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Realidade que choca: Socióloga realiza pesquisa sobre exploração sexual de meninas nas estradas baianas

Marlene Vaz observou no município de Candeias, um prostíbulo onde meninas, com idade entre 8 e 14 anos, eram exploradas sexualmente por empregados de uma refinaria da Petrobras

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01/10/2010 às 10:28 • Atualizada em 29/08/2022 às 14:49 - há XX semanas
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A exploração sexual contra crianças e adolescentes é uma das faces mais tristes e cruéis da desigualdade social. O problema não pode ser banalizado, muito menos encarado como mais um em que as pessoas acreditam que nada mais pode ser feito. É uma forma de violência gravíssima que marca o retrato social brasileiro.A socióloga Marlene Vaz realizou, no ano de 2007, uma extensa pesquisa sobre a exploração sexual comercial contra meninas nas rodovias do estado da Bahia. Intitulado A identidade dos caminhoneiros, o estudo apresenta um aprofundamento nas vidas e personalidades dos caminhoneiros e na situação em que essas meninas vivem, a ponto de trocarem o corpo por um prato de comida.No ano de 1974, durante a realização de um trabalho sócio-econômico para o IBGE, Marlene observou no município de Candeias, um prostíbulo onde meninas, com idade entre 8 e 14 anos, prestavam serviços sexuais para empregados de uma refinaria de petróleo. As meninas eram levadas por caminhoneiros, tanto da capital, quanto dos municípios dos interiores da Bahia e de Sergipe.Diante disso, a pesquisadora começou a realizar estudos sobre a exploração sexual comercial infantil. Entre 2003 e 2005, entrevistou caminhoneiros em postos de combustível, e a partir daí, afirma ter percebido um novo paradigma sobre a violência sexual cometida por eles. Segundo ela, eles precisavam ser olhados não apenas como transgressores da lei, mas também estudados e analisados como seres humanos.O Governo do Estado da Bahia, através da Secretaria de Desenvolvimento Social e Combate à Pobreza, em parceria com a Universidade Federal da Bahia, decidiram promover uma pesquisa sobre o profissional caminhoneiro, para planejar ações práticas de prevenção contra a exploração sexual comercial nas rodovias e nos postos de combustível. E Marlene Vaz foi a realizadora do trabalho.Exploração Sexual Comercial - Quando os agenciadores vendem o corpo de crianças e adolescentes, com ou sem consentimento, para obter lucros no mercado do sexo, ou quando exploradores (clientes) pagam por esse corpo em troca de relações sexuais.Durante a pesquisa, Marlene viajou pelas estradas baianas, passando por diversos municípios. Conviveu com os caminhoneiros em postos, conversou com meninas, e presenciou cenas tristes. Ela conta que as próprias meninas procuram os caminhoneiros, pedem ajuda para saírem da cidade, por conta do estado de pobreza em que vivem. Eles então, as levam para outros lugares e as deixam em prostíbulos nas estradas, além de manterem relações sexuais com elas.Marlene ressalta que não significa que pelo fato das meninas irem atrás, os caminhoneiros devam levá-las. "O adulto tem que saber qual é o limite entre o seu corpo e o corpo de uma criança. A responsabilidade é dele. Observei que quanto mais uma menina está vulnerável, onde ela está com medo, ela se mostra mais sensual. Porque elas aprenderam com o modelo que hoje é mostrado que o corpo é sua arma. Portanto, quanto mais insegura ela se sente, mais sensual ela se mostra. É a alternativa que elas encontram”, afirma a socióloga.O estudo demonstra que a principal causa da exploração sexual comercial de meninas é a pobreza. Mesmo que muitos afirmem que a causa não é essa, pelo fato de jovens da classe média buscarem ganhos com o corpo para adquirir bens de consumo supérfluos e caros, as meninas em rodovias que se deitam com caminhoneiros vivem abaixo da linha da pobreza, e propõem a troca de sexo por alimento. "Elas estão ali porque estão com fome. Já vi muitas delas em baixo das mesas esperando o caminhoneiro terminar sua refeição para comer o resto da comida"."Vi uma menina batendo no caminhão, ela entrou, ficou lá algum tempo e depois desceu com uma lata de sardinha na mão. O pai estava no posto. Fui falar com ele e perguntei o que sentia vendo a filha descendo dali. Ele indagou: 'Dona, quem troca o corpo por uma lata de sardinha é prostituta?'". A maioria das jovens são analfabetas. Elas vivem em situação de miséria, não têm informação e muito menos perspectiva de vida. É um problema social gravíssimo, que precisa ser prevenido e solucionado.Analisando o outro lado do contexto, a pesquisadora fez um vasto estudo sobre os caminhoneiros, relatando gostos, formas de pensamento, complexos e percebeu que as políticas públicas, que devem ser implantadas em combate a essa situação, precisam direcionar muitas ações para esses homens. A maioria deles tentam fugir da responsabilidade e buscam outros responsáveis."Nós precisamos trabalhar políticas públicas que eliminem todas essas possibilidades, em que os caminhoneiros buscam culpados. Porque aí a culpa já é da mulher, da menina. Eles ficam muito solitários, passam meses longe da família, e isso também se torna outra justificativa’’, ressalta Marlene.Os postos são como a segunda casa desses trabalhadores. Nestes lugares, eles passam a maior parte do tempo. Lá eles descansam, fazem as refeições, assistem TV e tomam banho. Porém, essa segunda casa não é tão cômoda assim. Deveria ser, mas não é. Os banheiros que utilizam são precários, além de serem maltratados, com preconceito. Eles afirmam ser vistos como homens sujos e burros."Qualquer trabalho de pesquisa deve olhar à luz dos direitos humanos, e eles também não têm direitos. Os caminhoneiros se queixam muito sobre isso. Muitos não viajam mais com as famílias por conta de assassinatos nas estradas. Certa vez, o caminhoneiro mostrou o banheiro em um posto onde ele foi tomar banho. A água suja alcançava o joelho, por conta do entupimento nos ralos".

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