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Manifestação

Movimentos negros pedem justiça pelo assassinato de Mãe Bernadete

Ativistas ligados a diversas entidades e movimentos negros também protestaram contra a violência policial

Redação iBahia • 24/08/2023 às 13:03 - há XX semanas

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					Movimentos negros pedem justiça pelo assassinato de Mãe Bernadete
Foto: Movimento Aquilombar

Movimentos negros se reuniram em frente à Igreja do Basílica Santuário do Senhor do Bonfim, na Cidade Baixa, em Salvador, nesta quinta-feira (24). No local, onde acontece a missa de sétimo dia da morte de Mãe Bernadete, o grupo pediu justiça e protestou contra a violência policial. A morte da ialorixá completa uma semana nesta quinta.

“Seguir a luta é a principal forma de manter viva a memória de Mãe Bernadete. É preciso uma apuração rigorosa, com a prisão dos mandantes e assassinos. Mãe Bernadete foi morta por lutar em defesa do seu território", disse Milena Oliveira, do Movimento Mulheres em Luta (MML).

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De acordo com os manifestantes, o ato faz parte também do dia nacional de luta contra a violência policial e o genocídio do povo preto.

“Estamos assistindo uma escalada da violência policial contra o povo preto e pobre em todo o país. A Bahia tem a polícia mais violenta do Brasil, apontam os dados do Anuário do Fórum Brasileiro de Segurança Pública. Ano passado, 1.464 pessoas foram mortas em ações policiais em nosso Estado. Isso tem que parar”, afirmou Matheus Araújo, do Movimento Aquilombar.

De acordo com o ativista, a polícia de segurança pública do governo da Bahia é ancorada em uma "falsa guerra às drogas, que virou a desculpa usada pelas forças de repressão para perseguir, prender e matar o povo preto, pobre e periférico".

O grupo também citou o levantamento da Rede de Observatórios de Segurança, "Pel Alvo: a cor que a polícia apaga", divulgado em novembro de 2022. O balanço aponto na época que uma pessoa negra foi morta pela polícia na Bahia a cada 24h, em 2021.

"É o extermínio da juventude pobre e negra sendo colocado em prática. Um verdadeiro genocídio”, completou o ativista do Movimento Aquilombar.

Em um panfleto distribuído durante o protesto, assinado pelo Movimento Aquilombar, Coletivo Rebeldia, Movimento Mulheres em Luta e Secretaria de Negras e Negros do PSTU, foram apresentadas algumas propostas. São elas:

- Implantação de câmeras de monitoramento em todos os polícias.

- Controle social das polícias pelas organizações populares, com direito a eleição de seus comandantes, garantindo o direito de sindicalização e greve aos policiais.

- Fim da falsa política de guerra às drogas.

- Revogação da Lei de Drogas de 2016.

- Descriminalização das drogas, para combater o narcotráfico.

O crime

O assassinato de Mãe Bernadete aconteceu no dia 17 de agosto de 2023, dentro do Quilombo Pitanga dos Palmares, na cidade de Simões Filho, Região Metropolitana de Salvador. Até esta quinta (24), ninguém foi preso. O caso é investigado por uma força-tarefa da Polícia Civil e também pela Polícia Federal.

O sepultamento da líder quilombola foi no dia 19 de agosto, no Cemitério Ordem 3ª de São Francisco, na Baixa de Quintas. O local foi escolhido porque o filho da ialorixá, Flávio Gabriel Pacífico dos Santos, mais conhecido como Binho do Quilombo, foi enterrado no local. Ele também foi assassinado na comunidade em 2017 e o crime pode ter relação com a morte de Mãe Bernadete.

De acordo com o neto da ialorixá, Wellington Gabriel de Jesus dos Santos, que presenciou o crime, a vítima achou que seria assaltada quando os criminosos invadiram a casa da família para cometer o assassinato. A versão foi dada no depoimento do jovem. Após o crime, a família deixou o quilombo.

No dia do crime, além de Wellington Gabriel de Jesus dos Santos, que tem 22 anos, Mãe Bernadete estava com outros dois netos: um de 13 e o outro de 12 anos. O jovem estava em um dos quartos da casa e os adolescentes com a avó, na sala. Foi um dos garotos que abriu a porta quando os criminosos bateram.

"É assalto?", perguntou Mãe Bernadete quando os dois homens armados, usando capacetes de motociclista, a renderam.

Ainda segundo Wellington, os homens pegaram o celular da avó e a mandaram desbloquear o aparelho. Eles também roubaram os celulares dos dois adolescentes e exigiram que eles fossem para um dos quartos da casa. Depois disso, um dos homens foi até o quarto onde Wellington estava e o mandou deitar no chão, usando uma expressão homofóbica. "Deite no chão, seu viado", exigiu. Ao sair do cômodo, o homem fechou a porta.

Em seguida, o jovem ouviu diversos disparos. Quando ele saiu do quarto, encontrou a avó morta no chão da sala, já morta. Nesse momento, Wellington usou o computador para usar o aplicativo de mensagens que estava aberto no equipamento para pedir socorro para outras pessoas que vivem no quilombo.

O jovem deixou os adolescentes com um vizinho e foi até o terreiro que era liderado por Mãe Bernadete e que fica dentro do Pitanga dos Palmares, para ligar para a polícia. Ainda segundo o relato do neto da ialorixá, os criminosos tinham entre 20 e 25 anos, eram negros e usavam roupas pretas, capas de chuva e capacetes. Eles entraram e saíram do quilombo usando uma motocicleta.

Wellington disse também que não existe conflito agrário envolvendo o quilombo e que não se recorda de inimizades ou ameaças recebidas pela avó. No entanto, ele mencionou que Mãe Bernadete tinha muitos medos. Especialmente após o assassinato do filho dela, que também é pai de Wellington, o "Binho do Quilombo". O jovem ainda relatou à polícia que Mãe Bernadete "pegava no pé" de um policial militar da reserva que mora perto do quilombo. Os dois teriam muitos desentendimentos.

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