A morte de João Gilberto , neste sábado (6), aos 88 anos, coloca, claro, um ponto final ao processo de interdição do músico — que estava sob curatela da filha Bebel Gilberto desde 2017 —, mas dá início a um outro que promete dividir ainda mais a família: o do inventário de um dos maiores gênios da música brasileira.
Será um novo capítulo na série de batalhas judiciais entre Bebel e o irmão João Marcelo de Oliveira, que, nos últimos anos, disputavam o controle da vida e dos bens do pai entre si e com Claudia Faissol, mãe da filha caçula do músico.
Eles a acusaram de ter feito contratos judiciais prejudiciais, como o empréstimo com o banco Opportunity, pelo qual João Gilberto recebeu R$ 4,7 milhões, e a ajuda jurídica em uma briga ainda não definida contra sua ex-gravadora, a EMI, por royalties não pagos — dívida avaliada em R$ 173 milhões por um perito, em ação vencida por João em segunda instância, mas que ainda cabe recurso.
Agora, os advogados de cada parte aguardam o sepultamento do músico (hoje, no cemitério Parque da Colina, em Niterói, em cerimônia reservada apenas aos familiares, logo após o velório aberto, às 9h, no Teatro Municipal) para dar suas próximas cartadas.
— Bebel está muito abalada, ainda não conversamos sobre as estratégias que adotaremos. Ela não está com capacidade de elaborar as próximas medidas. A família do Nordeste está vindo, e estamos dedicados ao sepultamento — diz Simone Kamenetz, advogada de Bebel.
Gustavo Miranda Carvalho, que representa João Marcelo, afirma que o músico manifestou um desejo antes de morrer.
— Disse que o sonho dele era morar em Nova Jersey com João Marcelo e Maria do Céu —, afirma o advogado, referindo-se à companheira do compositor.
Maria do Céu Harris, aliás, apareceu ao lado de João Gilberto, dias atrás, naquela que foi a última imagem dele divulgada em vida. A foto foi publicada no Facebook da neta do compositor, Sofia Gilberto, de três anos, filha de João Marcelo, com a seguinte legenda: “Meus amores: vovô, vovó e o violão”. Nos meses que antecederam a morte de João, o perfil da menina foi uma rara janela para a intimidade do recluso gênio da música brasileira. Mesmo sem fazer praticamente nenhuma aparição pública, o compositor baiano teve sua intimidade divulgada na página da menina, controlada por seus pais, João Marcelo e Adriana Magalhães, e dedicada a mostrar fotos e vídeos musicais da filha voltados para a internet.
Poucas horas depois que o falecimento de João foi anunciado ao mundo (também via página da neta), uma imagem dele jantando na churrascaria Mariu’s, no Leme, foi divulgada por Gustavo Carvalho Miranda, que aparece a seu lado junto com Maria do Céu.
Simone Kamenetz, advogada de Bebel, critica o que classifica de “superexposição” e de “circo”.
— João não tinha saído para jantar, mas para fazer um exame a pedido do perito do processo de interdição. Eles se aproveitaram da situação — afirma Simone. — Há uma diferença entre a pessoa que fica sentada no computador digitando o que quer e a outra, que não tem tempo porque trabalha muito e cuida do pai. O silêncio da Bebel não é porque não tem nada a dizer, mas porque não podia ficar gastando energia nesse circo que fizeram em torno dele nos últimos dias.
Gustavo rebate.
— Nossos clientes são Maria do Céu e João Marcelo, que autorizaram amplamente a divulgação — comenta. — Sobre qualquer crítica, eu e meus sócios estamos à disposição para maiores esclarecimentos.
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Redação iBahia
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