Schaeffer tem se dedicado a estudar possíveis cenários de mudanças climáticas no Brasil e como isso impactaria o setor energético nacional./Foto: Rodrigo Cancela
Estima-se que sejam emitidas anualmente em todo o mundo 45 bilhões de toneladas de dióxido de carbono (CO2) equivalente – medida métrica resultante da multiplicação das toneladas de gases de efeito estufa emitidos pelo seu potencial de aquecimento global. Enquanto o setor industrial responde pela maior quantidade de emissões globais, no Brasil o problema consiste mais no desmatamento oriundo do segmento agropecuário, como afimar Roberto Schaeffer, pesquisador brasileiro que integra o IPCC (Painel Intergovernamental da ONU sobre Mudanças Climáticas).
“Neste momento, nosso calcanhar de Aquiles é o setor agropecuário (responsável pelas emissões de metano) e o desmatamento produzido pela agricultura. Para não passarmos da meta dos 2ºC, temos que chegar ao fim do século com 80% menos de emissão de gases, com outra matriz de produção de energia e outra agricultura”, apontou o também professor do Programa de Planejamento Energético da Coppe/UFRJ durante o Forum on Science, Technology and Innovation for Sustainable Development, realizado nesta semana no Rio de Janeiro.
Nos últimos anos, Schaeffer tem se dedicado a estudar possíveis cenários de mudanças climáticas no Brasil e como isso impactaria o setor energético nacional. “Nossa parte mais vulnerável é o setor elétrico, em particular a grande dependência de usinas hidrelétricas. Hoje, 85% da geração elétrica brasileira deriva de usinas hidrelétricas. Quando fazemos uma projeção para 2035, mesmo levando em conta a ampliação do uso de outras fontes, dificilmente teremos menos que 75% da energia elétrica vindo de hidrelétricas”, observou o cientista.
Desmatamento para a criação de gado na Amazônia/Foto: leoffreitas
Em junho, o EcoD noticiou que o principal problema ambiental citado pelos brasileiros em uma pesquisa recente, do Ministério do Meio Ambiente, é o desmatamento de florestas (67%). Os demais são: a poluição de rios e lagoas (47%), a poluição do ar (36%), o aumento do volume do lixo (28%), o desperdício de água (10%), a camada de ozônio (9%) e mudanças do clima (6%).
“No entanto, no cenário que trabalhamos do que seria um sistema elétrico brasileiro com mudanças climáticas, vemos que há uma tendência de o Nordeste, hoje Semiárido, virar quase um deserto, e de a Amazônia passar por um processo de savanização”, alertou Schaeffer à Agência Fapesp.
Foco centralizado em hidrelétricas
O problema, segundo o pesquisador, é que a expansão esperada do setor hidrelétrico brasileiro se concentra na região Norte, com usinas a fio d’água, que geram energia com o fluxo de água do rio, não acumulando ou acumulando pouca água, sem reservatório.
“Dado que esse cenário de mudanças climáticas significaria talvez períodos secos ainda mais secos e períodos úmidos ainda mais úmidos, com usinas sem reservatórios é possível que possamos vir a perder até 30% de capacidade de geração hidrelétrica brasileira entre 2035 e 2040”, ressaltou Schaeffer.
Segundo o pesquisador, para o mercado não ficar desabastecido, o Brasil teria que instalar outras plantas que iriam repor aquela energia que a hidrelétrica não poderia gerar, como as térmicas, por exemplo. Seria necessário um investimento em torno de US$ 50 bilhões para fazer com que o sistema elétrico brasileiro se tornasse invulnerável a um cenário de mudanças climáticas”, projetou.
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