Desde o surgimento da Covid-19, a doença causada pelo novo coronavírus, cientistas vêm suspeitando de que casos assintomáticos de contágio tem papel importante. Um estudo publicado nesta quinta deu números a essa preocupação: os portadores sem sintomas são responsáveis por dois terços das infecções.
A estimativa é de um grupo de cientistas chineses e americanos, coordenados pela Escola de Saúde Pública da Universidade Columbia, de Nova York. Em estudo na revista Science, eles mostram que, apesar de os pacientes que desenvolvem a doença serem duas vezes mais contagiosos, os assintomáticos são seis vezes mais numerosos mesmo com propensão menor a infectar outros, acabaram se tornando o motor que move a epidemia.
Os números foram tirados da análise dos casos registrados em Wuhan, epicentro da epidemia na China, antes de a cidade impor seu toque de recolher, em 23 de janeiro. Naquele contexto, os portadores assintomáticos do vírus representavam 86% dos casos, estimam os cientistas.
"A explosão do número de casos de Covid-19 na China foi amplamente impulsionada por indivíduos com sintomas amenos, limitados ou ausentes, que passaram despercebidos", afirmou Jeffrey Shaman, da Escola de Saúde Pública da Universidade Columbia, de Nova York, que liderou o estudo.
Dependendo de sua capacidade de contágio e de sua quantidade, os casos não detectados podem expor uma parcela muito maior da população ao vírus do que ocorreria de outra maneira", completou o cientista. "Descobrimos que a Covid-19 na China, esses casos não detectados de indivíduos infectados são numerosos e contagiosos. Essas transmissões ocultas continuarão representando um grande desafio para a contenção dessa epidemia em andamento."
A suspeita de que os casos assintomáticos eram o motor da epidemia foi levantada já no começo do surto da Covid-19, mas ainda não é um consenso entre cientistas.
Simulação de computador
Em fevereiro, questionada sobre se os casos notificados eram apenas a "ponta do iceberg" da epidemia, a OMS (Organização Mundial de Saúde) resistiu a endossar a informação. Segundo a entidade, a China já havia testado muitos casos assintomáticos em amostras coletadas de pessoas abordadas para uma varredura de vigilância contra outras doenças, sem detectar grande circulação do novo coronavírus.
A qualidade dessas amostras e a probabilidade de resultados falsos negativos em pacientes assintomáticos, porém, não tinha sido levada em conta.
Para estimar os casos assintomáticos agora, o grupo de Columbia e seus colaboradores, que inclui instituições chinesas, usou um modelo de simulação computacional que cruzou dados de incidência da doença com dados de mobilidade de pessoas na China para comparar os períodos antes e depois da restrição de circulação, que foi eficaz em frear o crescimento do surto.
Com o resultado do estudo, agora, há instituições americanas, chinesas e britânicas de pesquisa questionando a esperança de que os casos assintomáticos não fossem tantos.
Shaman foi instado a trabalhar com o novo coronavírus porque seu grupo de pesquisa já vinha há anos trabalhando com outros quatro coronavírus conhecidos, que causa resfriados e viremias com sintomas mais leves. Este patógeno, diz, pode se juntar à família de modo permanente.
"A elevada consciência sobre o surto, o aumento no uso de medidas de proteção pessoal e a restrição de transporte ajudaram a reduzir a força total da infeção, mas não está claro se essa redução será suficiente para cortar totalmente a disseminação do vírus", diz Shaman. "Se o novo coronavírus seguir o padrão da pandemia de gripe H1N1 de 2009, ele também vai se espalhar globalmente para se tornar um quinto coronavírus endêmico dentro da população humana."
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Redação iBahia
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