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Objeto foi encontrado após moradores ouvirem barulho |
Um objeto que caiu do céu e assustou moradores de duas cidades do Maranhão na quarta-feira de Cinzas é provavelmente um tanque de um foguete utilizado para lançar satélites ao espaço, afirmou o astronauta brasileiro Marcos Pontes. O globo metálico foi encontrado por moradores de um povoado de Anapurus, a 280 km de São Luís, onde caiu a 6 metros de uma casa. A FAB (Força Aérea Brasileira) informou que vai investigar a origem do objeto. A reportagem consultou especialistas em engenharia aeroespacial que afirmam haver grande possibilidade de a peça ser lixo espacial, assim como um pesquisador espacial ouvido pela agência russa Ria Novosti. Um centro de estudos espaciais americano previa a reentrada de um fragmento de foguete no dia 22 de fevereiro na atmosfera terrestre, próximo ao local onde a peça foi encontrada. Segundo Pontes, que viu as imagens, "pelo tamanho, pelo aspecto, parece um tipo de um balão, um reservatório de algum tipo de combustível para controle de atitude [posição] de foguete ou de satélite", avalia o primeiro brasileiro a viajar para o espaço, em março de 2006. "Foguete é mais provável ainda. É a possibilidade mais plausível." Segundo Pontes, "os tanques de nitrogênio [material usado para movimentar as válvulas de controle de combustível para foguetes de propulsão líquida] quase todos têm esse formato. Um globo é o mais lógico para manter pressão alta, como uma bolha de sabão, que fica esférica, com pressão para todos os lados. É a melhor forma de distribuição de energia", explica. A Aeronáutica informou na tarde desta sexta-feira (24) que técnicos do Centro de Lançamento de Alcântara, no Maranhão, foram até o local buscar a peça. Alvoroço O objeto, encontrado por um morador do povoado de Moraes, provocou alvoroço também entre os 10 mil habitantes de Mata Rosa, município vizinho. José Valdir Mendes, 46 anos, afirmou que a peça, do tamanho de um botijão de gás, com mais ou menos 30 kg, é oca e deixou um buraco de cerca de 1 metro em seu quintal. “Escutei o barulho, tremeu até a perna. Fui olhar o que era. Pensei que era um avião que tinha caído, ou um terremoto”, contou. “Foi um alvoroço enorme aqui. Alguns com medo e receio com aquela história de 2012. Outros dizendo que era ‘alien’. Mas creio que é uma peça de satélite que caiu do espaço mesmo”, afirmou o professor Max Mauro Garreto, 25, morador de Mata Roma. Internautas também enviaram suas hipóteses para o mistério: seria a bola um babaçu gigante, comum no estado? Uma bola que caiu da árvore de Papai Noel? A barriga da falsa grávida do interior paulista ou um ovo de coruja? Uma bola de um gol perdido do jogador Deivid ou um pênalti batido por Elano na Copa América? Alguns reclamaram ainda que o objeto errou o alvo e deveria ter caído em Brasília e muitos têm a mesma opinião de especialistas: seria um tanque de combustível de um foguete. Lixo espacial A agência de notícias russa Ria Novosti repercutiu o caso nesta sexta (24) e, segundo um especialista ouvido, a peça pertenceria a um foguete da família Ariane do consórcio espacial europeu Arianespace, responsável também pelo russo Soyuz e o italiano Vega. O foguete é lançado da base de Kuru, na Guiana Francesa, para colocar satélites em órbita. A informação foi divulgada no site em francês da agência, que entrevistou o pesquisador espacial Igor Lissov. "Pode-se afirmar com alto grau de probabilidade que o balão esférico descoberto no estado do Maranhão é um fragmento do terceiro estágio do lançador europeu Ariane-4 lançado em 1997 do centro espacial de Kourou", disse Lissov. Segundo ele, comunicados entre pesquisadores norte-americanos confirmam a informação. Trajetória A possibilidade de a peça pertencer a um foguete se explica, segundo Marcos Pontes, também pelo local onde o objeto metálico caiu e pelo estado em que foi encontrado. "A trajetória dele fica mais para o norte, ou seja, a peça teoricamente cairia no meio do oceano Atlântico. Seria mais provável. Mas pela proximidade, pode até ser de ele chegar por ali, no Maranhão", diz Pontes. Além disso, explica ele, o foguete "sai do zero e passa por diferentes velocidades na atmosfera". "Esses objetos que estão no espaço em órbitas baixas, com o tempo vão perdendo velocidade e começam a reentrar. Sendo de um foguete, ele teria menos chance de queimar totalmente nessa entrada." No Brasil, especialistas em engenharia aeroespacial afirmam que é difícil ter certeza absoluta sobre a origem da peça, mas que se trata, pelas circunstâncias, de lixo espacial. Segundo o coronel aviador da reserva Sebastião Gilberti Maia Cavali, que foi chefe da Divisão de Projeto Departamento de Ciência e Tecnologia Aeroespacial da Aeronáutica, não é uma peça de avião. “De avião não é. Há várias hipóteses de ser um lixo espacial. É um reservatório de alguma coisa, de combustível, isso é certeza. Pode ser um lixo espacial de satélite ou de foguete, ou também podia estar em um balão, pode ter caído de algum outro equipamento”, diz. De acordo com a Agência Espacial Europeia, os foguetes Ariane possuem tanques de combustível de titânio com um propelente chamado Hidrazina (N2H4). A imagem à esquerda é de um tanque do Ariane 5, um foguete que substituiu o Ariane 4. O G1 entrou em contato com a Arianespace para saber se a peça pertence ao foguete, mas ainda não obteve retorno. O astronauta brasileiro afirma que a hidrazina é um dos combustíveis utilizados em propulsão mais fina, de foguetes pequenos, e poderia estar presente na esfera encontrada. "Mas é improvável, porque essa substância é usada geralmente só no espaço para mudar nesses foguetes. Se fosse, seria extremamente tóxica. Se quem mexeu não começou a ter reações sérias na pele em 15 minutos, provavelmente não é." Local de queda Segundo um centro de estudos americano especializado em lixo espacial, havia previsão de que fragmentos do foguete Ariane 4 readentrassem a atmosfera terrestre no dia 22 de fevereiro às 5h22 (horário de Brasília de verão) em qualquer um dos pontos nas linhas azul e amarela do mapa: A Nasa possui um programa específico de monitoramento do lixo espacial e um manual em seu site alertando sobre esse tipo de material (veja aqui em inglês). Segundo a agência, existem hoje milhares de objetos orbitando em torno da Terra e outros milhões muito pequenos para serem rastreados, uma verdadeira poluição espacial. A grande maioria se deteriora ao retornar à atmosfera, outros objetos, não. No Brasil, outra bola metálica caiu no município de Montividiu, em Goiás, em março de 2008, a 150 metros de uma casa. Dias depois, outro objeto despencou do céu, dessa vez na Austrália. E em dezembro de 2011, uma esfera caiu em uma região desabitada na Namíbia, país no sul da África. Segundo a agência espacial americana, porém, a chance de ser atingido por um desses objetos de uma em um trilhão.