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Acidente da TAM levou a mudanças na aviação brasileira

Treinamento dos pilotos e procedimentos de segurança foram modificados e reformas foram feitas no segundo aeroporto mais movimentado do país

Redação iBahia • 16/07/2017 às 15:25 • Atualizada em 01/09/2022 às 2:20 - há XX semanas

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Dez anos após o Airbus A320 da TAM cruzar a pista do Aeroporto de Congonhas, na Zona Sul de São Paulo, e chocar-se contra um prédio da companhia sem conseguir frear, causando a morte de 199 pessoas, a aviação mudou para tentar evitar outras tragédias. Treinamento dos pilotos e procedimentos de segurança foram modificados e reformas foram feitas no segundo aeroporto mais movimentado do país. A maior parte das famílias das vítimas do maior acidente aéreo da História do Brasil foi indenizada, mas o processo judicial que apura a responsabilidade de dirigentes da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) e da TAM não puniu ninguém até agora.

A capacitação dos pilotos ficou mais rigorosa. Em geral, os comandantes passam, todo ano, por duas séries de cursos em sala de aula, além de prova prática e no simulador. Foi incluída na rotina a manobra de levantar voo após tocar no solo (arremetida), que, segundo o Cenipa, poderia ter sido feita feita pelos pilotos do A320 para evitar a colisão.


A Airbus tornou obrigatória a instalação de um alarme, opcional na época da tragédia, que avisa aos pilotos quando os manetes estão em posições trocadas. Os manetes funcionam para os aviões como o câmbio para os carros. O Cenipa concluiu que, no momento da aterrizagem, um dos dispositivos estava na posição CL (climb, subir em inglês), quando deveria estar na posição Idle (espécie de ponto morto).

Em Congonhas, a área de escape nas cabeceiras foi aumentada, enquanto foi reduzido o tamanho teórico das pistas (aquele usado pelos pilotos nos cálculos para pouso). A pista auxiliar não pode mais ser utilizada para aterrizagens e, em 2013, uma reforma foi feita para impedir o acúmulo de água. O acidente aconteceu dias após relatos de derrapagens feitos por pilotos que pousaram no aeroporto em dias de chuva, o que gerou um clima de insegurança entre os comandantes. Um avião chegou a sair da pista.

"A primeira coisa que você pensa quando acontece um acidente desses é: 'poderia ter acontecido comigo'", diz o piloto Mateus Ghisleni, diretor de segurança de voo do Sindicato Nacional dos Aeronautas. "Quando se comenta muito que um aeroporto é perigoso, o grupo se preocupa. E mesmo quem é acostumado a voar pode sentir uma tensão. Esse sentimento diminuiu muito em relação a Congonhas, mas, na época do acidente, era grande".

Em nota, a LATAM, empresa formada pela fusão da TAM com a LAN, informou que adotou todas as recomendações do Cenipa e que “se solidariza com todos aqueles que foram afetados por este acidente”.

Localizado na rota de aproximação das aeronaves, um hotel de 11 andares continua interditado. Dono do imóvel, o empresário Oscar Maroni pretende pedir a liberação para a prefeitura e quer ser indenizado na Justiça. Ele tem um laudo da Aeronáutica atestando que o hotel não atrapalha a operação dos aviões.

"Fui um bode expiatório. Se o hotel realmente atrapalha o pouso dos aviões, como eles continuam pousando nesses dez anos?", pergunta Maroni.

O coronel aviador Fernando Silva Alves de Camargo, chefe da equipe do Cenipa que investigou o acidente na época, diz que os edifícios em volta do aeroporto respeitam limites máximos de altura para garantir a segurança da operação.

"Um leigo pode se assustar porque Congonhas é cercado por prédios, mas, do ponto de vista técnico, a pista é mais que suficiente", assegura.

Nos arredores de Congonhas, o prédio que pegou fogo deu lugar a um memorial em homenagem às vítimas de 2007. Mas, segundo vizinhos, acabou sendo abandonado pelo poder público. O espelho d’água tem um vazamento há pelo menos três anos, corrimãos e outras peças de ferro foram furtadas, um muro foi pichado, a iluminação passou a funcionar parcialmente e um carro da Guarda Civil Metropolitana (GCM) que ficava no local foi deslocado. A prefeitura informou que, desde janeiro, executa “ações de zeladoria, revitalização, manutenção e conservação”.

A maior parte dos reparos, porém, é feita por familiares. O empresário Beto Silva, de 61 anos, pai da comissária Madalena, chegou a comprar roupas de limpeza de piscina para aspirar o fundo do espelho d’água. Em entrevista ao GLOBO, na semana passada, mostrou fotos que revelam a deterioração da praça. Na sexta, estava no local colando 199 estrelas sobre os nomes das vítimas.

'Aquele dia ainda está vivo'
Um ano e meio após a tragédia, Silva saiu de Porto Alegre e se mudou com a mulher e a filha mais nova para um apartamento que fica a menos de um quilômetro do aeroporto.

"Não cheguei a ver esses dez anos passarem. Para mim, aquele dia ainda está vivo como se fosse agora. Lembro de deixar minha filha no aeroporto Salgado Filho e de ela me olhar da área de embarque com um sorriso largo. É a última imagem que tenho da minha filha", diz o empresário, que afirma ter 32 camisetas com a foto da filha.

Cada um tem seu jeito de lidar com a dor da perda. A administradora Silvia Masseran, de 57 anos, começou a pintar quadros há cinco anos. Em um canto da casa, ao lado de um banner com a foto de sua filha, Paula montou um ateliê onde já desenhou três telas em óleo em homenagem à jovem, que tinha 23 anos na época do acidente. São quadros de bailarinas, uma paixão de Paula.

"A gente gosta de homenagear nossos amados". diz Silvia, que se emocionou ao ver que um vizinho havia colocado, semana passada, orquídeas na amoreira, árvore que resistiu ao incêndio e fica no centro do Memorial. "A gente quer que brote vida aqui".


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