Um ato em frente à Assembleia Legislativa do Rio na tarde de sexta-feira (21) pediu respeito e solidariedade às pessoas com HIV/aids. A manifestação encerrou o segundo dia do 17º Vivendo, Encontro Nacional de Pessoas Vivendo com HIV e Aids organizado pelo Grupo Pela Vidda (Valorização, Integração e Dignidade do Doente de Aids) do Rio de Janeiro que completa 25 anos. O encontro que ocorre no prédio da Bolsa de Valores do Rio, no centro da cidade, termina neste sábado (22). Com apitos, cartazes e uma faixa vermelha criando o símbolo da luta contra a aids, os manifestantes criticaram o preconceito contra as pessoas portadora do vírus e as que desenvolveram a doença. Nas oficinas e palestras, as histórias de superação e de ativismo social alternavam-se com as de discriminação e ignorância sobre a aids. "Tive um amigo que me excluiu do Facebook, pois tinha medo que me relacionassem com ele e que seus amigos descobrissem que ele também era soropositivo", disse um dos participantes, Francisco Adalto, que é soropositivo há mais de 30 anos.Outros relataram ter perdido o emprego após informarem sobre sua sorologia no trabalho. O representante do Grupo de Trabalhos em Prevenção Posithivo, do Recife (PE), Marcus Fontes, citou o caso de uma assistente social que desejava trabalhar em uma organização não governamental (ONG ) voltada para pessoas com HIV/aids, mas temia sofrer preconceito de conhecidos. “Ela temia pela família, pois era do interior, e no interior o preconceito está muito arraigado”, disse.
Representante da União Voluntária de Apoio aos Soropositivos, Edvaldo Fernades, de João Pessoa (PB), destacou que no interior os casos de preconceito e discriminação são mais virulentos. “A maioria das pessoas que vem do interior para a capital, para o hospital de referência, já chega em estado grave. Se for para um posto de saúde municipal, no dia seguinte a cidade toda já sabe, e o preconceito é muito grande”, disse. A ativista Janette Alvim Soares já testemunhou pessoas falarem temer ficar na mesma casa com alguém portadora de HIV/aids, por medo de respirar o mesmo ar. “Tantos anos se passaram, quase 30 anos desde a epidemia de aids no Brasil, e as pessoas ainda não têm a informação, têm medo do abraço, de aperto de mão, de sentar no mesmo lugar”. Janette escreveu o livro Pássaros ainda Cantam em Minha Janela sobre sua vida após descobrir que tinha aids e hepatite C, e hoje trabalha apoiando e conscientizando as pessoas sobre o tema. Ela lamentou a incidência de aids entre os jovens. “Eles [jovens] estão banalizando o HIV/aids, achando que podem transar sem preservativo sem se contaminar com o vírus, bastando para isso tomar um remedinho. Eu tomo um coquetel [de remédios] há 18 anos, e não é fácil. Há doenças de longo prazo, como problemas cardiovasculares, hepáticos, mentais e vários outros”, disse. “É possível viver com aids e ter qualidade de vida, mas é muito melhor viver sem aids. Eu gostaria muito”. Para a infectologista da Gerência Estadual de DST/Aids da Secretaria Estadual do Rio de Janeiro, Marcia Rachid, o maior gargalo atualmente no Brasil no combate à doença está no trabalho de prevenção. “A partir do momento que temos medicamento gratuito, um protocolo que permite o tratamento precocemente, e ainda temos novos casos, significa que há pessoas que não se preveniram”, destacou. “A contaminação maior hoje é entre jovens de 19 a 25 anos, que não viram a epidemia de 30 anos atrás e se expõem e contaminam outros. Por isso, precisamos rever a estratégia da terapia de retroviral como controle da epidemia.” O diretor do Grupo Pela Vidda, Marcio Villar, lamenta que as políticas públicas para a causa tenham retrocedido do investimento à qualidade do tratamento e no acolhimento das pessoas que hoje vivem com HIV/aids. “Precisamos retomar o diálogo entre os movimentos sociais e o governo para tentar melhorar esse enfrentamento. Se olharmos do ponto de vista terapêutico, tivemos enorme avanço com as novas terapias e pesquisas. Mas a qualidade do tratamento caiu, faltam profissionais especializados para atender e tratar, há problemas no abastecimento que às vezes obriga o paciente a interromper o tratamento”, lamentou.
Com apitos, cartazes e uma faixa vermelha criando o símbolo da luta contra a aids, os manifestantes criticaram o preconceito contra as pessoas portadora do vírus e as que desenvolveram a doença |
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