Marieta Severo está de volta ao palco do Teatro Castro Alves, onde vai apresentar a peça Incêndios, hoje e amanhã, às 20h e 19h, respectivamente. Na montagem, Marieta interpreta Nawal Maruan uma mulher que, ao morrer, deixa em seu testamento um pedido para que os filhos gêmeos Jeanne e Simon, interpretados por Keli Freitas e Thiago Marinho, encontrem o pai e um irmão que desconhecem.
O texto, passado entre os anos 1970/80, tem como pano de fundo a guerra civil entre cristãos e muçulmanos, que atingiu o Líbano naquele período. O autor do texto, escrito originalmente para os palcos e adaptado para o cinema em 2010, é o franco-libanês Wajdi Mouawad. O longa-metragem concorreu ao Oscar de melhor filme, mas perdeu o prêmio para o dinamarquês Em Um Mundo Melhor. Marieta, que também é coprodutora da peça, chama a atenção para um assunto abordado no texto, a intolerância e o ódio: “Depois das manifestações políticas no Brasil e do acirramento das discussões, a peça ficou ainda mais contundente. Vivemos este momento de ódio, raiva, com um lado querendo acabar com o outro”.
Foto: Joana Moura/Divulgação |
O texto de Incêndios aborda um assunto complexo, que é a situação política no Oriente Médio. Isso torna o texto hermético para a maioria do público?
É um texto poderoso, um clássico contemporâneo com muitas camadas e texturas. Fala de muita coisa contemporânea, de guerra civil, irmão matando irmão... Mas, tudo isso, sem posicionamento político. A plateia pressente que seja no Oriente Médio, pelos nomes árabes. Mas não precisa conhecer a história da guerra para se sensibilizar. O grande atrativo é aquilo que “arma” a história, mas de maneira clara, sem hermetismo.
A intolerância também é um dos temas da peça. Isso tem a ver com a atual situação do país?
Há três anos, quando a gente estreou, já tinha várias questões da peça acontecendo, inclusive no Brasil, onde a gente vive uma guerra civil camuflada, com número de mortos equivalente aos de uma guerra. Mas tudo aqui é debaixo do pano. Depois das manifestações e do acirramento das discussões políticas, a peça ficou ainda mais contundente. Vivemos este momento de ódio, raiva, com um lado querendo acabar com o outro.
Quais as características do texto que mais lhe atraíram para aceitar o papel?
É uma bela história, uma saga. Eu gosto da dramaturgia contemporânea, marcada por pequenas histórias. Mas Incêndios é uma grande história trágica, que passeia no tempo e espaço e Aderbal (Freire Filho, o diretor) seguiu brilhantemente. Fez a encenação com riqueza teatral e a história é contada de uma forma intrigante, em que o público vai montando um quebra-cabeça, preenchido aos poucos.
Como você conheceu o texto?
Felipe de Carolis (produtor) viu que tinha a peça e foi atrás dos direitos. Quando me mandou, fiquei encantada com o texto. Eu tinha visto o filme, anos antes, e vi a força que a peça tinha. Quem assistiu aos dois fala muito da carga de emoção, de como a peça intriga.
Marieta é Nawal Maruan mãe dos irmãos gêmeos Jeanne e Simon (Foto: Léo Aversa/Divulgação) |
O teatro tem público cativo no Brasil ou precisa ter atores de TV para atrair plateia?
Incêndios é um grande alento porque contraria todas as teorias teatrais de mercado. Não é comédia, musical, nem standup, que são muito populares. Nem é teatro de esquetes, mas o público comparece de maneira avassaladora. Vai na contramão das receitas de sucesso, até porque uma hora essas receitas ficam ultrapassadas, mas a qualidade teatral vai sempre atrair o público.
Além de atuar, como atriz, você também tem experiências como produtora e é dona de um teatro no Rio. Atuar como produtora torna seu trabalho mais “completo”?
Durante anos, produzi quase tudo que fiz porque a produção representa uma possibilidade de deixar seu próprio olhar. E a extensão máxima deste meu trabalho como produtora é o Teatro Poeira, em que minha sócia é a Andrea (Beltrão). Em Incêndios, somos três produtores: Felipe, Maria Siman e eu. Quando montamos Incêndio, não imaginávamos que seria esse sucesso avassalador. Depois do Rio, fomos para São Paulo, voltamos a cartaz no Rio por duas vezes e agora estamos em turnê em Belo Horizonte, Salvador e quatro cidades de São Paulo.
Embora seja baseada em um filme, a peça é uma outra experiência para o público?
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