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Quem estranha hoje no rock nacional a mistura de guitarra pesada com percussão de sotaque africano e afins? É tão comum que virou até fórmula de mercado. Mas, em 1986, a conversa era outra. O rock’n’roll brasileiro pós-Rock in Rio não queria experimentações. Ou era pós-punk, com letras de protesto social, ou total nonsense, com frescor e humor praiano muito bem-vindos. Por isso, quando saiu Selvagem?, terceiro disco dos Paralamas, foi um assombro. Mistura de rock com ritmos brasileiros e pegada reggae, dub e afrobeat, com reforço de Gilberto Gilcantando junto, como assim? Com isso, porém, Herbert Vianna, Bi Ribeiro e João Barone estabeleceram um novo parâmetro no rock brazuca feito no pós-ditadura. “Para Herbert, era preciso arriscar mais. Foi assim que ele começou a maturar composições inspiradas no mergulho que fizemos no reggae e na música africana”, relembra o baterista João Barone. Não à toa, o produtor e baixista Liminha escreveu que Selvagem? marcou “o início de uma nova era da música brasileira”. Causou estranheza até entre as outras bandas. O público, porém, recebeu bem: foram 750 mil cópias vendidas.
ECOS A Bahia foi o lugar que melhor recebeu Selvagem?: Alagados, carro-chefe do disco, teve 67 execuções somente no dia de estreia nas rádios. Um álbum tão importante que hoje, 25 anos depois, a banda montou um show dedicado a ele, com apresentações nos dias 24, 25, 29 e 30 de junho; e 1º e 2 de julho, em São Paulo. Curioso é que, naquele mesmo 1986, outras quatro bandas símbolos do nosso rock lançaram álbuns que também mudariam a sua história e a do mercado fonográfico nacional – que, naquela época, era pautado pelo grande sucesso comercial do gênero. Os Titãs receberam o primeiro disco de ouro com o pulsante Cabeça Dinossauro, uma porrada sonora e ideológica do pós-ditadura, que vendeu quase 400 mil cópias – apesar da censura à escatologia da faixa Bichos Escrotos.“ Cabeça é o disco que todo mundo mais gosta. É o meu preferido também”, diz o titã Sérgio Britto.
ÍDOLOS A Legião Urbana se consagrou definitivamente como voz da Geração Coca- Cola com o maravilhoso Dois, segundo álbum da banda de Renato Russo (1960-1996) e que bateu em 1,2 milhão de cópias. “Depois do Dois, abrimos várias possibilidades musicais, os violões entraram definitivamente em nossas canções... O lirismo rascante de Daniel na Cova dos Leões, o blues de Música Urbana 2, a leveza de Andrea Doria e acidez de Acrilic on Canvas. É um disco que mudou minha maneira de pensar em fazer discos, um disco que as pessoas ainda se lembram. Deve haver algo. Grandes canções”, pontua o guitarrista Dado Villa-Lobos. Enquanto isso, Paulo Ricardo e o RPM viviam dias de beatlemania com o fenômeno Rádio Pirata Ao Vivo, que vendeu impressionantes 2,2 milhões de cópias, puxadas por hits como Olhar 43 e Revoluções por Minuto. De volta à cena este ano, a banda está se dividindo entre shows e a gravação de um novo álbum, o primeiro de estúdio desde 1993. Mais modestamente, o Capital Inicial marcava seu território com o álbum homônimo, que trazia à luz algumas das composições mais punks do Aborto Elétrico, antiga banda de Renato Russo, gênese do rock de Brasília.