar se os programas estão ou não contribuindo para a equidade. “Antes de avaliarmos seu desempenho, precisamos entender qual é o contexto em que os estudantes estão inseridos, o que provoca o abandono, se sofrem brutalidades, se estão se alimentando. Se os jovens não vão à escola, algum direito seu está sendo violado”, problematiza Evaristo.
Desafios metodológicos
Naercio Menezes Filho, especialista do Insper e da Universidade de São Paulo, participou do Seminário e comentou que as políticas de educação integral apresentam desafios metodológicos para avaliação. Afinal, normalmente, um único recorte de metodologia não é suficiente para dar conta da complexidade das iniciativas. “Podemos avaliar ações realizadas dentro e fora das escolas, como as disciplinas de sala de aula ou atividades culturais e esportivas, que desenvolvem habilidades sócio-emocionais”, diz.
“O grande desafio não é apenas mensurar se os projetos contribuem com o desenvolvimento dos alunos, mas que tipos de atividades trazem mais benefícios e que tipos de habilidades são mais impactadas. É uma grande diversidade de fatores e de resultados a serem analisados”, explica.
Experiência americana
Experiências americanas na avaliação de programas de educação integral também foram discutidas no Seminário. Barton Hirsch, da Northwestern University; Matthew Kraft, da Brown University; e Joshua Goodman, da Harvard University, apresentaram análises que conduziram nos Estados Unidos.
Hirsch e Kraft apresentaram estudos com propostas similares. Em After School Matters, Barton Hirsch analisou o resultado de atividades complementares para estudantes do ensino médio público de Chicago, conduzidas por instrutores selecionados, com foco em inserção no mercado de trabalho. “O desemprego é um risco iminente para esses jovens; prepará-los para lidar com as entrevistas de emprego e com os desafios do mercado de trabalho é um propósito importante abraçado pela rede de ensino”, explicou.
Com o desenvolvimento de competências como relacionamento interpessoal e autocontrole, os estudantes se saíram melhor nas simulações de entrevista de emprego realizadas por profissionais de Recursos Humanos – e isso foi muito valorizado no programa.
Matthew Kraft compartilhou sua experiência em Boston com o estudo How to Make Additional Time Matter, de tutoria individualizada para alunos do ensino médio que possuíam defasagem de aprendizagem. “Mais tempo, apenas, não resolve os problemas educacionais. Mas a forma como aproveitamos esse tempo, complementando as aulas tradicionais, é benéfica”, disse.
Equilíbrio problematizado
Ambas as pesquisas problematizam o equilíbrio, nos programas de educação integral, entre atividades que reforcem o desempenho acadêmico e que contribuam para o desenvolvimento social e profissional dos alunos.
Já Joshua Goodman apresentou uma proposta de complementação escolar para reduzir a reprovação e garantir a permanência de estudantes na transição do ensino fundamental para o médio. A estratégia propõe dose dupla de aulas de álgebra. “A maioria passou de ano e, com mais dados posteriores, descobrimos até que ingressaram e permaneceram mais tempo na faculdade”, concluiu.
Valorização crescente
O consenso entre os participantes do Seminário foi de que a educação integral está sendo crescentemente valorizada nos últimos anos; que o foco deve ser sempre o contexto de cada aluno; e que a as avaliações de programas e políticas de Educação Integral precisam responder aos desafios que essas iniciativas demandam, sinalizando melhorias e pontos de aprimoramento.
Participaram da programação do evento, também, Ricardo Paes de Barros (Insper), Helena Bomeny (Secretaria de Educação do Rio de Janeiro), Clarissa Teixeira e Karen Mendes (Fundação Itaú Social). Antonio Bresolin, Angela Dannemann e Patricia Guedes, da Fundação Itaú Social, mediaram as falas.
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