Nem os guias sabem atestar se a história é verdadeira, mas quase todo visitante ouve, pelas ruas de Brumadinho, a 56 quilômetros de Belo Horizonte: uma empresa mineradora adquiriu uma fazenda no local em meados do século XIX. E que coube a um inglês chamado Timothy a tarefa de cuidar do pequeno paraíso. Como em terras mineiras pouca gente termina a pronúncia de uma palavra, o nome do responsável foi minguando. Primeiro, Senhor Tim. Depois, na linguagem local, Nhô Tim.
Além das 22 galerias de arte, o Inhotim tem 20 km² de lagos |
A corruptela do nome do responsável pela fazenda acabou batizando o Instituto Inhotim, o maior espaço de arte a céu aberto da América Latina, com 140 hectares de área de visitação. A ideia surgiu na década de 80 com o empresário Bernardo Mello Paz. Em 2002, o instituto foi criado para conservar, expor e produzir trabalhos de arte contemporânea. As primeiras obras eram da coleção pessoal dele. Hoje, o Inhotim abriga 22 galerias e 18 delas têm mostras permanentes.
Aberto ao grande público desde 2006, o Inhotim recebe, por dia, cerca de 2 mil pessoas. Muita gente volta: é simplesmente impossível conhecer o lugar inteiro em um só dia. A menos que tenha fôlego de maratonista, não economize na pulseira que dá acesso ao carrinho por R$ 20. Veja algumas das obras pelas quais passeamos no Inhotim.
A instalação De Lama Lâmina, do artista americano Mattew Barney (Fotos de Clarissa Pacheco) |
De Lama Lâmina
O Carnaval de Salvador passou pelo Inhotim e deixou a marca. Escondido no meio de uma trilha, um domo gigantesco de aço e vidro abriga um trator florestal, antes usado para desmatar, e uma árvore branca esculpida em polietileno. A instalação De Lama Lâmina, do artista americano Mattew Barney, é o desdobramento de uma performance feita no Carnaval de Salvador em 2005, em parceria com os músicos Arto Lindsay e Lucas Santtana.
O Jardim de Narciso, instalação da artista japonesa Yayoi Kusama |
Jardim de Narciso
A instalação da artista japonesa Yayoi Kusama, cuja principal marca é a obsessão por pontos e bolas, é de 2009. Antes de instalar bolas espelhadas flutuantes no teatro Inhotim, ela fez o mesmo, clandestinamente, em 1966, na 33ª Bienal de Veneza, na Itália. A ousadia acabou se transformando na obra de maior expressão dela. No Inhotim, o Jardim de Narciso – tem este nome porque as esferas servem como espelho – foi instalado no teto do teatro. Lá de cima, a vista para o restante do parque é privilegiada.
Adriana Varejão tem uma galeria inteira: seis obras inquietantes |
Adriana Varejão
O trabalho da carioca Adriana Varejão também tem uma galeria no Inhotim. São seis obras inquietantes. A primeira delas retrata plantas alucinógenas. A segunda, chamada Linda do Rosário, impressiona pela riqueza de detalhes: paredes semidestruídas são preenchidas por esculturas de carne e órgãos humanos. A inspiração vem do desabamento do hotel Linda do Rosário, no centro do Rio de Janeiro, em 2002. No andar superior, a obra Celacanto Provoca Maremoto imita azulejos e faz muita gente querer montar o quebra-cabeça de anjos nas paredes.
O Som da Terra: ruídos captados a 200 metros de profundidade |
Pavilhão Sônico
Ponto mais distante da parte central do Inhotim. O Pavilhão Sônico, também chamado de Som da Terra, é uma obra do americano Doug Aitken. É como se o visitante entrasse numa nave. O pavilhão é circular, feito de vidro e aço, e transmite, em caixas de som espalhadas pelo seu interior, o som da terra. Os ruídos nunca se repetem e são captados por seis microfones introduzidos a 200 metros de profundidade através de um furo no solo do pavilhão.
Ao longo das caminhadas, não faltam bancos e bebedouros |
Natureza
Para além das 22 galerias de arte, a natureza no Inhotim é uma atração à parte. São 20 km² de área com lagos, mais de 5 mil espécies de fauna e a maior coleção de palmeiras do Brasil. Ao longo das caminhadas, não faltam bancos de troncos imensos de madeira para alguns minutos de descanso. No percurso também há bebedouros. Não será nenhuma surpresa cruzar com um pato ou qualquer outro animal do parque em meio à caminhada – eles entram até nos restaurantes, sem a menor cerimônia. Contato total com a natureza!
Esculturas do mural Abre a Porta imitam a rodoviária de Brumadinho |
Galeria Praça
No acesso a uma das galerias do Inhotim, esculturas gigantescas nas paredes chamam atenção de quem passa. O trabalho do americano John Ahearn e do porto-riquenho Rigoberto Torres imita a estação rodoviária de Brumadinho, cidade onde fica o Instituto Inhotim, e os folguedos religiosos locais. O mural escultórico Abre a Porta, de 2006, mostra uma procissão religiosa que acontece junto à igreja que fica dentro do Inhotim e próximo ao mural. Entre os personagens das esculturas estão funcionários do próprio local.
Bisected Triangle: aço e vidro geram imagens distorcidas e vertigem |
Bisected Triangle
À primeira vista, muita gente despreza o triângulo de aço e vidro de Dan Graham à beira do lago. Mas basta explorá-lo um pouco para descobrir como a obra do americano, instalada no Inhotim em 2002 e inspirada na arquietuta das habitações populares americanas pós-Segunda Guerra Mundial, é interessante. Do lado de dentro, os espelhos provocam imagens distorcidas e até uma sensação de vertigem. Do lado de fora, os mais curiosos verão que, em um dos vértices do triângulo, é possível fingir uma queda de tirolesa dentro do lago.
Galeria Cosmococa, de Hélio Oiticica e Neville D’Almeida: sensações da cocaína |
Galeria Cosmococa
Trabalho do artista Hélio Oiticica com o cineasta Neville D’Almeida. Para entrar, é preciso deixar os sapatos e pertences do lado de fora. Lá dentro, o visitante é convidado a viver cinco experiências relacionadas às sensações de usar cocaína. Nas paredes, projeções de discos de Jimi Hendrix. Os mais corajosos podem enfrentar um mergulho numa piscina com água a cerca de 14ºC. Em outras salas, a leveza das redes ou a sensação de “faltar o chão” num solo todo irregular.
Funcionamento: O parque e as lojas funcionam de terça a sexta, das 9h30 às 16h30. Aos sábados, domingos e feriados, o parque fica aberto das 9h30 às 17h30, enquanto as lojas ficam abertas até as 18h30. Há também dois restaurantes, um bar, um café e lanchonetes.
Ingresso: Às terças e quintas, o ingresso custa R$ 25 (inteira). Às sextas, sábados e domingos, R$ 40 (inteira). Nas quartas-feiras, exceto feriados, a entrada é gratuita. Também não pagam ingresso os amigos do Inhotim (inhotim.org.br) e crianças de até 5 anos de idade.
Distância: O Inhotim fica na cidade de Brumadinho, a 56 quilômetros de Belo Horizonte. Por isso, quem vai da capital precisa se programar para chegar cedo e não perder tempo no passeio. Saindo do Aeroporto de Confins, a viagem dura 2 horas e meia.
Onde ficarEstrada Real Palace Hotel: é o hotel que fica mais próximo do Inhotim, a 4 km de distância. Nota 7,3 no Booking. Diária a partir de R$ 200.
Pousada Villa da Serra: a 30 km do Inhotim. Nota 7,7 no Booking. Diárias a partir de R$ 170.
Tiô Isolda Artes & Hospedaria: a 36 km do Inhotim. Nota 9,2 no Booking. Diárias a partir de R$ 245.
Como chegarDe avião: Há voos diários de Salvador para Belo Horizonte. De lá, é preciso seguir de carro pelo Anel Rodoviário em direção a São Paulo e pegar o acesso à BR-381. Após o posto da Polícia Rodoviária Federal, segue-se até a saída do Km 501 para a MG-040. Daí, é só seguir para Brumadinho por mais 25 km. São em torno de 2 horas e meia de viagem.
De ônibus ou van: Há partidas todos os sábados, domingos e feriados da Loja Inhotim Savassi, na Rua Antônio de Albuquerque, 909, Funcionários, Belo Horizonte. Não é preciso agendar, mas a van é sujeita a lotação. A saída é às 8h15 e o retorno, às 17h30 e as passagens custam R$ 60 (ida e volta). Da Rodoviária de Belo Horizonte, há ônibus, de terça a sexta, da empresa Saritur, com saídas às 8h15 e retorno às 16h30. Aos sábados, domingos e feriados, o retorno é às 17h30. A ida custa R$ 23,90. A volta, R$ 23,45.
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